spoiler visualizarGabriel1994 26/02/2022
Policarpo Quaresma
Mais um livro lido da coleção do meu avô. Confesso que eu não dava muito para o livro antes de começar. Peguei para ler, pois me interessei pela capa e o título dramático, porém, do início do livro até a metade eu me prendi e me envolvi na leitura, mas o caminho para o final e a conclusão não me agradou.
O que eu mais gostei no livro Triste Fim de Policarpo Quaresma foi a ousadia de Lima Barreto para usar de uma sátira e ironia, muito bem colocadas, para denunciar os preconceitos da época.
O livro é rico em referências de grandes nomes da arte brasileira, francesa e contém outras menções de nomes notórios, porém desconhecidos por mim que me levaram a pesquisas mais aprofundadas.
Um ponto positivo dessa edição da Editora Ática, além da capa que é muito bonita e que faz todo sentido no que se diz respeito a Policarpo, são as notas colocadas para explicar ao leitor os pontos de alta referência ou descrição de uma crítica pontual do autor para algo social e/ou político na época. Na minha interpretação da imagem impressa na capa do livro a leitura que faço é "Sem armas ficou o Patriota.", dentro do romance (que deveria ter sido frisado até o final) fez todo sentido.
Xenofobia, Machismo e Racismo são os tipos de preconceitos retratados por Lima Barreto nesse romance. A forma como as mulheres são colocadas, a linha tênue do pensamento de quê "Mulher só foi feita para casar e ter filhos" e até mesmo a reflexão longínqua do desejo de algumas mulheres de ser homem só para que suas ideias, opiniões e conceitos fossem levados em consideração e com relevância, são uns dos pontos que retrata esse machismo e preconceito da época. Na questão da xenofobia, eu vejo isso muito em Policarpo, pois isso de "Extremo Nacionalismo" e patriotismo da parte de Quaresma era utilizado por ele de uma forma a enaltecer as coisas brasileiras, sim, mas ele de utilizava disso para impor em uma questão mais veemente e agressiva, beirando a ofensa ou sendo ofensivo o que retratava um preconceito pelas coisas e pessoas estrangeiras. A questão racial no livro nos vemos dentro da estruturação dos personagens que são pretos na história, sempre com trabalhos inferiores e com uma massa maior em gamas de classe baixa, o que é uma retratação da realidade da época, mas nos traz a consciência de uma imposição e limitação estrutural e social desde antes (estou comparando os tempos atuais ao tempo retratado na história), coisa que Lima Barreto viu na própria pele e na pele dos pais que eram pretos e sofriam com o racismo de uma forma escancarada.
Engraçado a forma como os livros e os currículos altamente notáveis eram usados por mero status social. Quanto mais livros uma pessoa de classe alta tinha em sua biblioteca como decoração, mais intelecto era ele, porém quando um de classe média ou baixa se metia com livros era visto como uma pessoa enloquente beirando a loucura e perdendo total sanidade.
Acho que o romance em si se perdeu do meio para o final quando Lima Barreto terminou de colocar em jogo a proposta de crítica, ironia e sátira que ele tinha para emendar. Quando ele ficou com as referências em uma mão e o romance na outra, ele embaralhou ambas as coisas de uma forma em que se desequilibrou na hora de repassar, por isso que acredito ter ficado uma bagunça a conclusão. Senti que no ultimo terço do livro faltou mais de Policarpo Quaresma, parece que a loucura imposta no personagem foi o meio utilizado pelo autor de sacá-lo da história e ficou naquele loop de casamentos, dramas de personagens coadjuvantes sendo colocados como algo principal, mas... E o pobre Quaresma? Se o final fosse focado no romance do personagem principal da trama que carrega todo o Drama da parada e carregado junto com ele a conclusão moral do livro, invés de focar o final em uma personagem nada a ver como Olga, teriamos um dos maiores livros nacionais já escrito...
Eu gostei dessa leitura, mas em boa parte foi arrastada e confesso que dei uma cansada enquanto lia, fazendo aquela cara de decepcionado e me senti frustrado com o final de um livro que começou muito, muito bem. Apesar disso NO QUE SE DIZ RESPEITO ao ROMANCE do livro, eu adorei a coragem e ousadia de Lima Barreto, outra coisa a ser considerada, ele não é um autor pré-modernismo pomposo... Não vi frases com palavras rechonchudas que não queriam dizer nada com nada, pelo contrário, bem direto e deixando claro suas intenções com os elementos da ironização que já mencionei anteriormente. Um escritor que fora muito inteligente. Não irei compará-lo a dois grandes das sátiras e ironias que são eternizados pelas suas obras, mas Lima Barreto tem a veia e por esse primeiro livro, digo que ele bateu na trave e foi pra fora, mas chegou perto.
Livro bom em partes, 3.5 estrelas justa. Apesar das insatisfações, tem muitos outros pontos positivos e a serem considerados, por isso... Recomendo a leitura!!!!