DRK 23/02/2022
Apenas déspotas e desespero
Caso eu fosse dividir cada um dos volumes em um tema, eu diria que o volume 1, O Rei do Inverno, era sobre ?Lealdade?, com Arthur lidando com Yenes Trebes e a situação como governante e protetor de seu meio irmão, Derfel lidando com Nimue, Merlin e com o próprio Arthur, seu senhor e amigo, aqui neste segundo eu daria para ele o tema da ?Desconfiança?.
Após a paz que Arthur conseguiu erguer, o que restou pras pessoas se não preencher seu tédio com desconfiança? É isso é terrivelmente real.
Amizades são abaladas, juramentos são quebrados e sangue de aliados é derramado, neste livro dois das crônicas, Cornwell me leva a sentimentos muito ruins em relação a primeira parte dessa história, enquanto grande parte do primeiro era focado na guerra física, aqui a guerra é de religião, o cristianismo tomou ainda mais força, a religião dos pobres possui um poder enorme e num momento de paz ela só cresce cada vez mais, aquela paz tensa entre ele e o paganismo que existia no primeiro morreu aqui e os personagens se perguntam quem irá vencer? hoje sabemos quem venceu essa conquista.
A história aqui possui alguns saltos no tempo, no total se passam 15 anos desde o anterior e ao longo desses anos vemos a vida de Derfel prosperar, conhecendo a mulher de sua vida, tendo duas filhas, uma boa morada, ao mesmo tempo que Arthur vai aos poucos ficando mais acanhado, sua vida estando do que ele queria, a Britânia em paz mas os homens quebrando suas promessas e o ódio entre o povo só aumentando, levando a pergunta: Vale a pena lutar por isso?
As diferenças entre as pessoas sempre existirá, isso é uma certeza numa sociedade, mas o preconceito contra os preceitos de outro grupo é inevitável, nosso mundo é completamente diferente do mundo do século V mas ainda nos matamos por isso, apenas achamos motivos diferentes.
Essa questão me leva novamente para ?A Dança da Morte? do King, ?A gente vai aprender com isso??, e sabemos que a resposta é não; essa luta contra o inevitável só deixa até mesmo o melhor dos homens destruído; tento evitar spoilers mas nesse livro os protagonistas mudam demais.
Arthur se quebra com a conclusão me fazendo se perguntar se o herói amável que vi irá se tornar um déspota, se esse tal ?Inimigo de Deus? que os cristãos apelidaram realmente se tornará um, e sabendo que a história se trata de uma tragédia eu fico com medo do livro 3.
O livro constrói bem essa quebra entre eles e eu também, vemos a luz antes de cair nas sobras e rimos antes de chorar, eu chorei e lembro que a última vez que chorei com raiva envolta de tristeza num contexto parecido foi no Casamento Vermelho no livro 3 de SOIAF.
Tudo em ?O Inimigo de Deus? é desacreditado. Merlin, a bondade de Arthur, a paz da Britânia, o destino de Derfel? pobre Derfel, eu passei a amar ainda mais o personagem, que continua virtuoso, bondoso, leal e cheio de dúvidas, sobre sua família e sobre Arthur.
Dito tudo isso, acho que ?Desconfiança? é o tema perfeito deste livro dois sim, mas também poderia ser? desespero.
Nota: 10/10