Contraponto

Contraponto Aldous Huxley




Resenhas - Contraponto


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Fabio Shiva 21/07/2012

Sinto que se eu fosse escrever tudo o que esse livro me fez pensar...
...teria que redigir ao menos um livro do mesmo tamanho, pois seria praticamente um comentário para cada frase. Por isso resolvi adotar a estrutura de tópicos, em uma tentativa de registrar ao menos as percepções mais importantes, sem a necessidade de uma conexão lógica entre um pensamento e outro.

* Primeiro as informações genéricas: Aldous Huxley foi sem dúvida um dos mais importantes autores do século XX. Sua obra mais conhecida é “Admirável Mundo Novo”, uma feroz crítica à sociedade moderna que é sempre comparada com o “1984” de George Orwell. Outros livros marcantes de Huxley são “A Ilha” (meu preferido dele), “O Macaco e a Essência” (narrativa satírica e meio esquisita), “As Portas da Percepção / O Céu e o Inferno” (onde Huxley descreve suas experiências com o peyote), sem falar em outros que ainda não tive a oportunidade de ler, tais como “Sem Olhos em Gaza” e “Os Demônios de Loudon”.

* Li esse “Contraponto” agora pela segunda vez. A primeira vez que li foi durante a adolescência, lá pelos 17 anos. Ao ler de novo, martelou em minha mente o conselho de Schoppenhauer, para quem não devemos jamais ler um livro sem primeiro pensar cuidadosamente sobre o assunto tratado no livro. Agindo dessa forma, garante o filósofo, evitamos o grande risco de absorver os pensamentos de outra pessoa como sendo nossos, sem que tenhamos a chance de descobrir se concordamos ou não com eles. Como é sábio esse conselho!

“Contraponto”, entre outras obras que li no mesmo período, foi um dos ingredientes para que eu me tornasse ateu na época. Não lembrava mais disso, só lembrei ao reler. Em minha sede intelectual na época, tomei aquele ceticismo irônico e um tanto depressivo como modelo de conduta, como o caminho que deveria trilhar para me tornar eu mesmo um “intelectual”.

De volta ao mesmo livro, depois de quase vinte anos, foi a mim mesmo que reencontrei, com quem pude conversar, conviver e aprender. Que bela oportunidade! Mais uma dádiva e tanto proporcionada pelo hábito da leitura.

Ao mesmo tempo, é claro, foi com Aldous também que conversei, convivi e aprendi. Sinto-me agora mais íntimo e conhecedor da mentalidade desse grande escritor. Tive que tirá-lo um pouco do pedestal onde eu o havia colocado, é verdade, mas isso foi necessário para que eu enxergasse melhor o homem por detrás das ideias. A paixão adolescente foi substituída por um amor mais centrado e maduro.

* É preciso também prestar um tributo à sincronicidade. Resolvi reler “Contraponto” após ter lido “O Senhor Embaixador” de Erico Verissimo, pois acreditei enxergar alguma semelhança na maneira de estruturar a narrativa nos dois romances. E não é que descubro que “Contraponto” foi traduzido para o português por Érico Veríssimo (assim mesmo, com acento). Serão os dois a mesma e única pessoa? Tudo leva a crer que sim, pois a primeira edição nacional saiu pela editora Globo de Porto Alegre.


* “Contraponto” pode ser considerado um romance de ideias. O próprio Huxley faz uma deliciosa descrição desse estilo por intermédio de seu alterego, o cerebral escritor Philip Quarles:

“O romance de ideias. O caráter de cada uma das personagens deve-se achar, tanto quanto possível, indicado nas ideias das quais ela é porta-voz. Na medida em que as teorias são a racionalização de sentimentos, de instintos, de estados de alma, isto é praticável. O defeito capital do romance de ideias é que somos obrigados a por em cena pessoas que tem ideias a exprimir, o que exclui mais ou menos a totalidade da raça humana – à parte apenas 0,01 por cento. Aqui a razão pela qual os romancistas verdadeiros, os romancistas natos não escrevem tais livros. Mas, ora! eu nunca pretendi ser um romancista nato.”

“O grande defeito do romance de ideias é que ele é uma coisa artificial, arranjada. Necessariamente; porque as pessoas capazes de desenvolver teses formuladas de maneira adequada não são bem reais; são levemente monstruosas. Torna-se um tanto cansativo, com o andar do tempo, viver com monstros.”


