FellipeFFCardoso 22/01/2024
Nas minhas catalogações pessoais, existem alguns vieses sobre os quais eu preciso me atentar, uma vez que tendem a contaminar todo o processo de leitura e a experiência da literatura. Um desses vieses faz referência à literatura pretensiosa do intelectual latino, que faz questão de apresentar uma verborragia autorreferente de pensamentos falaciosos, ainda que sustentada por alusões a autores que admiram, quase sempre os grandes expressionistas ou modernistas do leste europeu, como algo que já valeria a sua genialidade literária e, por consequência, de sua obra. É preciso dizer que há sim algo disso neste livro. Não obstante, há também algo de muito vívido e autêntico na dor e na incredulidade da solidão que o autor usa como foco narrativo para essa história que, tão absurdamente real, nos deixa um tanto incrédulos da angústia que nos tenta descrever. Foi preciso, por isso, descer do viés para que eu pudesse me aproximar da proposta que o autor nos faz. E talvez eu tenha descido demais. É um livro bom, por vezes maçante, e que, ao final, sobrou-me em expectativa, mesmo que não tenha ficado frustrado pela decisão tomada de continuar a lê-lo mais como um exercício narrativo muito interessante do que uma leitura saborosa. Talvez este seja o grande mérito.