carlosmanoelt 19/09/2024
A demolição do homem
Em ?É isto um homem?, Primo Levi retrata o período em que foi mantido prisioneiro no Campo de Concentração de Monowitz ? Auschwitz. Judeu italiano de 24 anos, descreve, de forma simples e clara, a rotina vivida entre fevereiro de 1944 e janeiro de 1945. Dos 650 judeus italianos deportados com ele, 45 estavam em seu vagão e, destes, apenas quatro retornaram a suas casas.
Desde o princípio, o autor, deixa claro que sua intenção não é a de oferecer novas denúncias mas, sim, levantar reflexões acerca da natureza humana, frente a situações extremas.
O que nos torna homens? Se nos tirarem tudo: casa, pertences, entes queridos e, até mesmo, nosso nome, o que sobra? Como seres humanos, puderam fazer o que fizeram a outros seres humanos? De forma sistemática, promoveram a desumanização, a perda da dignidade e a falta de esperança dos prisioneiros. A intenção, primeira, era a de matar a alma, de modo que, quando matasse o corpo, não fosse mais algo provido de afinidade humana: seria um mero objeto.
Levi nos mostra, que havia uma estratificação e uma hierarquia dentro do Campo, permitindo que fossem ?comandados? por outros prisioneiros, tornando ? os, assim (nas palavras do próprio Levi), ?escravos dos escravos ?. ?São o típico produto da estrutura do Campo de Concentração alemão: basta oferecer a alguns indivíduos em estado de escravidão uma situação privilegiada, certo conforto e uma boa probabilidade de sobrevivência, exigindo em troca a traição da natural solidariedade com os companheiros, e haverá por certo quem aceite.? (Pág. 133)
Sobrevivência essa, muitas vezes, frustrada.
Um livro necessário para manter fresco na memória o que os homens podem fazer a outros homens, quando deixam de vê-los como semelhantes. ?Vocês que vivem seguros em suas cálidas casas, vocês que, voltando à noite encontram comida quente e rostos amigos, pensem bem se isto é um homem que trabalha no meio do barro, que não conhece paz, que luta por um pedaço de pão, que morre por um sim ou por um não. Pensem bem se isto é uma mulher, sem cabelos e sem nome, sem mais força para lembrar. Vazios os olhos, frio o ventre, como um sapo no inverno.? - Primo Levi