* Essa ideia de um personagem alterego do escritor foi a chave para desvendar o grande mistério de “Contraponto” nessa segunda leitura. Philip Quarles de imediato sugeria o alterego, por ser um escritor ultra-racional, a ponto de ser despojado das emoções. Aldous Huxley possui uma dessas inteligências espantosas, que combinada com uma erudição verdadeiramente impressionante acaba por dar a impressão de que ele é vagamente inumano. Acho que foi Anthony Burgess, outro grande da literatura inglesa, que certa vez descreveu Huxley como um “deus distraído”.

* Pois bem. A um certo ponto dessa segunda leitura começou a me incomodar a maneira como Huxley descreve um outro personagem, Burlap. O editor de uma revista literária é descrito de forma cínica e impiedosa por Huxley: um hipócrita com pretensões à espiritualidade que não passam de pretextos para exercitar a sua pervertida sensualidade. Burlap é detonado por Huxley com tanta intensidade que chama a atenção. Percebi que era um personagem central para decifrar a trama.

Foi quando percebi que Burlap também é um alterego de Huxley! É justamente por isso que o pobre é fustigado com tanta veemência: é a si mesmo que Huxley chicoteia com tanto gosto. Burlap representa o lado espiritualizado e místico de Huxley, que ele desprezava em si mesmo e queria combater a todo custo.

Esse insight inicial logo trouxe a revelação: todos os personagens de “Contraponto” são alteregos de Huxley!!!

Com habilidade ímpar, o autor deu vida e voz a facetas de sua própria personalidade e colocou-as para interagir, se debater e se chocar umas contra as outras. John Bidlake é o sensualista puro e experimentado, assim como Walter Bidlake é a sua antítese, a versão envergonhada de si mesma. Everard Webbley é o facista escondido em cada um, e Ildidge é a sua contraparte, o revolucionário que também existe em cada um de nós. Spandrell é o cínico por excelência, Rampion é o demasiadamente humano, e por aí vai.

Como não ficar de boca aberta diante da magnitude de tal obra? Um verdadeiro prodígio do intelecto!!!

* Uma vez de posse da “chave do enigma”, no entanto, me propus a desconstruir o mito do grande autor e enxergá-lo o mais humano possível. Era para mim uma questão fundamental de aprendizado, tanto de literatura como de vida.

Aldous Huxley não pôde se furtar a ser um produto de seu tempo. Ele foi uma privilegiada testemunha do advento da sociedade de massas, da indústria cultural e da desenfreada corrida pelo progresso tecnológico, fenômenos que marcam nossas vidas até os dias de hoje. Ele viu lá atrás que a humanidade estava dando perigosos passos, e enxergou muito bem as terríveis consequências desses passos.

O problema é que essa visão o conduziu a um pessimismo cheio de desespero. Acaso permitisse a si mesmo aceitar a realidade de uma dimensão espiritual (essa dimensão foi suprimida a custo de muito esforço: Burlap é prova disso), esse pessimismo não teria sido tão definitivo, certamente não teria a última palavra. Mas se isso acontecesse, Huxley não seria Huxley: teria virado algum tipo de Hermann Hesse.

* Uma evidência dessa peculiar cegueira de Huxley é o uso aparentemente indistinto que ele faz das palavras “espírito” e “mente”, como se fossem a mesma coisa. Seria necessário consultar a obra original para se ter certeza a respeito, mas é essa a impressão que dá a tradução: que para Huxley o espírito é apenas a manifestação mais alta do intelecto. Colocando o intelecto acima de tudo, não é de se admirar que o resultado seja o pessimismo.

(Aliás, de grande valia para mim foi a definição do Iogue Ramacháraca a respeito do pessimismo como uma doença tipicamente mental. Pois nem o corpo nem o espírito conhecem o pessimismo, apenas o intelecto.)


* Outra questão que evoca o texto original está no próprio título. “Point Conter Point” (algo como “Ponto Contra Ponto”) sugere com muito mais vivacidade essa ideia de que os personagens são “pontos” da personalidade do autor deliberadamente colocados em conflito.

* Essa leitura foi inestimável! Dentre muitos outros ganhos, percebo que obtive uma boa chave para encarar a leitura de “Ulisses” de James Joyce, que havia me espantado por estar embebido no mesmo pessimismo cínico. Quem sabe agora eu encaro de vez esse tijolo!

