spoiler visualizarSapere Aude 31/01/2021
Sensacional Mahabharata
Mahabharata, a grande epopeia hindu, é composta originalmente por cerca de 200.000 versos e escrita em sânscrito há 2500 anos.
Narrada pelo poeta Vyasa a Ganesha ou Vinayaka (?destruidor de obstáculos?), símbolo da sabedoria e fortuna. Conta-se uma aterradora batalha apocalíptica na Índia entre os clãs Pandavas e Kurus (Kuravas ou Kauravas) pelas terras férteis e ricas da confluência dos rios Ganges e Yamuna, perto de Délhi. Tal passagem é condensada no célebre Bhagavad Gita, ?o cântico do Senhor?, realçada por histórias paralelas que fornecem uma base social, moral e cosmológica para o clímax da batalha.
A luta para conquistar a gloriosa cidade Hastinapura, a Cidade da Sabedoria ou a Cidade dos Elefantes. Há a analogia do mesmo diante do grito de sua manada em que nada pode detê-lo frente a voz que o chama, como o sábio ao ouvir seu Eu Superior. Hastinapura é o reino que todo homem desperto anseia e deve conquistar.
Kuravas simbolizam a personalidade do homem com seus múltiplos defeitos, o ser mundano dividido em atender o mundo sensível que o requer, efêmero. São os intrusos, os que conduzem à ação não pela luta ou lei e sim pela recompensa. Já os Pandavas representam as forças benéficas e positivas que obrigam o homem a crescer, o escutar da voz interior que o faz levantar sobre suas próprias ruínas e voltar a construir, polindo-se.
A luta de Arjuna, Pandava, é a imagem de toda a humanidade, o desejo de superação, o esforço e a dor, o abatimento frente as dificuldades. A batalha se ganha dia após dia, semeando esforços, realizando uma vida, não o homem que nasce mas o que faz a si mesmo. Krishna é o mestre que aplaina a senda de Arjuna, na sede do nosso Eu Superior,a submissão da personalidade ao Eu capacitado.
A atmosfera dualista entre Devas (deuses) e Asuras (forças demoníacas) é tecida diante de um número de personagens surpreendente. Destacam-se: Vishnu - Krishna, deus supremo, digno de amor e devoção; Shiva, o lado ascético da religião indiana; Indra, rei dos deuses, deus da chuva e pai de Arjuna; Agni, deus do fogo; Vayu, deus do vento; Varuna, deus da água; Surya, deus do sol; Soma, deus da lua; Kama, deus do Amor; Dharma, deus da justiça e; muitos muitos outros.
Marcante é o diálogo entre Yudhishthira, o mais velho dos Pandavas e filho de Dharma, com um Grou, um ser mítico:
- Qual a melhor dentre todas as coisas que são louvadas? A habilidade;
- Qual o bem mais valioso? O conhecimento;
- Qual a maior felicidade? O contentamento;
- Quem é verdadeiramente feliz? Um homem sem dívidas;
- Qual a coisa mais rara? Saber quando parar.
Atemporal ou atual? Tal trecho prendeu-me: ?majestade, a loucura pode surpreender um homem e, sob uma estranha luz, o mal lhe parecerá o bem. Ele ansiará pela insensatez e pela insanidade, e desejara seguir esse caminho. Receberá com boas-vindas a destruição e a calamidade, e por elas será esmagado?.
?O tempo não deixa nada ser verdade para sempre. O tempo é a raiz e a semente: ele dá e ele tira. Há três preceitos que estão acima de tudo: não ferir qualquer criatura; dizer a verdade até onde ela puder ser dita e livrar-se da ira quando não estiver correndo perigo. Acalme-se. O vento não se suja com a poeira que ele sopra para longe?.
Despeço-me, deixando-vos: ?em harmonia com as palavras, atos e pensamentos, contemplarei minha própria alma a brilhar. Sem olhar para trás, sem a ninguém indagar o caminho, prosseguirei, assim como o Tempo, avançando sem recuar. Que eu encontre o Palácio da Sabedoria, que é eterna é imutável em sua perenidade?.
Carlos Roberto de Souza Filho, resenha via Skoob.