vininho 23/01/2023
"Quando caí embaixo de uma carreta, o que me doía não era a ferida, era a alma, era a consciência."
Primeiro livro do meu intensivo de clássicos nacionais, que resolvo ler uma edição que possuísse uma introdução mais rica e que acrescentasse valor à minha leitura. Me surpreendi, inicialmente, já por este motivo, pois senti que essa leitura prévia realmente aumentou o que pude aproveitar da leitura desse livro como um todo, bem como me deixou mais a par do contexto histórico da produção do mesmo.
Nosso protagonista, Policarpo Quaresma, é extremamente patriota - e de verdade, valorizando as raízes culturais brasileiras, como as linguagens dos povos originários, assim como as paisagens brasileiras e a nossa terra. Ele sofre de inúmeros maus olhares, por ser um ávido leitor e ter ideias diferenciadas daqueles ao seu redor. Eu amo, também, o momento em que ele trava uma batalha para as formigas, o livro é exatamente sobre os finais tristes de Quaresma, ao ser internado ao final da primeira parte, ao ter sua plantação invadida pelas formigas e, ao final do livro, ficar confinado por não aceitar o tratamento que os militares davam aos presos de guerra. A carta que ele envia à sua irmã, é o momento decisivo deste livro, que me ganha por finalmente.
No mais, um outro ponto impactante para mim, fora a morte de Ismênia. Criada por um pai preocupado demais na reputação e integridade da filha, e não com seu bem estar real, e por uma mãe que só queria saber de casamentos. Assim, a garota sucumbe e falece após ter um casamento interrompido, levada a crer que sua vida agora estava acabada. Ainda, acredito que a principal virtude desse livro, é a escrita de Lima Barreto, que consegue contar uma história interessante, ao mesmo que lotada de significados - como na abordagem ácida de militares mais velhos, que sequer haviam batalhado em suas vidas.
"O general, o almirante e o major enchiam de pasmo aqueles burgueses pacíficos, contando batalhas em que não estiveram e pugnas valorosas que não pelejaram."
"[...] a menina foi se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento. A instrução, as satisfações íntimas, a alegria, tudo isso era inútil; a vida se resumia numa cousa: casar."