É isto um homem?

É isto um homem? Primo Levi




Resenhas - É Isto um Homem?


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Rickardo 30/04/2013

É ISTO SER HOMEM!
A mais de seis décadas, após o nazismo ter suscitado a pior das atrocidades humanas, o livro "Isto é um Homem?" contempla de forma profunda e bastante realista, sem redundantes narrativas, o sofrimento de um prisioneiro nos campos de concentração. Sem dúvida nunca seremos capazes de compreender a dor e desespero da forma que os judeus compreenderam. Se a guerra exteriorizou uma classe de psicopatas, racistas e extremados sob uma filosofia fundamentalista e utópica da ditadura de Hitler também ela o fez homens com uma capacidade indescritível para superação. No livro o autor descreve o cotidiano dos prisioneiro no campo de trabalho na Polônia onde ele viveu mais de um ano, relatando hierarquicamente os fatos marcantes de acordo com a sua visão.
Primo Levi, autor narrador do seu livro, com 25 anos é deportado para o campo de concentração de Auschwist, na Polônia. Um jovem inteligente que tentou resistir junto a alguns seguidores do grupo anti-nazistas, sendo capturado pela milícia no ano de 1943. Desde então sua vida mergulhou no mais profundo abismo do sofrimento. Uma experiência brutalmente sobrenatural do ponto de vista de quem perdeu tudo: família, prestígio, dignidade, nome e cabelo. Uma experiência de perda da própria humanidade quando se perde a autonomia da vida. E foi lá, naquele cenário inóspito e hostil que Levi, junto a outros amigos tiveram que aprender a lei do absurdo, da vulnerabilidade da vida e do caos, da esperteza e sobre tudo da sobrevivência. Aprender a interpretar as pancadas e a falar com a linguagem silenciosa do invisível. O homem muda, como mudam todas as coisas que estão ao nosso redor. A existência de nossos valores depende unicamente da circunstância a qual estamos envolvidos. Num mundo de miséria física, material e espiritual os conceitos de valores são substituídos por coisas antes nunca imaginadas. O pão se transforma em ouro, o homem em coisa, o rico em pobre, o justo em ladrão, o corpo em cinza. Num mundo de famintos e flagelados onde a lei de sobrevivência lhe aguça a passar por cima de seus próprios princípios para permanecer vivendo. "Isto é um homem?" não é apenas um livro que narra desgraças e dores. Ele nos faz refletir e ater para as coisas mais simples da vida. Nos ajuíza para a teoria da relatividade. Tudo é relativo, principalmente o conceito do que é mau e bom. Ninguém jamais poderá julgar com precisão, porque o perfeito julgamento parte de uma experiência existencial. Viver para sentir. É com essa ótica que deveríamos pensar nossos conceitos. Num lugar feito basicamente de restrições, onde seu único objetivo era restringir a liberdade do fazer e desse modo fazer o homem desacreditar de sua própria natureza e essência,a pergunta que nos vem a mente é: É isto são realmente homens? É o homem uma coisa ante os olhos de outro homem? E após concluir o livro o que fica marcado é exatamente a resposta para essa pergunta que o intitula. É isto! Isto é ser homem! É homem quem mata, é o homem quem comete e suporta injustiças, é homem que, perdida já toda reserva de fé de alimento, compartilha a cama com um cadáver. Quem espera que o seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe o pão (sem culpa). De fato a apologia que Levi faz em seu livro encontra maior sentido quando deparamos as nossas realidades a realidade de quem viveu e sobreviveu aos campos de concentração nazistas: a de que “a ação humana só pode ser julgada individualmente, caso a caso”. O que ele quer dizer com isso é que não nos cabe julgar aqueles que praticam atitudes reprováveis dentro da nossa concepção de normalidade. O que parece justo e coerente em determinado contexto pode não ter valor moral algum em outras circunstâncias. Muitos morreram lá, por não compreender a teoria da relatividade. Porque foram honestos demais e se sucumbiram no esgotamento de suas capacidades físicas e mentais. Os personagens deste livro são homens, como eu e você. Suas humanidades ficaram bem evidenciadas sob o que foi padecido, sob o que foi apreendido desse grande mal provocado por um homem mau, bruto, criminoso e político. Todos somos homens, grandes e pequenos nessa hierarquia insensata determinada pela vida. Homens de humanidade contaminada, pertencente a esse mundo de negação, desgraça e paradoxos. Graças a Levi, não esquecerei jamais disso: que também sou um homem com qualquer outro. Sujeito a erros e acertos, a justiças e injustiças, disposto a amar e a odiar, a querer e rejeitar. Entregue a sorte da vida e dos homens, do amor e do ódio, da alegria e da tristeza, da pena e do gozo.
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ErranteLiterári 07/01/2013

Só um comentário: Uma história que precisa ser lida, vivenciada e conhecida!
Esse livro não é um romance água-com-açúcar, e sim um relato autobiográfico nu e cru. Se tenho uma palavra para descrevê-lo, essa palavra é "necessário"!

