André 25/01/2013 Publicado originalmente em 1986, Batman – O Cavaleiro das Trevas, escrito e desenhado por Frank Miller, não é só um dos maiores clássicos do personagem, como é, também, da própria DC Comics. Miller foi quem revolucionou toda a imagem que conhecemos do personagem hoje em dia. O herói obscuro, obsessivo e maníaco, tem seu início aqui. O clima noir de investigação e decadência, contrastando com o herói até mesmo pastelão que vinha sendo apresentado por anos a fio antes de sua publicação, levou toda a indústria de quadrinhos a repensar – e imitar – suas publicações, dando um ar mais sério e complexo a mídia, pipocando justiceiros para todos os lados.
É interessante ressaltar que a franquia realista de Christopher Nolan, principalmente no terceiro filme, é notavelmente influenciado por O Cavaleiro das Trevas, chegando até a ter alguns dos mesmos diálogos e cenas. Algo que fez gerar, na cabeça de muitos fãs, a ideia de que se Heath Ledger não tivesse morrido, a história da conclusão da saga seguiria um caminho ainda mais próximo da HQ.
Mas indo direto a história de Batman – O Cavaleiro das Trevas, nela somos apresentados a um Bruce Wayne abalado, velho e aposentado, tendo sido obrigado a deixar a fantasia do morcego de lado. Porém Gotham se encontra em um dos piores momentos de sua história, mais violenta e caótica do que nunca, com uma nova gangue com visual à lá cyberpunk atormentando a todos. Somos então imersos a uma luta interna do próprio personagem, uma batalha sombria, desde seu lado herói-criminoso em crise existencial, até as lembranças da morte de Robin, anos antes, e a sua infância, com a morte de seus pais.
Até que, inconformado, Batman volta a ativa, impondo justiça por meio da violência a torto e a direito. Porém, após dez anos aposentados, as coisas não são tão fáceis como antigamente. Não fosse o bastante, super-heróis estão proibidos de agirem pelo governo americano. Mas não é só: O mundo se encontra em crise, sob a ameaça de uma guerra nuclear entre os EUA e a União Soviética. O clima é tenso. Perturbador, até. E como bem sabemos, é assim que o Morcegão gosta.
Miller é um gênio, e Batman – O Cavaleiro das Trevas, possuí dezenas e dezenas de cenas marcantes e bem desenhadas. As lutas com o líder da gangue são de tirarem o fôlego. Os diálogos com o Duas Caras e a perturbação do vilão são sensacionais. A loucura de Coringa antes de encontrar o homem-morcego é tudo que esperamos, bem, do Coringa. Tudo parece real, tangível, e quadro-a-quadro passa pelos olhos como se fossem cenas de cinema. Recursos que foram criados aqui (como o de partes da história serem contados por intermédio de um programa jornalístico na televisão), até hoje são excessivamente utilizados.
Como se não bastasse tudo isso, após encontrar uma nova Robin quase sem querer, ser perseguido pela polícia, lutar com a gangue dos Mutantes, com o Duas Caras e com o Coringa, vemos um Batman todo em trapos, detonado, quebrado, arrebentado, indo em direção a uma das lutas mais difíceis, épicas e foda da história dos super-heróis. Coisa absurda de tão sensacional, mostrando perfeitamente como Bruce Wayne é um monstro, um gênio, um psicopata.
A edição Definitiva publicada pela Panini, ainda conta com a “segunda parte” de O Cavaleiro das Trevas, de 2001. Essa segunda parte, porém, é coisa para se passar longe, e não possui a mínima semelhança com a primeira parte. Nela não temos o Batman sombrio e durão, mas sim aquele colorido e pastelão de antigamente. Tem gente que considera que o grande problema é levar um título tão emblemático como “O Cavaleiro das Trevas“, mas não é só isso. Há falhas incompreensíveis no roteiro, e o argumento é inteiramente criado em algo raso, sem graça e idiota. As artes são feias, as cores são infantis, enfim… Mas é uma edição bonita, de qualidade, com extras sempre interessantes.
O Cavaleiro das Trevas é uma saga indispensável para qualquer fã de Batman, ou mesmo de quadrinhos em geral. É entender a raiz de tudo que faz esses personagens justiceiros, violentos e perturbados, serem tão legais.
Resenha originalmente publicada em: http://www.sincopedigital.com.br/
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