Queria Estar Lendo 25/06/2017
Resenha: Juntando os Pedaços
Juntando os Pedaços é o segundo livro da Jennifer Niven -- autora de Por Lugares Incríveis -- publicado aqui no Brasil no começo de 2017 pela editora Seguinte e cedido em parceria para essa resenha.
Juntando os Pedaços é um livro diferente do que eu estava esperando, porque se eu for sincera, depois de Violet e Finch e Por Lugares Incríveis, eu estava pronta para me apaixonar e chorar muito. Mas não foi assim que aconteceu, muito pelo contrário. Foi como se o meu coração se enchesse de raios de sol enquanto eu lia esse livro -- e, se você perguntar ao Jack, tenho certeza de que ele vai te dizer que esse é meio que um efeito de passar muito tempo com a Libby.
A história começa no primeiro dia de volta as aulas, que também é o primeiro dia na escola para a Libby em mais de cinco anos. Porque a Libby costumava ser a adolescente mais gorda dos Estados Unidos e teve que ser resgatada da própria casa. Ela perdeu a mãe de forma muito repentina quando tinha dez/onze anos e o impacto dessa perda foi muito profundo. É algo com o que a Libby luta até hoje.
"Só as pessoas pequenas -- pequenas por dentro -- não aguentam o fato de alguém ser grande."
Do outro lado da história tem o Jack, que sofre de prosopagnosia, uma síndrome que faz com que seja impossível para ele reconhecer rostos, mesmo o rosto das pessoas que ama. Cada vez que ele desvia o olhar, é como se voltasse para uma pessoa completamente diferente. E Jack sabe como o ensino médio pode ser cruel, então ele decidiu que ia ser mais cruel ainda. Se os seus colegas soubessem de sua doença, ele rapidamente viraria um pária, então é melhor ser o caçador do que a caça.
A forma como os dois se aproximam não é inusitada para livros young adult, mas a forma como desenvolvem o relacionamento e como isso os ajuda a lidar com os próprios demônios é aquele toque especial que só quem já leu algo da Jennifer Niven pode entender.
Apesar dos temas que a Jennifer aborda, ela sempre dá um jeito de fazer a história ficar leve e fluida, uma forma de você se identificar loucamente com os personagens, por menos que tenham em comum.
Eu pude completamente me relacionar com a atitude de Jack de machucar o mundo primeiro para impedir que ele o machucasse, me relacionei até mesmo com a forma que a Carolina se apresentava para o mundo para mascarar a insegurança. Mas acho que a verdadeira estrela do livro é a Libby, que rouba todos os holofotes.
"Muitas pessoas nesse mundo acham que o pouco que fazem é o máximo possível. Você não, Libby Strout. Não nasceu para coisas pequenas! Não tem nada de pequeno em você!"
Ela já esteve em uma situação de vida e morte, ela já afundou em depressão, ela tem medos muitos comuns -- e se eu deitar aqui agora e nunca mais acordar? O que pode acontecer de uma hora para outra? -- e ela ainda precisa lidar com as pessoas que escolhem odiá-la simplesmente por ser gorda.
Mas o melhor de tudo é que a Libby não se deixa abater -- por muito tempo, ao menos -- com esse tipo de coisa. Ser rejeitada e destratada dessa forma pelos colegas faz com que ela se sinta mal, claro, mas faz com que ela escolha também. Escolha devolver ódio com amor, escolha viver, mesmo que muita gente lhe diga que não vale a pena. A Libby teve muito tempo para pensar na vida enquanto estava presa na cama, antes de ser resgatada, e uma coisa que ela percebeu é que só tem o agora.
A única garantia que a gente tem na vida é o agora e não dá para ficar esperando você ser magra/bonita/rica para viver e fazer as coisas que você quer, ser a pessoa que quer ser. Ser feliz.
"(...) estou confortável assim. Talvez eu perca mais peso. Talvez não. Mas o que as pessoas tem a ver com isso? Quer dizer, desde que eu não sente em cima delas, quem se importa?"
Então ela ergue a cabeça e segue em frente, porque apesar do que todo mundo diz ela importa, existe alguém que gosta dela e ela não precisa ser como você quer para ser feliz. Ela só precisa ser quem ela quer ser. A Libby não fica esperando que alguém venha resgatá-la ou passar a mão na sua cabeça, muito menos que a tratem como vítima de qualquer coisa. A Libby faz acontecer.
Sem contar que o romance que começa a se desenvolver é fofo e querido, nascendo de uma compreensão mútua e um toque de amizade. Jack e Libby se divertem quando estão juntos, entendem um ao outro e provocam sorrisos involuntários nos leitores.
"Ele fica falando minha filha como se quisesse dizer ELA É MINHA FILHA, SANGUE DO MEU SANGUE. VOU MATAR VOCÊ SE FIZER ALGUMA COISA CONTRA ELA!"
Eu jurava que o livro ia ser um pouco mais pesado, levando em conta Por Lugares Incríveis, mas a mensagem positiva e alegre de Juntando os Pedaços aquece o coração. Os diálogos leves e fluídos, os personagens cativantes, as situações comuns, a mensagem clara e direta. Com esse livro Jennifer Niven ganhou um lugar no meu coração, toda envolta em raios de sol.
Não tem como não indicar esse livro. Se eu pudesse eu saia distribuindo copias dele para todo mundo. Porque a gente precisa de mais histórias assim. A gente precisa falar mais sobre combater ódio com amor, sobre deixar as pessoas serem quem são, sobre cuidar da própria vida. Sobre como não temos o direito de fazer com que os outros se sintam pequenos e insignificantes só porque nos sentimos assim também e como os "padrões socialmente aceitáveis" estão criando pessoas tristes, inseguras e mesquinhas.
Todo meu amor por esse livro. Espero ansiosamente pelo próximo da autora.