Primo Levi foi um dos judeus que sobreviveram ao Campo de Extermínio alemão e contaram sua história.

Normalmente, quando falamos de histórias desse tipo, podemos pensar que será uma narrativa carregada de ressentimentos e ódio, mas não. Esse livro é a história da vida no campo de forma crua, sem julgamentos, sem induções de pensamentos, é simplesmente um relato do que aconteceu e a maneira como os prisioneiros se sentiam naquela situação, como eles viviam, como era a comida, a fome, a humilhação, o medo, as doenças, a incerteza do amanhã.

Esse é um relato histórico de um homem que sobreviveu à Auschwitz. É a história contada por quem dela participou.

Somente para ilustrar a grandiosidade das palavras de Primo Levi, cito alguns trechos que acho que valeram a pena ser lidos... e relidos, não por terem relação com o Campo de Extermínio, mas por serem mais do que isso, por serem reflexões de vida:

"Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer "infinito". Assim, opõe-se a esta realização o insuficiente conhecimento do futuro, chamado de esperança no primeiro caso e de dúvida quanto ao amanhã, no segundo. Assim, opõe-se a ela a certeza da morte, que fixa um limite a cada alegria, mas também a cada tristeza. Assim, opõem-se as inevitáveis lides materiais que, da mesma forma como desgastam com o tempo toda a felicidade, desviam a cada instante a nossa atenção da desgraça que pesa sobre nós tornando a sua percepção fragmentária, e, portanto, suportável."

"Esta será, então, a nossa vida. Cada dia, conforme o ritmo fixado, Ausrücken e Einrücken, sair e voltar; trabalhar, dormir e comer; adoecer, sarar ou morrer."

"Ai de quem sonha! O instante no qual, ao despertar, retomamos consciência da realidade, é como uma pontada dolorosa. Isso, porém, raras vezes nos acontece, e os nossos sonhos não duram. Somos apenas animais cansados."

"A convicção de que a vida tem um objetivo está enraizada em cada fibra do homem; é uma característica da substância humana. Os homens livres dão a esse objetivo vários nomes, e muitos pensam e discutem quanto à sua natureza. Para nós, a questão é mais simples."

"Hoje, e aqui, o nosso objetivo é agüentarmos até a primavera. No momento, não pensamos em outra coisa. Depois desse objetivo não há, por enquanto, outro. De manhã, quando, formamos na Praça da Chamada, esperamos longamente pela hora de irmos para o trabalho, e cada sopro de vento penetra por baixo da roupa e corre em arrepios por nossos corpos indefesos, e tudo ao redor é cor de cinza, e nós também somos cinzentos; de manhã, quando ainda está escuro, todos esquadrinhamos o céu ao nascente, à espera dos primeiros sinais da primavera, e cada dia comenta-se o levantar do sol - hoje um pouco antes do que ontem, hoje um pouco mais quente; em dois meses, num mês, o frio abrandará, teremos um inimigo a menos."

"Poderíamos nos perguntar: quem é esse homem? Um louco, incompreensível e extra-humano, que veio parar no Campo? Ou algo atávico, fora do nosso mundo atual, e mais apto às primordiais condições de vida no Campo? Ou, pelo contrário, um produto do Campo: o que todos nós acabaremos sendo, se não morrermos aqui, se o Campo não acabar antes de nós?"

"As três hipóteses têm algo de verossímil, Elias sobreviveu à destruição externa, porque é fisicamente indestrutível; resistiu à aniquilação interna porque é demente. Ele é portanto, um sobrevivente: o mais apto, o espécime humano mais adequado a esta maneira de viver."

"Assim é, confirma Clausner. Será que os alemães têm tanta necessidade de químicos? Ou é apenas um truque a mais, um novo mecanismo pour faire chier les Juifs, para encher o saco dos judeus? Como não se apercebem do esforço grotesco, absurdo que exigem de nós, de nós, já não vivos, nós, meio dementes na esquálida espera do nada?"