* Como tive que esperar um pouco para postar os comentários finais, aproveitei para ler o que havia escrito. E já me deparo com a necessidade de fazer uma correção: em “As Portas da Percepção / O Céu e o Inferno” Huxley narra suas experiências com a mescalina. Quem experimentou o peyote foi o Carlos Castaneda em “A Erva do Diabo”.

(17.04.09)

Aproveito para convidar você a conhecer o meu livro, O SINCRONICÍDIO:

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Evy 14/10/2010minha estante
Nossa que super resenha!
Apesar de ter lido só Contraponto do Huxley, acredito que ele mereça realmente algo deste porte que escreveu :)
Abraços.


Marlo R. R. López 11/02/2011minha estante
"É preciso também prestar um tributo à sincronicidade. Resolvi reler 'Contraponto' após ter lido 'O Senhor Embaixador' de Erico Verissimo, pois acreditei enxergar alguma semelhança na maneira de estruturar a narrativa nos dois romances."

Ótima resenha! A propósito, existe um romance de Erico chamado 'Caminhos Cruzados', que é quase que um 'Contraponto' brasileiro. Vale a pena.

E o Erico da tradução do livro do Huxley é o nosso escritor, mesmo.

Abraço!


Fabio Shiva 12/02/2011minha estante
Olá amigos!
Agradeço os comentários e as reflexões!
Viva Aldous Huxley!!!
López, valeu pela dica do Erico hem!!!


Duda de Lemos 17/07/2011minha estante
Muito Obrigada pelo oportunidade de ler a sua resenha, e descobrir que quando eu li "Contraponto" eu o senti muito, mais não entendia...
Agora vou ler de novo, depois de 7 anos desde que li, e sinto que vou descobrir o que senti, e o que ando sentindo hoje.
Acho que também vou reler "Admirável Mundo Novo" e "As Portas da Percepção/Céu e Inferno"...
Por favor, Fabio, escreva mais e mais resenhas, e me dê a oportunidade de lê-las!
Um Abraço


Fabio Shiva 03/08/2011minha estante
Oi Duda! valeu demais pelas calorosas palavras, fico muito feliz por ter sido útil de alguma forma!


Evellyne.Novaes 11/04/2012minha estante
Fábio, Parabéns pela Resenha!!! Maravilhosa obra de Huxley...achei fantástica a maneira como ele coloca seus personagens em conflito para discussão e como ele tem um pessimismo (realista) do futuro e nossa desenfreada busca pela modernidade!! Hoje podemos ver, que ele esteve mais que certo! Parabens e continue escrevendo...


Carlos Patricio 21/07/2012minha estante
Parabens pela resenha cara! Ja vi q vc le bastante e absorve tudo.
Até hoje só li Portas da percepção do Huxley, mas ja tenho vontade de ler os outros.
Falando em Portas da percepção: voce disse q as experiencias de huxley nao foram com peyote, e sim com mescalina. Porém está errado, pois na verdade são os dois! Mescalina é a substancia retirada do cacto peyote... Por isso cada um fala de um jeito. OBS: os efeitos do ácido lisérgico LSD são semelhantes aos da mescalina (peyote)


Fabio Shiva 21/07/2012minha estante
Oi Evellyne, valeu demais pelo comentário e pelas boas energias! Huxley é o cara né! estou com vontade de lê-lo de novo!


Fabio Shiva 21/07/2012minha estante
Olá Carlos, valeu mesmo pelo comentário e pelas informações! O que acho mais impressionante em As Portas da Percepção foi o Huxley ter lembrado daquilo tudo depois que a onda passou!!!


Carlos Patricio 22/07/2012minha estante
Eu também achava isso cara... Mas depois que usei LSD uma vez (rsrs), entendi-o completamente. É realmente incrivel tudo o que vc sente, e cada sensação fica guardada na memoria com incrivel potencialidade. Refleti sobre o assunto e considerei que tambem seria capaz de descrever tudo o que senti, e em ordem "cronologica", sem dificuldade alguma. Só, é claro, que não tão bem quanto nas palavras dele.


Heloisa 25/05/2018minha estante
A melhor resenha deste site.


rejane.p.martins.1 24/05/2024minha estante
Puxa, que inteligência primorosa! Eu estou lendo Contraponto pela segunda vez - era adolescente na primeira - e não havia me dado conta disso, de que todos eram o autor.




