Polly 16/03/2020Eu já havia tido um spoiler de qual seria a brincadeira cruel de Jack com Libby e confesso que já comecei o livro com ranço do personagem.
Me entendam bem, em minha cabeça antes da leitura, nada justificava aquele ato dele e confesso que depois de ler continuo pensando igual.
Não que eu tenha tido antipatia do personagem por todo o livro depois disso – porque realmente não aconteceu – mas, para mim, por mais desafiadora que fosse sua vida, devido a sua condição, nada justifica a forma como ele agiu. Enfim! Queria deixar registrado essa minha ressalva.
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Ressalva feita, quero dizer que mesmo com essa atitude do Jack, ele ainda assim é um personagem muito bem construído, daqueles que aprendemos a ver com outros olhos. Entendi o que a autora quis mostrar com ele.
É nítido que ele faz tudo o que faz por ceder a pressão social que vem junto do ensino médio. Ele é o rapaz ‘diferente’, que não quer ser visto dessa forma e faz de tudo para se enturmar. É muito mais fácil para ele cometer diversas burradas que finalmente aceitar a abraçar o ser diferente.
Para alguns pode ser algo meio estereotipado, mas acredito que mais real que isso impossível. Muitos jovens fazem o mesmo e talvez você aí, do outro lado da tela, tenha agido assim em alguma situação, durante sua vida escolar.
Mas essa não é a única temática abordada nesse livro, muito pelo contrário. Aqui teremos também uma abordagem excelente sobre bullying e gordofobia. Acompanhar a forma como a autora desenvolve o tema através de seus personagens é como encarar pessoas reais passando por isso. Ela tem uma escrita delicada, leve, mas não poupa realidade na hora de nos mostrar como acontece, a forma como machuca e as consequências de tais atos. Eu achei simplesmente genial.
Grande parte do sucesso dessa abordagem é a personagem Libby, pela qual desenvolvi um carinho enorme. Que personagem ímpar, sério! Ela é uma garota doce, determinada, cheia de sonhos e com uma empatia tremenda! Você acompanha seu recomeço torcendo por ela a todo momento e tendo vontade de abraçá-la quando as coisas desandam. Tive vontade de guardá-la em um potinho! rs
Outro ponto incrível é como a autora passa a mensagem de abraçar quem você é, de auto aceitação e da construção da auto estima. Foi lindo ver a forma como os personagens se desenvolvem e se descobrem mais fortes em sua essência. Isso, unido as referências literárias e musicais, foi maravilhoso!
Também achei extremamente interessante a abordagem sobre a prosopagnosia, visto que não sabia absolutamente nada sobre a doença. Foi muito bacana ir descobrindo junto com o personagem principal, como a mesma é e como é de certa forma comum em nossa sociedade.
Um único ponto que não curti tanto foi o romance. Ele para mim foi algo desnecessário em toda trama, que já tinha tanto a mostrar.
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http://www.entrelivrosepersonagens.com/2020/03/resenha-253-juntando-os-pedacos.html