"Bem sabemos que amanhã será como hoje; talvez chova um pouco mais ou um pouco menos; talvez, em lugar de cavar o chão, iremos ao Carbureto para descarregar tijolos. Ou talvez amanhã termine a guerra, ou talvez sejamos todos mortos, ou transferidos para outro Campo, ou aconteça uma dessas reviravoltas que, desde que existe o Campo, são cada vez profetizadas como iminentes e certas. Mas quem é que pode, seriamente, pensar no dia de amanhã?"

"Aos pés da forca, os SS nos olham passar, indiferentes. A sua obra foi concluída, e bem concluída. Os russos já podem vir: já não há homens fortes entre nós, o último pende por cima das nossas cabeças e, para os outros, poucas laçadas de corda bastaram. Os russos podem vir: só encontraram a nós, domados, apagados, já merecedores da morte inerme que nos espera. Destruir o homem é difícil, quase tanto como criá-lo: custou, levou tempo, mas vocês, alemães, conseguiram. Aqui estamos, dóceis sob o seu olhar; de nós, vocês não têm mais nada a temer. Nem atos de revolta, nem palavras de desafio, nem um olhar de julgamento."

Pois bem, se alguém se interessa pela história recente mundial, e os vários pontos de vista de seus acontecimentos, aí está um livro recomendadíssimo. Uma leitura intensa que nos faz refletir sobre o que somos, no que podemos nos tornar e até onde a bestialidade humana pode chegar!

BLOG: oerranteliterario.blogspot.com.br

http://oerranteliterario.blogspot.com.br/2012/09/so-um-comentario-uma-historia-que.html
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JPHoppe 25/12/2012

"Vós não fostes criados para bichos"
A Segunda Guerra Mundial foi um dos marcos mais impactantes na história moderna, trazendo com ela horrores em escalas aterrorizantes. Ainda que 3/4 de século tenham passado, as memórias e efeitos perduram como se fosse ontem, um lembrete do que pode acontecer quando deixamos o pior de nós aflorar.

Primo Levi foi um sobrevivente. Não era especialmente forte, inteligente, sagaz. Preso e aprisionado em Auschwitz, sobreviveu por uma combinação de sorte, acaso e um conjunto de habilidades, mas caso a história fosse rebobinada e tocada novamente, não haveria garantia alguma de viver. No campo, viu que conceitos como "certo" e "errado" são mais complexos que simples palavras, quando havia alguma distinção. Aprendeu que conceitos como "fome", "frio", "trabalho", "dor", "desespero" são tênues demais para refletir o que se passa quando se nega a humanidade à um homem.

Apesar de breve, o livro possui questionamentos fortes e profundos, entremeados num relato apavorante do que foi a vivência em um campo de concentração nazista.

Talvez seja impossível entender o Holocausto. Mesmo que não entendamos as causas e motivações completamente, nós sabemos quais foram as consequências.

Encerro com um dos trechos mais fortes do livro, retirado de "Inferno", "Divina Comédia":

Relembrai vossa origem, vossa essência:
Vós não fostes criados para bichos,
e sim para o valor e a experiência.
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Gui 01/02/2011

A animalização do ser humano
Perfeito.Incrível. Indispensável. Livro de cabeceira, sem dúvida. Um dos melhores livros da minha vida. Um relato impressionante, sem ser sensacionalista, de um judeu italiano preso no Campo de Concentração mais conhecido do Mundo, em Auschwitz.
Simplesmente sensacional, as 176 páginas do livro te prendem e te fazem pensar no quanto as nossas reclamações são futeis e desnecessarias.
Primo Levi nos presentou com essa excelente obra, extremamente reflexiva.
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Angel 28/08/2010

Em É ISTO UM HOMEM, Primo Levi relata de maneira comovente os terríveis dias que passou em um campo de concentração nazista, a convivência nesse local com outros judeus, o sofrimento da separação das famílias e as estratégias de sobrevivência.
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Bell_016 12/08/2010

"Considerate la vostra semenza:
Fatti non foste a viver come bruti,
ma per seguir virtude e conoscenza"

"Relembrai a vossa origem, vossa essência;
vós não fostes criados para bichos,
e sim para o valor e a experiência."
lininha_k 18/12/2012minha estante
Quase chorei quando li essa parte.




Nadinha 26/02/2009

Um livro ótimo sobre o holocausto.
A visão de uma pessoa que realmente viveu a situação é muito impressionante.
Sem sensacionalismos, o autor consegue realmente mostrar o quão odiosa foi a situação.

Vale, já de início, pelo lindo poema apresentado.
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