Lau 07/12/2021Simplesmente ótimo! Por tanto tempo tive tanto preconceito em relação a esse livro, por parecer uma daquelas histórias repetitivas e enfadonhas, que agora até sinto vergonha de ter pensado uma coisa dessas!
Realmente, muitas das circunstâncias que ele traz não são novidade pra ninguém, mas a ousadia de ter colocado esses pensamentos no papel, na época em que foi escrito, é admirável e merece reconhecimento.
Aqui vamos ver críticas catárticas e aos mais diversos aspectos da sociedade brasileira. Desde uma leve alfinetada na tradição do casamento por conveniência, passando pela complicada situação agrícola até assuntos mais pesados, como o racismo, o nosso desprezo pela vida e a indiferença pela morte. Tudo isso permeado por um certo patriotismo de fachada. Familiar, não?
Nada de novo sob o Sol, porém eu não diria que o livro se propõe a trazer novidades daqueles anos e, sim, pintar um retrato do Brasil para ver se ele fica mais claro pro povo e sua desconcertante aquiescência com tudo o que acontece de ruim. Apesar de haver muitas revoltas e conquistas na nossa história, quantas outras centenas, milhares de injustiças não deixamos passar? Absorvemos muito do que nos faz mal e sequer podemos jogar a culpa disso no colo de alguém, porque trata-se de uma ferida muito profunda na nossa estrutura enquanto sociedade. Tentam normalizar o sofrimento do povo brasileiro desde a colonização para, hoje, acharmos que sofrer com a desigualdade faz parte da vida.
Ainda assim, a jornada de Policarpo Quaresma fica como um lembrete de que a nossa mansidão em relação aos problemas do país e aos poderosos pode nos prevenir de sermos punidos, presos ou mortos, mas também não muda nada para melhor. E, se não muda pra melhor, a tendência é continuar piorando.