Caio.Henrique 13/03/2021
Quando o oprimido se descobre super poderoso
Dando início ao meu projeto de ler 7 obras do King esse ano e mais 7 no próximo (só as que tenho muita vontade), nada mais justo que começar pela primeira a ser publicada. Carrie é uma leitura relativamente curta, mas ainda assim carregada de momentos chocantes e tragédias, que traz uma protagonista pouco convencional.
A história de como Carrieta White provocou um massacre na cidade de Chamberlain (não se incomode, logo no início nos é dito o desfecho da trama), e as consequências na vida dos envolvidos, são contadas através de narrativa epistolar que considero uma escolha acertada até certo ponto. Trechos de livros e artigos, além de reportagens e boletins de ocorrência ajudam a construir uma perspectiva maior dos eventos, além de gerar certa apreensão e suspense entre os capítulos.
Entretanto, na minha opinião há coisas que o autor poderia ter revelado apenas no final, o que teria um efeito bem maior nas emoções do leitor. Os documentos entregam praticamente todos os acontecimentos cruciais páginas ou capítulos antes, mas há também o lado positivo no uso dos mesmos. Observamos como em ocorrências que envolvem a opinião pública, ainda que existam inúmeras provas e testemunhos sempre há céticos ou pessoas que buscam alguém para demonizar ou culpar, além daqueles que criam suposições absurdas e sem embasamento. Outro aspecto que chama atenção é ver como autoridades e a mídia não abafam ou tentam considerar a situação toda ilógica com relação às habilidades de Carrie, posto que a telecinésia É um elemento lógico dentro desse universo ficcional. Ao invés disso, buscam estudar e compreender como o mesmo ocorre, e quais os sinais indicativos do mesmo.
Falando dos personagens, a grande maioria cai em clichês e há pouco desenvolvimento dos mesmos. O ponto que que mais me incomodou nesse aspecto foi como a mãe de Carrie recebe um background vago e raso, que pouco nos ajuda a compreender como ela chegou naquele estado mental. Já a protagonista é bem trabalhada ao vermos que King não a coloca como mera inocente e vítima indefesa fadada a um destino cruel por forças externas, e como a escalada das coisas não levaria a um único resultado.
No todo, ainda que apresente falhas, a obra não decepciona e dá vislumbres do potencial que Stephen King viria a desenvolver anos depois. Carregado de cenas revoltantes, uma narrativa fluida e trechos documentais que agregam bastante à narrativa, esse é sem dúvidas um livro que vale a pena (além de ser curtinho, o que para mim foi uma vantagem).