Andre.Pithon 11/08/2023
1.5
Eu nem sei por onde começar honestamente.
Existe uma piada famosa ao se discutir literatura, especificamente literatura ruim escrita por homens para homens, que o fato de que todas personagens femininas são descritas como alguma variação de "She breasted boobly down the stairs". Não resta personalidade, não resta motivações, toda frase de descrição precisa citar seios de alguma forma ou de outra. Nunca antes encontrei autor que tão perfeitamente ocupa essa posição que Murakami. E esse é um dos menores problemas do livro. A gente pode perdoar um pouco de misoginia, mas 500 páginas de prosa ruim?????? (é meme)
Como todo livro japonês que já li, a escrita parece truncada, desconfortável, o diálogo se quebra, algo definitivamente se perde na tradução. Querida Konbini já era bem medíocre em prosa, mas Kafka a beira mar consegue ser tão, tão pior. Diálogos repetitivos, descrições demoradas e sem graça, personagens sempre idealizados, mulheres que são pares de seios, metáforas básicas que não fazem nenhum efeito, pseudo-filosofia da pior qualidade.
Mas a história salva, não salva? Que bela sopa surrealista de nada, que lindas passagens circulares que não chegam em nada, pontas soltas incríveis, fechamentos de arcos que não fecham nada, gotas de incesto porque todo mundo gosta de incesto, um homem que cita ser burro toda frase fala com gatos até não conseguir mais falar com gatos e depois dorme. Duas linhas narrativas que praticamente não se cruzam o livro inteiro. Deviam ter separado Kafka e Nakata em dois livros, seriam dois livros ruins de 250 páginas ao invés de um de quinhentas, mas pelo menos contaria como o dobro pra minha meta de leitura, e esse é o único benefício que isso trouxe pra minha vida.
Não nego que no começo li com curiosidade. As primeiras 100~200 páginas, quando ainda parecia que ia para algum lugar, te dava certo fôlego. Tem algumas entrevistas/relatórios pincelados pelo primeiro terço do livro, detalhando os acontecimentos que levam Nakata a desenvolver sua condição que são razoavelmente interessante. E adivinha? Não leva para lugar nenhum. Não há resoluções. Não há resoluções para nada nessa obra prima. Eu não sou exigente para tudo se fechar, eu amo absurdos incompreensíveis como Vita Nostra, eu amo obras mais largadas que não se preocupam com aprofundar o mundo como This is how you Lose the Time War, o problema não é ser surrealista e meio misticozinho. O problema é ser ruim.
Dói mais pelo tamanho. Existem longos capítulos de Kafka bebendo leite. De gente discutindo música clássica. De Murakami sendo tão culto que ele precisa vomitar toda sua cultura na minha cara.
Terminei na base do ódio em busca de alguma conclusão ok, mas não tem nada. O fechamento é previsível, os aspectos místicos não levam para lugar nenhum. O livro inteiro se considera uma metáfora, 500 páginas para você construir sua própria opinião, então beleza Murakami, aí vai uma metáfora para você.
Eu tenho aula de literatura inglesa nas sextas. Entrei com bastante expectativa, todo mundo falava muito bem, renomada como uma das melhores da faculdade. Tem que ser bom, né? Não tem como dar errado. E no começo, até parece que vai ser ok. Talvez não perfeito, mas ok. Vai entregar o mínimo. E aí a aula não aprofunda, só citando fotas em uma voz horrível. E subitamente não temos aula pra dar uma festa não relacionado. Olha, vamos ignorar o assunto e tocas umas músicas legais aqui? É uma metáfora! Aulas de nada que se arrastam até o último minuto possível. Quer gastar metade da aula numa tangente aleatória sobre sua vida romântica, quer Murakami? Quer dizer, *****. Um mês de férias, no meio do semestre? Que legal! Podemos inventar nossa própria literatura inglesa! Só faltou um pouco mais de descrição de seios e seria 10/10.
Não é a melhor das metáforas, claro.
Então combina perfeitamente com Kafka a beira mar.
Péssimo.