denis.caldas 04/10/2023Confesso ser um ignorante diante este gigante da educação.Sempre tive curiosidade de ler esse livro, acredito que a principal obra do autor, que a gente sempre vê em referências bibliográficas sobre educação. Eu pensei que seria uma leitura difícil, porque sou um leigo no assunto mas, com a devida atenção e mesmo lendo alguns parágrafos mais de uma vez, é possível entender a mensagem de Paulo Freire.
Eu estava um pouco preparado ao que viria em relação ao uso de novas palavras, inclusive na 4ª capa do livro há um aviso de algo como, em idiomas tidos como acabados (francês, alemão etc) não se aceitam neologismos, mas o português é um idioma vivo que aceita essa revolução. De vez em quando eu lembrava o livro 1983 do Orwell e a Novafala, quando me deparava com por exemplo "quefazer", "reificar", "humanitarisa" ou o uso das palavras com hífen para enfatizar o significado: co-laborar, ad-mirar etc.
Esse foi um dos livros que mais me mostraram que sou leigo mesmo, eu diria um "burro social", pois terei que estudar muito mais para entender essa visão de que (1) a pessoa não pode vender o seu trabalho, mas ser dona do seu trabalho, então eu queria entender como funciona isso; (2) a Revolução Marxista quer libertar o povo da opressão burguesa, mas o libertado não tem liberdade para escolher o seu caminho, pois ele é considerado um "traidor" da causa e merece pólvora, na citação do médico cubano Orlando Aguirre: "A revolução implica três 'P' - Palavra, Povo e Pólvora."
Paulo Freire alerta também que, os "Libertadores do Povo" não podem usar o povo para implantar um sistema burocrático de poder, pois daí seria tão opressor como o antagonista modelo capitalista. Escrito no final da década de 60, acho que o autor começou a vislumbrar o que acontecia na União Soviética e outros países que adotaram a "Revolução Popular"...
É um livro que usa muito as palavras "liberdade", "opressão" e "igualdade", mas não consigo evitar de lembrar uma citação de Leonard Read: "Homens livres não são iguais, homens iguais não são livres." A práxis mostra que, todo experimento social que tenta igualar as pessoas acaba por oprimí-las mais ainda, resultando no que o próprio Paulo Freire não queria, pois a ânsia pelo poder é inerente à humanidade.
Gosto da explicação de Paulo Freire sobre a Dialogia e a Problematização como ferramentas para libertar o oprimido, e podem ser usadas com sucesso para qualquer área em que você queira construir um conhecimento com as pessoas e libertá-las. Mas não posso esquecer que, liberdade é a pessoa ter acesso ao conhecimento e escolher livremente o seu caminho que, muitas vezes, não é o que eu gostaria.
Paulo Freire também diz que, quando o opressor quer ajudar, não é pelo verdadeiro humanismo, mas é para manter o poder através do humanitarismo. Por exemplo, que obras de caridade de instituições religiosas não são humanas por não trazerem a verdadeira liberdade humanista, mas são somente ações humanitaristas para desafogar uma consciência pesada do poder da opressão. Paulo Freire também difine os mitos que devem ser extirpados da mente popular: "Cristianismo", "Propriedade Privada", "Capitalismo" etc.
O autor também frisa que vale mais ser, no que ele cunhou como "queser", do que ter bens materias (queter); concordo plenamente, mas não consigo esquecer da Pirâmide de Maslow ou, como disse Bertolt Brecht, "A barriga vem antes da moral"; também na minha ignorância não consigo entender como alcançar isso sem a divisão do trabalho, que aumentou a produtividade e reduziu o custo de produtos que antes só eram acessíveis aos poderosos, mas agora podem ser adquiridos por quase qualquer pessoa. Mas é fácil entender porque regimes autoritários usam mão-de-ferro para manter as pessoas dentro do espírito da "liberdade" e do "amor", pois quando elas são livres para escolher, elas podem não querer continuar a viver num sistema sempre revolucionário, e tentar trazer a liberdade ao povo no que pode ser chamado "contra-revolução".
Paulo Freire demonstra as questões marxistas dos antagonismos sociais e da consciência de classe, por exemplo, patrão x trabalhador, negro x branco, homem x mulher etc. Lembrei de quando li o recente "Torto Arado", do agora famoso Itamar Júnior, onde o trabalhador rural era oprimido pelo latifundário, mas quando chegava em casa oprimia a esposa e os filhos. A proposta marxista procura quebrar esses antagonismos no futuro, sem diferenças entre as pessoas, mas assumo a minha ignorância por não entender como quebrar essas diferenças que existem desde o começo do mundo, pois são intrínsecas ao próprio ser humano e à própria biologia. Paulo Freire, assim como os autores mais citados por ele no livro (Karl Marx, Che Guevara, Fidel Castro, Mao Tsé-Tung, Getúlio Vargas, Louis Althusser, Hegel, Lenin, José Luís Fiori, Erich Fromm, Georg Lukács etc) dizem que é pelo Amor.
Esse "amor" é desde que você aceite e siga sempre na vibração revolucionária, senão você receberá a "dor" da pólvora. Assim, encerro essa divagação da minha ignorância burguesa de classe, pois o livro é 3 estrelas pela média de 1 porque Paulo Freire parte de uma premissa herdada da Teoria do Bom Selvagem de Rousseau, e, 5 estrelas por ensinar um pouco qual o caminho para qualquer projeto de engenharia social, quer seja socialismo, capitalismo, espiritismo, veganismo, empreendedorismo, islamismo, neoliberalismo, neomarxismo, ou seja, qualquer "ismo" desde que use o amor e a humildade para conquistar o povo, que nada mais é do que massa de manobra para qualquer projeto de poder travestido de libertador.