Luciano Luíz 12/11/2022
No início dos anos 2 mil houve uma onda de lançamentos de quadrinhos japoneses por editoras como Conrad e JBC. Antes disso em 80 e 90 era raro algum mangá ser publicado no Brasil (AKIRA pela GLOBO e RANMA 1/2 pela ANIMANGÁ) e quando isso acontecia era num formato bem diferente do que vemos hoje.
Naqueles tempos antigos sua ordem de leitura era convertida para o modelo ocidental, as onomatopeias (aquelas palavras que se destacam como sons e outras coisas: POF, SOC, TUM, BOOM, etc.) eram apagadas e substituídas por caracteres ocidentais. E claro havia o formato americano, bem maior que o chamado formatinho que era o mais popular por aqui. Sem contar que alguns eram coloridos e iam contra o original preto e branco. Mas, enfim...
Depois de 2 mil começaram ser publicados em sua ordem de leitura oriental (aquilo que chamamos de detrás pra frente) e as onomatopeias passaram a ser mantidas (pois muitas delas fazem parte da arte e apagando-as perde-se parte dos desenhos). Claro que tinha problemas como diversos formatos tentando simular os volumes japoneses com metade das páginas e até num modelo um pouco maior. Os primeiros foram CAVALEIROS DO ZODÍACO, DRAGON BALL, SAMURAI X, SAKURA CARD CAPTOS, VÍDEO GIRL AI e mais um e outro. E obviamente estava vendendo bem.
Lá por 2003 a editora OPERA GRAPHICA lançou alguns mangás, e entre estes havia um chamado ALITA BATTLE ANGEL GUNM. Era uma maravilha, 260 páginas (algo assombroso se comparado nas publicações das demais editoras com 80, 100 páginas), mas... tinha aquele porém. A Opera Graphica publicou sem ter uma autorização, ou seja, não comprou o direito de publicação e essa edição era pirata. Era na ordem de leitura ocidental com as típicas alterações. Assim mesmo não importava, pois eu queria ler.
Daí aconteceu da editora JBC adquirir legalmente o direito de publicação e assim a Opera Graphica teve de cancelar o que nunca deveria ter feito.
Mas vale afirmar que a capa da versão pirata era muito bonita e aliás, tinha duas capas, a da frente e a de trás diferentes. Enquanto as outras editoras publicavam os mangás com a mesma ilustração na capa e contracapa para evitar que o jornaleiro se confundisse na hora de ajeitar em sua banca...
A JBC publicou a série em 18 volumes. Com as capas originais, e claro, com o esquema de repetir frente e verso. Apesar disso, tinha sobrecapa e a capa cartão era de uma tonalidade só simulando a edição original japonesa. E o título ficou: HYPER FUTURE VISION GUNNM, e sobre este a frase: EDIÇÃO OFICIAL - BRASIL.
Era uma bela edição, tirando o fato de que estava impressa em papel jornal e o tom de preto da tinta estava tão forte que muitos detalhes de personagens e cenários praticamente ficavam ensombreados. Não cheguei a ver a edição da Opera Graphica para comparar. Quando possível vou catar um exemplar no Mercado Livre ou Estante Virtual.
Na minha cidade veio somente o volume 5. Comprei na época e não deu pra aproveitar, até porque o que li não fazia sentido. Sabe como é, pior que pegar o bonde andando...
Aí os anos passaram e saiu o filme em live action. Uma adaptação que bebe mais do animê que do mangá. Aliás o animê é interessante, mas conta apenas um pedaço da história. O filme segue mais ou menos por esse caminho. Apesar de ser uma obra cinematográfica imponente fica distante do mangá em praticamente tudo no quesito de roteiro e qualidade visual. Toda a violência do quadrinho é inexistente no filme ainda que com todas lutas caprichadas. Na animação há uma grande dose de violência também. Mas vale a pena dar uma conferida assim mesmo no filme só para ter uma noção do quanto faz falta a brutalidade
Bom, por causa do cinema a editora JBC republicou em novo formato o mangá, um pouco maior e em apenas 4 volumes que parecem tijolos. Poderiam ter incluído sobrecapa. Tem algumas páginas coloridas no volume 1 e o que mais é colorido nos volumes anteriores (apenas ilustrações, não páginas) foi colocado em tons de cinza.
O título ficou BATTLE ANGEL ALITA - GUNNM HYPER FUTURE VISION.
Mas a história em si é boa? Um dia um médico de partes cibernéticas está andando pelo lixão quando encontra um busto de uma ciborgue. A leva para seu laboratório e a conserta batizando-a de GALLY (aqui no ocidente é conhecida como ALITA) e sem recuperar suas memórias ela então passa a viver desventuras na Cidade da Sucata que fica abaixo de Zalem, uma cidade voadora, o Paraíso aos olhos dos pobres indivíduos que sobrevivem de restos na superfície e todo tipo de atrocidade, pois ali somente os mais fortes estão no topo da cadeia alimentar.
Nisso temos um pouco de tudo, Alita se apaixona, briga bastante, tem uma personalidade durona (e que com o passar dos anos fica bem diferente, tipo mais brincalhona - eu gosto mais dela séria), perde amigos em situações trágicas e assim vai se desenvolvendo o enredo principal mais misterioso que é saber o que de fato é aquela cidade voadora e quem por lá vive e as demais histórias que ocorrem em diversas regiões abaixo.
Obviamente é uma história de ficção científica, o visual dos cenários são primorosamente caprichados, as personagens tem muitas variantes e atualizações. E claro, há mais perguntas que respostas com o passar da história.
A série conclui de forma interessante, mas há outras duas: LAST ORDER e CRÔNICAS DE MARTE onde finalmente chega ao fim (ou enquanto o autor, YUKITO KISHIRO não resolver fazer outra).
No Brasil LAST ORDER saiu em 12 volumes. A série final são 9 e ainda não tem data. Mas com certeza um dia vem.
Enfim, ALITA compensa por diversos aspectos. Tem uma história boa, ótimas cenas de ação, há humor, jogo de mistérios e pouco a ser descoberto (pelo menos na primeira série) e um cenário com personagens cativantes (até os vilões você acaba gostando) com falas cruas em alguns momentos.
O mangá não tem restrição de idade, mas na minha opinião é um material destinado principalmente ao público adulto. Mas daí vai de cada pessoa. Pois há cenas violentas e algumas falas pesadas.
Em resumo, é um dos melhores quadrinhos (re)publicados por aqui nos últimos anos. Vai atrás que vale o investimento.
L. L. Santos
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