Evy 13/10/2010

"Os homens vivem como idiotas, como maquinas, todo o tempo, tanto nas horas de trabalho como nas horas de folga. Como idiotas e como maquinas, mas imaginando que vivem como seres humanos civilizados, mesmo como deuses"

Contraponto é uma obra no mínimo interessante e, eu diria até que, exótica. Huxley faz uma sátira sobre a desumanização do século XX onde tudo se resume a correria do dia a dia que transforma as pessoas em máquinas. Tudo é mecânico, nada é espontâneo. O autor combina diversas histórias simultaneamente, apresentando o relacionamento entre casais que se gostam, mas não se comunicam devido a esta vida febril e movimentada, tornando-se dessa forma solitários.

Chamei de exótica esta obra pois não foi escrita de forma tradicional. Huxley buscou escrever com base na analogia do contraponto musical. Segundo Sergio Augusto de Andrade, autor do prefácio, "comparáveis a trechos de certas sinfonias, as situações se repetem e se desdobram em diagramas quase simétricos".

Fugindo também do romance tradicional, não tem felizes para sempre. Com a correria do dia a dia, as personagens de Huxley se descobrem isolados um dos outros e acabam solitários, isolados de si mesmos. De qualquer forma, é uma obra brilhante e que vale a pena ser lida!
Léia Viana 18/10/2010minha estante
Sua resenha ficou muito interessante, despertou em mim o desejo de ler este livro.


Dri Ornellas 21/11/2010minha estante
Esse livro já passou várias vezes por mim e não comprei. Fiquei mais interessada agora. Suas resenhas são sempre ótimas!!


Duda de Lemos 17/07/2011minha estante
Adorei sua resenha!
Me envolvi tanto quando li Contraponto que tinha um misto de sentimento de querer largar o livro e não ler mais porque o mecânico e insípido da vida das pessoas estava me angustiando, mas ao mesmo tempo não conseguia abandonar a leitura.
É um livro que quando me lembro dele, consigo reviver as sensações que senti quando o li, e foi há um bom tempo. Foi um livro marcante pra mim, e fiquei até com vontade de ler de novo! =)


IGSON FERREIRA 24/10/2013minha estante
Adorei sua resenha. Adoro Huxley e fiquei doido pra ler esse livro.


Chico Jr 23/03/2021minha estante
Sua resenha está fantástica...tirou a minha dúvida sobre comprar ou não o livro... obrigado!!!




Alana Anillo 28/02/2021

Huxley usa da arte pra pintar um cenário exótico (mas também realista) das relações sociais
Contraponto é um livro pra refletirmos principalmente sobre a mecanicidade das relações sociais. É sobre a desumanização que trouxe o século XX.

Não tem um enredo específico. É um emaranhado de situações, personagens, personalidades, questionamentos e diálogos. Ele tá longe de ser um livro tradicional, com início meio e fim.

Saímos de um ponto de vista para outro a todo momento, pois cada personagem traz consigo uma visão de mundo bem caricata e específica. Temos contrapontos entre valores morais e éticos, religião, ciência, arte, filosofia (entre muitas outras coisas).

- O próprio Huxley é base para um dos personagens. -

O embasamento e a analogia ao contraponto musical é genial. O texto de orelha da Biblioteca Azul cita que "a expectativa induzida por certas situações acaba resolvida não por desfechos, mas por rondós." - uma forma musical que consiste em diversas seções musicais que sempre culminam na repetição da seção principal. Ou seja, é cíclico.

Huxley nos faz acreditar que por mais que fujamos do padrão, de alguma forma retornaremos a ele, seja qual for o número de seções diferentes, como no rondó.

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Ademais, não achei de tão difícil compreensão quanto vi sugerido por muitas resenhas aqui. Há algumas citações em francês que necessitam de tradução, mas de resto é bem compreensível.
Alê | @alexandrejjr 05/03/2022minha estante
Bela exposição da tua experiência, Alana! Parabéns!


Alana Anillo 17/03/2022minha estante
Gracias, Alê!




