Erick 09/04/2021A liberdade para Paulo Freire ‘Pedagogia do oprimido’, assim como toda a obra de Paulo Freire, é fundamental para toda pessoa que queira tornar-se professor, todo indivíduo preocupado com a educação e seus pressupostos e todo professor que não queira ser um mero reprodutor passivo de conteúdo, mas um problematizador deste, no sentido de construir uma percepção crítica compartilhada com os demais atores do processo pedagógico. Tornou-se um clássico por partir do pressuposto que o processor também está num processo contínuo de aprendizagem – ou seja, não existe ser pronto, detentor estático do conhecimento – e que, portanto, a superação da opressão reside num trabalho conjunto entre professores, alunos e toda a comunidade pedagógica que entorna a educação.
Freire parte de um pressuposto que podemos caracterizar como humanismo materialista: humanismo porque ele tem uma compreensão do que o humano deveria ser a partir das impossibilidades que lhe são impostas, que devem ser superadas para que suas potencialidades floresçam; e materialista porque tais obstáculos não são meramente de ordem ideal, mas econômicos, políticos e ideológicos.
Também poderíamos diferenciar o humanismo freireano dos humanismos de tipo transcendental, idealista ou antropocêntrico. É um humanismo que não parte de uma ideia perfeita de “Ser Humano”, mas da observação empírica de que em determinadas condições materiais, geográficas econômicas, certas potencialidades humanas são minadas ontologicamente e características fundamentais para a metafísica de Freire, tais como o amor, a solidariedade e a empatia são entendidas como exclusivas. Na verdade, à questão: “Que é o humano?”, Paulo Freire responderia: “Pode-se ser mais do que é hoje”.
De fato, a compreensão de Freire vincula-se a noção de “Ser Mais”, uma ideia de que o humano tem uma potência de ser, por ora impedida de se realizar em função da configuração desigual e desumanizadora da sociedade.
Se por um lado, os humanos são produto de sua história e sujeitos de um processo objetivo e concreto de opressão, por outro, a Natureza é a dimensão tecida pela necessidade absoluta, fatalista. Para Freire, o principal obstáculo para a libertação social é a confusão entre essas duas dimensões. Os trabalhadores, principalmente os camponeses, estão presos a sua história como se estivessem à sua Natureza e, devido a isso, não compreendem a história como processo, subordinado às ações humanas e suas decorrentes transformações.
Esse ponto é central para o educador freireano, pois relaciona-se com uma visão de mundo que não se contenta com as injustiças, a miséria e a violência impostas aos marginalizados. Esse é um pressuposto evidente: a Natureza não produz pobres e famintos, mas a ação histórica e, principalmente a luta entre as classes em oposição.
A Política para Freire é a concretização da unidade dialética entre a reflexão e a ação. No seu pensamento, é impossível a compreensão de um sem o outro, são pares de uma mesma realidade. Seu método é a inserção crítica em sua realidade, assim como a ação cultural pela liberdade: ação conjunta de problematização da realidade visando a superação da contradição opressor-oprimido e a Ideologia é caracterizada como conscientização da inversão do real (hospedagem do opressor).
A Ética libertária de Freire significa a expulsão do opressor da consciência do oprimido para que ele perceba que o mundo histórico e cultural é fruto do seu trabalho, e não da dominação do patrão. A superação ideológica proposta pela pedagogia problematizadora que expulsa da consciência do oprimido o hóspede opressor conduz para uma mudança afetiva no que tange a sua ação no mundo: do medo da liberdade passam a um amor pela liberdade.