Ana 08/06/2021
Em resumo, a história acompanha o dia a dia de uma equipe que trabalha furando buracos de minhoca no espaço. A Terra não existe mais, já que os humanos acabaram com ela, e todos da espécie que ainda existem ou fugiram de lá a tempo ou nasceram em outros planetas, como o caso da protagonista Rosemary, que nasceu e cresceu em Marte. Além de terráqueos, os habitantes da nave Andarilha são originários de outros planetas e possuem características únicas, inclusive uma Inteligência Artificial simpática e cheia de sentimentos — e juro, foi a coisa mais incrível que já li.
A trama em si é muito simples, já que tudo gira em torno do trabalho dos tripulantes. O que chama mais atenção, na realidade, é forma como Chambers constrói seus personagens. Cada um é único, não necessariamente por serem de espécies criadas pela autora, mas por causa das suas personalidades, hábitos, culturas e histórias de vida. O Dr. Chefe, por exemplo, é médico e chefe de cozinha, e sua espécie é gênero fluido, ou seja, transita entre os dois sexos durante sua existência. Cada um desses nove seres é essencial: a nave não funciona sem um ou outro.
Dessa forma, o ponto principal de A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil não é exatamente a viagem que os personagens fazem, e sim suas relações interpessoais e os caminhos que eles trilham individualmente. Apesar de conhecermos planetas, termos aquele choque inicial que é comum quando conhecemos culturas diferentes e assim por diante, o que importa mesmo são as ações dos personagens. É através deles que Becky Chambers desconstrói preconceitos e conceitos inerentes à nossa sociedade, ou seja, questões como homossexualidade, estereótipos de gênero e relações interespécies são tratadas com naturalidade e sensibilidade, como deveria ser.
Uma das minhas coisas preferidas nesse livro é o espaço dado às mulheres. De forma geral, a ficção científica é direcionada aos homens e a maioria dos personagens são homens, principalmente se envolve muita tecnologia. Então, quando temos a oportunidade de ler uma obra tão completa do gênero escrita por uma mulher que dá vida a personagens femininas tão importantes, é no mínimo muito bacana.
Sinceramente, tenho apenas duas ressalvas para essa obra. A primeira é relacionada à diagramação: a fonte é muito pequena e o espaçamento entre linhas e das margens é muito apertado, o que dá aquela terrível sensação que a gente lê, lê, lê e não sai do lugar. A segunda é sobre o início da trama, que é bastante lento. Apesar de melhorar consideravelmente, é preciso força de vontade para passar da página 50-60 para ver as coisas começarem a acontecer de verdade — mas eu garanto que vale a pena!
A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil é sobre família, amor e amizade, no fim das contas. O final acabou sendo bastante triste por causa de um acontecimento em específico, mas que acabou servindo para me deixar com muita vontade de ler os outros volumes da série. Os volumes da saga Wayfarers, apesar de se passarem no mesmo universo, podem ser lidos separadamente. Até então, os outros livros lançados são A Vida Compartilhada em uma Admirável Órbita Fechada e Os Registros Estelares de Uma Notável Odisseia Espacial.
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