Kennia Santos | @LendoDePijamas 30/10/2016Jennifer Niven, você roubou meu coração. (De novo)Jack Masselin tem prosopagnosia, uma doença neurológica rara que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Todos os dias acorda e não reconhece o rosto que o encara de volta no espelho. Não reconhece as pessoas com quem mora em casa, sua família. E ninguém sabe disso. Nem sua família, seus amigos, ou sua quase namorada. É considerado o bam-bam-bam da escola, bonito, sempre com os populares, namorado da garota mais disputada.. como ele esconde a doença? Identificando as pessoas através de aspectos não-faciais, como cabelo, cor da pele, e voz.
Libby Strout foi considerada a Adolescente Mais Gorda dos Estados Unidos. Literalmente. Após perder sua mãe por um aneurisma repentino, aos 10 anos de idade, a garota perdeu seu rumo da vida, começou a ter crises de pânico e ansiedade e a temer a morte a cada segundo. Descontou tudo isso na comida, e chegou a pesar 296 kg, ficar presa em casa, deitada, mal conseguindo mexer o pescoço sozinha, até precisar ser resgatada de casa, onde uma parede foi completamente destruída para que a garota fosse retirada de lá por um GUINDASTE. Isso mesmo, você leu certo.
Agora, após perder quase 140 kg, e passar anos estudando em casa, ela vai enfrentar o Ensino médio. Pessoas. Pessoas más.
Mas ela se recusa a baixar a cabeça, afinal, como ela diz: "NÃO PERDI QUASE 140 KG E DEIXEI DE COMER PIZZA E BOLACHA PARA SER HUMILHADA".
Quando os caminhos de Jack e Libby se cruzam, de forma NADA amigável, tudo indica que os dois irão se bicar o tempo todo, afinal tal situação é totalmente humilhante.
Mas Jennifer Niven, com sua magia expressada através da escrita, bagunça tudo, e quebra nosso coração, mais uma vez.
Os pontos de vista são alternados entre Jack e Libby, a maioria dos capítulos são curtíssimos, mas foi realmente uma sacada genial, e você vai entender o motivo quando ler.
Recebi o exemplar de prova da Editora Seguinte, e logo entrei em pânico, porque a princípio, não estava muito "contagiada". Apesar de a escrita continuar linda, não estava conseguindo sentir aquela conexão com a história. Mas, o que eu não levei em consideração, foi que, a Jennifer fez uma abordagem diferente de seu outro livro. Em "Por lugares incríveis", Violet e Finch têm uma interação instantânea devido às situações pessoais similares pelas quais passam. Em "Juntando os pedaços", Jennifer Niven primeiro nos apresenta o mundo individual de cada personagem e seus dilemas, para depois fazer uma encruzilhada entre eles.
No caso da Libby, encontramos uma garota acima do peso que teve que aprender a lidar com preconceitos, maus olhares, pena e perdas. Mas mesmo mediante isso, não deixa seus sonhos se apagarem, sua paz se esvair. Que não se deixa intimidar por padrões. Sempre sonhou em ser bailarina, então dança sempre que pode, e vai se inscrever para a seleção de líderes de torcida diante de gargalhadas e vaias, porém, sorri de volta e devolve um olhar de: "E daí?"
E Jack, um garoto que sempre se escondeu dentro de si, com muros tão altos que ele mesmo teme não poder derrubar. Que sempre foi o que as pessoas quiseram que ele fosse, sempre fez o esperado, disse o desejado, aparentou um bem-estar de espírito inexistente. Sempre se focou tanto na aparência que teme perder sua própria alma. Não tem objetivos, ou perspectivas para o futuro, pois sua doença o incapacita de ser normal. Mas o que ele não sabe? Que o normal, é muito chato. E que as coisas vão muito além de reconhecimento alheio e aparência.
Adivinha quem vai ensiná-lo isso da forma mais contraditória e linda possível?
Esse livro vai te fazer rir, chorar, suspirar, refletir.
Me abriu os olhos, permitindo-me ver caminhos cujos eu não sabia da existência, e possibilidades que eu nunca levei em consideração.
Eu estava em pedaços, tão pequena, tão quebradiça, tão insignificante, e esse livro me juntou. Cada pedacinho de mim.
O que eu aprendi? Que alguém gosta de mim. Que meu corpo não muda quem sou. Que eu sou importante. Que não preciso ser perfeita o tempo todo. Que eu não sou uma aberração. Que chorar não me torna fraca. Que meus sonhos não são inalcançáveis. Que alguém precisa de mim. Que eu faço diferença. Que eu tenho o poder de mudar. Que padrões não me definem. Que julgamentos não devem me abalar, porque sou melhor do que isso.
Meu amigo, preciso te dizer algo:
Você é amado. Você é importante. Você é luz. Você não é só mais um, você é único. Imperfeições e diferenças não te tornam um zero à esquerda. Você é maravilhoso. Incrível. Magnífico. Você brilha tanto, mas tanto, que nem mesmo a escuridão mais assustadora e obscura pode te ofuscar, a não ser que você permita. Me faça um favor? Não permita.
Você, eu, nós, fazemos diferença.
Não podemos ter medo de deixar o castelo. Tem um mundo enorme e maravilhoso nos esperando. Vamos aproveitá-lo. Me dá sua mão, vem comigo. Vamos.
Você não está sozinho. Alguém gosta de você.
Não é "só mais um livro".
Existem aqueles que curam com remédios.
Livros curam com palavras.
Obrigado por existir, Jennifer Niven.