spoiler visualizarju 19/08/2022
É triste mesmo o fim de Policarpo Quaresma
"Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por ama-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o." (p. 161)
Lima Barreto faz um retrato bastante verossímil do Brasil em torno de 1890, trazendo inclusive acontecimentos históricos verídicos como a Revolta da Armada e o Presidente Floriano Peixoto, quando a República brasileira era apenas um feto.
Hoje, vivendo o Brasil uma Democracia aos trancos e barrancos, a visão do narrador segue coerente com a realidade do país. Através de Quaresma e de personagens como Albernaz, Ismênia e outros o autor retrata a sociedade da época de maneira muito crítica e perspicaz, abordando temas como política, guerra, casamento, desigualdade social, loucura e até mesmo questões de gênero.
O arco de Quaresma é avassalador.
Um homem apaixonado pelo Brasil, crendo e propagando a ideia de que não só não há lugar melhor que o Brasil em nada, mas que Brasil é bom em tudo. Na terra, na cultura, na história...
Seu patriotismo exacerbado e ingênuo o levava a idealizar o Brasil em todas os aspectos imagináveis, o que o leva a uma queda de impacto muito maior quando depara-se com o Brasil de fato, na prática.
Seu primeiro dissabor foi, após tentar fazer do tupi o idioma oficial do Brasil, por ser a língua originalmente brasileira, ter-se tornado alvo de chacota. O constrangimento e a exclusão fizeram-no padecer a ponto de ser internado.
Quando saiu da clínica, Quaresma tentou encontrar sentido na vida ocupando-se da agricultura. Afinal, que solo seria melhor para o plantio senão o brasileiro?
Ele continuava firme em suas convicções patrióticas, embora compartilhasse menos. No entanto, travando guerra contra formigas e encontrando dificuldade com os políticos daquela área rural por não querer tomar partido de nenhum lado, Quaresma se vê mais uma vez atravessado.
O major voltou à cidade e tornou-se um militar, assim como eram muitos de seus conhecidos. Ele recebeu posto de major, já que combinava com o apelido. E aceitou de bom grado, porque era pelo seu país que o fazia. No entanto, a violência com a qual se deparou, como vítima e enquanto culpado, o fez amargar mais uma vez.
Diante de tanta violência e injustiça, Quaresma tenta a diplomacia novamente. Dessa vez, correspondeu-se diretamente com o marechal, e isto o leva a sua desgraça final. Uma desgraça que começa, antes de tudo, no espírito.
Da idealização romântica à mais profunda decepção; esta é a trajetória percorrida por Policarpo Quaresma.
Se no início ficamos irritados com a ingenuidade de Quaresma ou impacientes com seus exageros, ao final do livro nos indignados com a injustiça que sofre e, acima de tudo, nos compadecemos de seu fim trágico e triste. E, por isso, só nos resta a alternativa à qual recorreu Olga: tentar depositar alguma esperança nas transformações, no futuro.