Kennia Santos | @LendoDePijamas 22/11/2017"Nunca pare de falar, mesmo que sua voz comece a ficar trêmula, está bem? Nunca desista de si mesmo. Você é importante, é amado, e a sua linda voz importa."Classificação: 4/5
Livro: O Silêncio das Àguas (Britainny C. Cherry)
Maggie May é uma criança linda e sorridente. Vive com seu pai, pois sua mãe os abandonou muito cedo, e desde então tem sido apenas os dois. Vira e mexe o pai entra em algum relacionamento e sai, fazendo Maggie não se acostumar a nada. Mas quando ele conhece Katie, as coisas ficam diferentes. Os dois se mudam para uma casa grande e espaçosa, com sua nova mãe Katie e seus meio-irmãos Calvin e Cheryl.
Aos 10 anos de idade, ela já possui um relacionamento muito incrível e eles já se tornaram uma verdadeira família. Maggie sempre teve uma quedinha por Brooks, melhor amigo de seu irmão Calvin, e sabe, mesmo com a pouca idade, que irá passar o resto da vida com ele. Então, como uma típica criança vive sonhando acordada e planeja até um "casamento" para os dois. Brooks, mesmo com seu jeito fechado e negando as coisas, sabe que seus dias sem as "tolices de menininha" de Maggie May não seriam os mesmos.
Mas, na véspera do que seria o casamento fictício das duas crianças, algo terrível, muito terrível acontece. Maggie presencia algo tão horrível que nem um adulto teria estrutura para lidar, quem dirá uma criança de 10 anos. E é naquele momento, ela percebe, que seu mundo desaba e sua vida se resume a ficar calada.
Maggie se cala. Não fala, simplesmente não consegue. E não sai de casa, também. Os seus pais tinham esperança de uma melhora, porém com o passar dos anos, percebem que não vão voltar a ouvir a voz da filha.
Apesar de tudo, Maggie aprende a viver da sua forma: se comunica com os demais através da escrita, lê muuuuuuuuitos livros e vive mil vidas diferentes através das páginas. Ela percebe muitas mudanças ao seu redor: Cheryl que costumava ser sua melhor amiga, desde o dia do seu "incidente" não é mais a mesma, vive saindo com diversas pessoas e fazendo coisas que na mente dela, ocultam sua dor. Os pais estão se distanciando cada vez mais, devido a frustrações e discussões constantes. Calvin é um dos poucos que permaneceram na vida de Maggie, aceitou o jeito como a irmã consegue viver e interage com ela sempre que pode.
"Esse tempo todo eu achava que você estava lendo para fugir do mundo, mas agora sei que você lia para descobrí-lo." (p.135)
Outra constante na vida de Maggie é ele: Brooks. Depois daquele dia, Brooks se tornou o refúgio de Maggie. Sempre mostrando que está presente para o que ela precisar através de pequenos gestos, que aquecem o coração da garota cada vez mais, afinal ela ainda é apaixonada por ele.
"Nem tudo que está em pedaços precisa ser consertado. Às vezes, só precisa ser amado. Seria uma pena se só as pessoas inteiras fossem merecedoras de amor." (p.179)
Mas a vida sempre induz cada ser humano a diferentes caminhos. Um horizonte de opções estão a disposição de Brooks, e Maggie continua onde sempre esteve. Será que mesmo o amor intenso existente entre os dois, será capaz de suportar a separação, tragédia e distância?
"Quando se ama alguém, você o deixa voar para longe, mesmo que não voe junto." (p.198)
No terceiro livro da série Elementos, Brittainy C. Cherry aborda sobre como o comportamento do ser humano pode ser volúvel. Com personagens bem construídos, uma narrativa fluida (apesar de se estender demasiadamente por algumas partes) e uma escrita emocionante e crua, "O Silêncio das Àguas" me fez chorar, rir e refletir sobre o quanto a vida pode ser valiosa, e sobre o quanto precisamos estar preparados para enfrentar os gigantes que aparecem nas nossas vidas.
Às vezes, quando as pessoas achavam que precisavam de um tempo, elas, na verdade, precisavam de alguém." (p.292)
Descontei uma estrela porque assim como em "O ar que ele respira" ao meu ver a autora mexicanizou muito aquele final, deixando tudo extremamente surreal, mas fora isso o livro traz uma mensagem muito importante e necessária.
Eu tinha sim um ranço com a autora, porque odiei, ODIEI "Sr. Daniels" e "A Chama Dentro de Nós". Mas esse livro fez eu mudar completamente minha concepção sobre ela. Não é uma das minhas favoritas da vida, mas subiu no patamar.
Lendo algumas resenhas eu vi pessoas dizendo que se irritaram com a Maggie, que tanto tempo sem falar não era admissível, que ela estava sendo egoísta ao ver as pessoas desmoronarem por causa dela e não fazer nada.
Eu não sou profissional nem nada, sabe? Mas se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida, é que cada ser humano encontra uma forma diferente de lidar com seus monstros. Não é algo que a Maggie tenha escolhido, viver essa vida calada. Ninguém escolhe se fechar, as situações da vida que induzem um ser humano a fazer isso, e vale ressaltar: ela era uma CRIANÇA. Não é como se ela estivesse completamente feliz. Por Deus, a garota tinha uma lista enorme com coisas que ela desejava fazer na vida. Óbvio que ela não estava feliz. Maggie tinha 10 anos quando foi roubada de si mesma. Ela conheceu a vida até aquele ponto. É como se a todo tempo você estivesse nadando, e então acontece algo e tudo que você consegue a partir disso é boiar.
"Às vezes, somos os nossos piores inimigos. Temos que aprender a discernir nossos pensamentos. Temos que ser capazes de distinguir a verdade e a mentira na nossa mente. Caso contrário, viramos escravos das correntes que nós mesmos colocamos em nossos tornozelos." (p.186)
Há quem diga que ela precisava ter se manifestado, mas querem saber de outra coisa? O ser humano só enxerga o que ele quer. Então ainda que Maggie GRITASSE, ESPERNEASSE E REAGISSE, as pessoas iam continuar acreditando naquilo que impuseram na sua própria mente, como um cabresto.
E ainda há quem diga que ela precisava ter se esforçado mais. MAIS? Conseguem imaginar o terror diário que aquela garota vivia? As lembranças que a visitavam todas as noites, quando ela supostamente deveria ter paz no sono? Mesmo com tanta gente tratando-a com hostilidade e indiferença, ela se fez presente, ela se importou, se preocupou. Ela demonstrou, não por fala, mas por ações, que ainda estava viva, e ainda estava ali, e que por mais que todos os dias ao se levantar os monstros a cercassem, ela vencia tudo aquilo para tentar novamente. Mais um dia.
Em parte porque me identifiquei, outra parte porque me conectei muito com a Maggie, esse livro me ensinou muito. Brooks é outro maravilhoso que mesmo com altos e baixos, sempre esteve ali. O mundo precisa disso, sabiam? De pessoas que ESTEJAM.
"Mesmo quando você acorda de manhã pensando que não vai conseguir seguir em frente, ao anoitecer, você percebe que conseguiu, sim. Essa é a melhor coisa da vida, na minha opinião. Não importa o que aconteça, você tem que continuar." (p.310)
Então, vamos viver, vamos ESTAR. Grite, cante, chore. SEJA. Como diria o Will de Como eu era antes de você: "Só se tem uma vida".
"As batidas do seu coração fazem o mundo continuar girando." (p.246)