alexpizziolo 28/01/2021
O que faz de um clássico um clássico
Policarpo Quaresma é dessas leituras que vão cozinhando você lentamente e te envolvendo nas histórias, nos personagens. Tem como ponto de partida a figura central do "major" Policarpo Quaresma, mas passeia pelas vidas e pela cabeça de dezenas de personagem no Rio de Janeiro dos finais do século XIX. É o retrato de uma era.
Descreve cada canto do subúrbio carioca, versa sobre a classe política e sobre o funcionalismo público, fala muito dos papeis das mulheres nessa sociedade (o capítulo que mais me impactou foi o dedicado à Ismênia) e vai de pouco em pouco tecendo essa colcha de retalhos, sem deixar um ponto solto. Caminha entre as ruas, pela capital e pelo interior. Descreve as feições de cada personagem novo, mas se aprofunda principalmente na mentalidade de cada que acompanha. Entre Quaresma, Olga, Coração dos Outros, Albernaz, Genelício, Ismênia, Fontes e muitos outros, somos apresentados à mentalidade de uma época.
É dessas obras que tem a capacidade de encapsular um Brasil. Mesmo que seja um Brasil restrito à capital e recheado de juízos de valor, de ironia e deboche, ainda assim um Brasil que existiu e, temos aqui, assim como nos grandes volumes sobre a história da época, um belo exemplar de literatura que nos oferece com a exatidão das palavras de Lima Barreto um retrato do Brasil oitocentista. Leitura imprescindível!