Michele 01/04/2021
É ISTO UM HOMEM? E NÓS AINDA SOMOS HUMANOS?
Como humanos, somos seres civilizados, inteligentes e evoluídos, certo?
Espera, não responde ainda!
Vamos ler esta resenha primeiro.
O livro É ISTO UM HOMEM?, de Primo Levi, traz uma história real que narra o período em que o autor esteve preso no campo de trabalho de Monowitz, que integrava o complexo de Auschwitz, na Polônia durante o Terceiro Reich.
A narrativa começa quando Levi, juntamente com um grupo de jovens italianos, organiza um movimento antifascista, porém é capturado pela polícia e entregue aos nazistas.
Levi é muito descritivo, narrando os detalhes do cotidiano no campo de concentração, onde é obrigado a prestar trabalhos em condições limites de resistência, sob racionamento de alimento e todo o tipo de insalubridade.
Lá o seu nome é substituído por um número; começa, portanto, a perder a sua identidade e, junto, a dignidade.
O campo tem a própria lei, diferente do mundo exterior: lá ele e os demais não são homens, tanto pela forma como são tratados, como pelo modo que agem.
Em função da sobrevivência, roubar se torna algo normal. Levi é obrigado a viver abraçado aos seus poucos pertences pra que não sejam roubados: suas roupas (vitais no inverno), tigela e colher (necessárias na hora de tomar o único alimento oferecido: uma sopa rala).
A competição por postos um pouco melhores dentro do campo também é acirrada e leva alguns presos a serem “amigos” dos nazistas.
Some-se a tudo isso a água podre do banho, a dificuldade do idioma, as frequentes epidemias, o frio do inverno, a superpopulação, o medo constante da seleção e a única esperança: sair de lá é pela chaminé, ou seja, incinerados.
Chama a atenção o fato de o autor usar muito mais o “nós” do que o “eu”, dando a ideia de coletividade. Outra singularidade linguística é que a palavra mais repetida é “fome”. Mesmo assim, o narrador é poético, e a sua principal metáfora é o ser ou não ser homem.
Hoje, 31/03/2021, dia em que escrevo esta resenha, o Brasil perdeu mais de 3700 vidas nas últimas 24 horas computadas, em função de uma pandemia negligenciada, enquanto alguns comemoram o golpe de 64.
Pergunto de novo: somos civilizados, inteligentes e evoluídos? Responda agora!