Thali 05/01/2023
Irônico
Primeiramente acho importante ressaltar que existem multiplos conceitos de alta reflexão dentro desse livro. Os conceitos de discussões bíblicas, a valorização do instinto e rejeição da moralidade que, na visão de Nietzsche, é sinal de decadência e doença já que mancha e tem como errado o que é nosso como humano, é muito certeiro. A reflexão da rejeição da humanidade puramente como ela é, e o ataque (não discordância), ataque mesmo a ideias estoicas, empiristas, racionalistas que desvenciliam da realidade são extremamente interessantes, já que abominam o conceito de uma realidade ideal ou transcendência desse plano (mesmo que na mente, como a metafísica) como uma forma de abraçar o real, em sua dor completa e prazer completo. Porém, analisando fora de suas palavrar bonitas, ataques e conceitos pré-determinados, é uma escrita no mínimo cômica. Nietzsche criticava a feminilidade e a moral cristã, inclusive colocando características femininas tais como "sensualidade" de forma pejorativa, sendo que essa caracterização do "diabo feminino" vem justamente da igreja. Ele critica tanto o anarquismo, mas diz que a liberdade é a luta, a conquista, é estar batalhando por algo. Esse mesmo algo que ele critica os trabalhadores por quererem demasiadamente (Quererem o quê? Direitos.). Nesse mesmo contraste, exalta o trabalhador chinês e a Russia na época, como bons exemplos (Russia sendo citada como uma das únicas sociedades na visão de Nietzsche que talvez tivesse salvação) quando, ambos, no futuro, se tornaram seio do comunismo que Nietzsche tanto abominava. Criticou tanto as retóricas e sátiras de Sócrates quando, no fundo, todo o seu livro é uma grande ironia e insulto à diferentes filosofias (afinal, crepúsculo dos ídolos). Dissertou sobre como o morimbundo é melhor que morra, já que existe honra maior em morrer em um estado bom, mas viveu moribundo cuidado por sua irmã (uma antissemita diga-se de passagem, assim como sua esposa) que era cristã. Caindo de novo dentro da ironia de ser vítima de algo que também critica.
Nietzsche se diz imoral e anti-moralista. Mas acho que ele é mais o segundo do que o primeiro. Ele não me parece aproveitar dessa imoralidade, do Dionísico. Ele não me parece se jogar nas paixões, na guerra, nas dores e prazeres. Ele parece ser CONTRA quem não o faz. O livro é isso, um grande contra tudo, sem, de fato, ser a favor ou concretizar algo. Uma filosofia baseada na obsessão sobre como diversas outras estão erradas é irônica. Trágica.
Dentro de sua própria filosofia, além de contradições e mensagens inconcebíveis (como a misoginia e o absolutismo), também tenho ressalvas. A negação às causas é uma delas. A aceitação plena de Nietzsche não é uma aceitação estoica, não é sobre não tentar mudar algo fora do seu alcance. É sobre aceitar o caos, o mundo sujo, e muitas das vezes, participar ativamente e condenar quem tenta mudar a realidade. É fatal. Existe certa beleza nisso e respeito quem tem essa visão niilista de Nietzsche, mas, honestamente, é uma visão presunçosa de um homem amargurado. Tudo nesse livro é presunçoso na verdade. Se orgulho e arrogância fossem um dos mandamentos do cristianismo, Nietzsche seria um santo.