Samael 19/04/2021
Combativo, controverso e instigante?
Crepúsculo dos Ídolos foi um livro escrito por Nietzsche em 1888 - seu último ano de lucidez. Nesse livro, o autor procura condensar os principais problemas abordados por sua filosofia, sua compreensão sobre esses problemas e respectivas críticas. Dessa forma, encontramos, de forma poética e prosaica, os seguintes temas problematizados a partir de uma visão nietzscheana: A moral ocidental baseada no cristianismo e platonismo e estilo de vida que contribuiu para a decadência dos instintos humanos e apaziguamento da vontade de poder; a decadência; o niilismo; a política; as instituições sociais; a arte e a cultura em geral. Apesar de toda essa globalidade de assuntos e declaração de guerra à cultura ocidental - em especial, a Alemã- como um todo; Nietzsche não procura uma visão da totalidade social, adotando, assim, uma visão pluralista de perspectivas. Em resumo, ele procura ser um médico que, ao mesmo tempo que procura derrubar ídolos, ele diagnostica o estado enfermo em que se encontra as pessoas do seu tempo. Ademais, pode-se dizer que ele possui uma alma guerreira, dotada não apenas de pretensão para a dureza e aspereza da vida, mas também de sensibilidade - principalmente poética.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não sou um especialista em Nietzsche e nem em filosofia propriamente dita; muito menos alguém apto para elaborar uma crítica contunde sobre um autor em que eu li apenas um livro (Por mais que esse livro seja voltado para a condensação de ideias e introdução dos principais problemas e conceitos). Digo isso pois não gosto de correr o risco de atacar um filósofo ou pensamentos os quais eu não me aprofundei, me atrevendo a cair em certa desonestidade intelectual. Apesar disso, gostaria de deixar algumas observações e relatos sobre o que eu senti lendo a obra.
Bem, como eu disse anteriormente, Nietzsche é uma filósofo não apenas médico, mas também alguém guerreiro. É elogiável sua força expressão e confiança em seu pensamento, alguém devidamente poético e com grandes aspirações. Apesar disso, partindo da leitura dos textos, não acho que o filósofo (neste livro) conseguiu nivelar suas grandes pretensões e autoestima como a profundidade que requer muitas das temáticas. Acredito que em diversos momentos, o autor coloca suas críticas diante da modernidade de forma superficial, se posicionamento de forma totalmente clichê sobre certos assuntos, vide atribuir sentimento de ressentimento a movimentos revolucionários, sem conhecer adequadamente as causas e trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos naquela época. Ao negar uma visão mais social e estrutural das coisas, ele se refugia, muitas vezes, em uma pretensa psicologia e filosofia e aristocrática. Veja bem, creio que ele cometeu os mesmos erros as quais crítica, por exemplo atribuição de causas aos eventos, apesar de ser certeiro em identificar algumas contradições latentes naquela sociedade. Segundo Kaufman, ele é um pensador de problemas, não de sistemas. Em visto disso, penso que ele falha, em suma, nessa questão, ou seja, não sistematiza adequadamente seu pensamento - e nem pretende - em prol de uma falsa liberdade de espírito ou algo do gênero. Dessa forma, muitas de suas observações se tornam amplamente distorcidas e desconexas e acabam tirando o potencial emancipatório dos projetos elaborados pelo autor, tornando, em grande parte, infecundo. Em outras palavras, ele pode até ser um bom médico, mas as suas armas não são as melhores para combater a guerra. Apesar do que foi tido e de não ser alguém que possui domínio sobre estética, eu realmente gostei de algumas sacadas que ele tem sobre arte e como ele organiza isso a partir de sua visão sobre instintos Apolíneo e Dionisíaco
Além disso, em muitos momentos, lendo a obra, eu senti que muitas das posturas acabaram sendo reacionárias, deixando brecha para interpretações altamente perigosas com potencialidades extremamente ruins para a realidade.
Em resumo, é um autor ácido, criativo, poético, irônico em diversos momentos, perigoso (qual filósofo não é?) e radical.
No mais, são apenas algumas observações sobre a obra. De certa forma, me instigou a pesquisar mais e refletir sobre esse autor que é considerado um dos pais da nossa filosofia contemporânea. De fato, é uma máquina de guerra que te faz refletir. A melhor máquina de guerra que encontramos? Longe das minhas pretensões discutir isso por agora.