Katia Rodrigues 20/06/2022
Pérolas aos montes
É cativante o modo como Rubem Alves diz as coisas mais sérias por meio de uma aparente conversa-fiada despretensiosa.
"O poema me mostra a beleza da minha alma que eu não via. Por isso a poesia é salvação. Na minha solidão, dou-me conta de que existe uma outra pessoa cuja alma se parece com a minha. Fico grato porque tal pessoa existe. Minha solidão se transforma em comunhão."
"Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza, eu me re-encontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim."
"Por que se gosta de um autor? Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo, tem-se a experiência de comunhão. Arte é isso: comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. Ao lê-lo eu me leio, melhor me entendo. Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo mundo."
"Pomar
As Sagradas Escrituras são um pomar onde crescem macieiras cheias de maçãs vermelhas, doces e perfumadas, oferecidas a quem quiser apanhar e comer. Mas nesse mesmo pomar também crescem espinheiros, joás de lobo, losnas amargas. O homem sábio sabe distinguir entre as maçãs e as plantas bravas. Colhe a maçã, sente seu doce e o seu perfume e diz: ?Palavra do Senhor?. O tolo pensa que tudo o que cresce no pomar é coisa de Deus, não sabe distinguir, colhe os espinhos, os joás de lobo, a losna, come-os, sua boca sangra com os espinhos e seu estômago sente ânsias de vômito com a losna. Mas ele, tolo, repete: ?Palavra do Senhor?... Bem disse Jesus que o homem bom tira coisas boas do seu bom tesouro. O homem mau tira coisas más do seu mau tesouro." "Sabia disso também o místico espanhol católico dom Miguel de Unamuno: Acreditar em Deus é, antes de mais nada e principalmente, querer que ele exista?. O sentimento religioso não mora no mundo das coisas que existem. Se Deus existisse, então o mundo seria o Paraíso... Deus mora no mundo das coisas que não existem, o mundo da saudade, da nostalgia. Os deuses que moram no mundo das coisas que existem não são deuses. São ídolos.""
Ig: @ingrisias