spoiler visualizarEverton Era 21/07/2018
O livro dos Cinco Aneis
Gorin No Sho, O Livro Dos Cinco Anéis, escrito por Musashi, um espadachim invencível do Japão feudal, contém os ensinamentos teóricas de sua escola Niten-Ichi Ryu (escola das duas espadas). Os ensinamentos apresentados baseiam-se em sua experiência como esgrimista excepcional, porém, deve-se ter em mente que as transcrições não ensinam apenas como se prostrar em um combate kendo (espada), mas devem ser, como descritos pelo próprio Musashi, "examinados muito bem". Em suma, ler Gorin No sho apenas com intuito de se aprender mais sobre a cultura ronin é aproveitar apenas uma pequena parte do que toda a obra pode oferecer para o mundo profissional e social.
Os cinco elementos são divididos entre terra, água, fogo, vento e vácuo. Depois de algumas páginas de introdução e notas explicativas (dadas às falíveis traduções anteriores), o capítulo sobre terra se encarrega de enfatizar os mandamentos da arte militar. Comparando com os mandamentos da carpintaria, ele cria um paralelo entre distribuir inteligentemente os cargos às pessoas envolvidas no trabalho, atribuir funções que estejam à sua altura e escolher meticulosamente às ferramentas que trabalharemos. Não se alcança excelência apenas com a esgrima que nos foi dada, mas com o conjunto de sutilezas que devem partir do superficial até o mais profundo.
O segundo capítulo da água faz referência à limpidez da imagem do homem. A água se molda a partir de seu recipiente, e através de ensinamentos de postura física e espiritual, podemos observar desde o modo como segurar a espada até as movimentações dos pés. É citada uma sequência de cinco posições, sendo elas: mediana, onde a ponta da espada deve ser mantida diante do rosto do antagonista; alta, onde a espada é mantida no nível acima da cabeça, golpeando o antagonista em seu momento de ofensiva; baixa, como se carregasse algo nas mãos; lateral esquerda e lateral direita, onde o antagonista deve ser atacado com afinco pelos flancos. Apesar de ser um capítulo mais denso em relação à unicidade da estratégia em combate, Musashi não deixa de transparecer em nenhum momento que independente das posições básicas ou de guarda, o inimigo deve ser vencido. Todo e qualquer passo em combate deve ser dado com o propósito de acertar o inimigo e derrubá-lo fatalmente, sem dar-lhe qualquer chance. Vencer o concorrente do mundo corporativo moldando-se em parâmetros justos. O inimigo só é derrotado verdadeiramente fazendo-se o uso correto das ferramentas.
O terceiro capítulo do fogo explana que este pode começar pequeno, mas possui extraordinária força para transformar-se. As três técnicas de adiantamento contra o inimigo são: atacar-lhe com a iniciativa; atacar-lhe quando o inimigo tomar a iniciativa; atacar simultaneamente. Todas possuem algo em comum, que é alcançar a vitória. Muitas técnicas são descritas e podem ser usadas ao longo do combate. O "colapso", por exemplo, é observar o momento em que o corpo ou espírito do inimigo se quebra e avançar com demasiada gana de fulminá-lo. "Soltar as quatro mãos" ocorre quando ambos os lados já não enxergam a vitória, sendo crucial a mudança de estratégia insuspeitada pelo inimigo, alcançando assim o triunfo. "Atemorizar" o inimigo é o ato de fazê-lo superestimá-lo, seja com recursos visíveis e invisíveis. Esse capítulo fornece estas e muitas outras técnicas para a vida, onde o "inimigo" pode nos surpreender a qualquer momento. Entretanto, se as técnicas do fogo forem dominadas e treinadas vigorosamente, não haverá falha, pois não seremos surpreendidos pelo antagonista. "A falha na preparação é a preparação para a falha, Benjamin Franklin."
O quarto capítulo do vento descreve as técnicas de outras escolas. Para Musashi, "sem conhecer bem os outros, é difícil conhecer a nós mesmos". Faz-se a necessidade de se estudar tudo o que está acerca de nós, para que possamos seguir estritamente os mandamentos corretos, sem nos deixar influenciar pelas "companhias hereges" ao longo do caminho.
O quinto e último capítulo descreve o vácuo não como o incompreensível, mas como o desconhecido, o nada. Quem almeja estudar e com tenacidade praticar tudo o que lhe é ensinado, acabará conhecendo o começo e o fim das coisas, o vácuo. "No vácuo há o bem, e não o mal. Só quando dotado de sabedoria, das razões e dos mandamentos da arte militar é que se elimina qualquer pensamento irrelevante e se alcança o estágio espiritual do vácuo."
Dessa forma, Gorin No Sho não deve ser considerado como um guia preparatório, tão pouco um livro de uma única leitura. Seus ensinamentos de 1645 se encaixam perfeitamente nos dias de hoje e em diversos âmbitos. Miyamoto Musahi não foi apenas um exímio espadachim do Japão feudal, mas um grande idealizador e por que não empreendedor, afinal, suas idealizações com o combate de duas espadas podem ser encaixados cabalmente no mundo corporativo. Através de rigorosos exames e constantes treinos é que se pode forjar os cinco elementos da terra, água, fogo, vento e vácuo no espírito, tornando-se um insigne profissional no mercado de trabalho.