Mariana.Laranjo 27/06/2020

Contrapontos de opinião
Alguns de seus personagens foram completamente contrários a muitas de minhas ideologias, o que dificultou a leitura em muitas partes. Como um exemplo, figuras de homens poderosos, opressivos e machistas muitas vezes me atingiram diretamente. Vemos em apenas uma de várias passagens: "(...) não reconhecia, está claro, a superioridade da mulher. Mas a consciência que dessa superioridade ele tinha de uma maneira obscura, e o despeito que sentia por isso, o desejo de provar que, apesar de tudo, ele valia tanto quanto a esposa, ou no fundo, talvez mais do que ela, condicionava toda a sua vida. (...) a relutância em reconhecer o fracasso e a inferioridade pessoal (...) ele não podia confessar-se vencido."

De qualquer forma, o livro é rico em contrapontos, abordando histórias distintas que se cruzam e se interligam. "Alternam-se os temas. Mais interessante, as modulações e as variações são também mais difíceis. O novelista modula repudiando situações e caracteres. Ele mostra várias personagens que se apaixonam, ou que morrem, ou que oram, de maneiras diferentes - dissimilitudes que resolvem o mesmo problema. Ou vice-versa, personagens semelhantes confrontadas com problemas dessemelhantes."

Além disso, o livro é denso e cheio de informações. Tomei algumas notas e vou deixar guardadas comigo diversas passagens, mas assumo que a leitura não foi nada fácil. Acredito que cada pessoa tenha uma experiência única lendo um mesmo livro, e isso que realmente importa. Entretanto, ainda não sei se o recomendaria a algum conhecido.
Kassius 28/06/2020minha estante
??? uau!!




May 13/05/2018

Denso
Achei o livro bem denso, não foi muito o que esperava mas me surpreendeu. Tem diálogos muito bons, assim como alguns enfadonhos. Tenho algumas notas que vou levar pra vida toda.
Amanda.Area 08/08/2018minha estante
Oi May, pode enviar uma foto da sua edição de O Auto da Compacedida disponível para troca? Meu e-mail é psynemushroom@hotmail.com




ReiFi 13/08/2010

Contraponto - Aldous Huxley
Terminei Contraponto.

Para alguns historiadores o século XIX deveria ter terminado após a 1º Guerra Mundial (1914-1918), isso porque a Europa estava muito parecida, até então, ao que tinha sido nas últimas décadas: países governados por imperadores, nobreza financiando vultosas festas, exércitos tinham homens a cavalo e as damas andavam com pomposos vestidos.

Quatro anos depois a Guerra acabava. As coisas mudaram com uma velocidade assustadora: Presidentes governavam; automóveis tomavam as ruas; o submarino e o avião infringiam leis da física até então conhecidas; em vez da ópera e valsa vienense, o rádio, o jazz, os discos e o cinema, questionavam o gosto erudito da nobreza; o mundo não se dividia mais entre os partidários do Antigo Regime e os defensores dos valores da Revolução Francesa. Nesse momento, a disputa se dava entre o capitalismo e socialismo.

As mulheres ganharam espaço no meio social – e não foram apenas seus cabelos que encurtaram e as saia que subiram, estas trabalhavam nas fábricas, lojas e escritórios, enquanto que seus homens guerreavam . Contraponto entra nessa estória como O ensaio sobre esse mundo moderno. Huxley constrói uma trama demonstrando todas essas mudanças rápidas e conflitantes...

Para saber mais acesse:
http://catalisecritica.wordpress.com/2010/04/02/contraponto-aldous-huxley/
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Mel 10/07/2012

Não gostei.
O começo dá a impressão de ser um livro interessante, mas acabei arrastando a leitura até conseguir terminar. Fala de diversos casais, aborda muito as traições, os personagens sem mais nem menos ficam discutindo política ou assuntos intelectuais, enfim. Chato, chato, chato.
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Tiago 13/10/2011

Diálogos muito bem construídos: Aldous Huxley ambientou diversos personagens da classe média alta e classe alta de Londres no Pós-Primeira Guerra. O tema central é o existencialismo, o tédio, os próprios contrapontos nos argumentos dos personagens, questionamento da religião, filosofia, ética. Tem niilismo, autoritarismo, tragédia, pseudo-intelectualismo, ciência, deus, diabo...

Mark Rampion, um dos personagens do livro, tem uma interessante visão naturalista em relação ao homem: quanto mais nos distanciamos de nossas atitudes intrinsecamente animais, menos humanos nos tornamos.

Livro essencial pelos desdobramentos que as discussões dos personagens proporcionam.
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Erick Cruz 12/03/2024

Ainda bem que termina
O livro realmente relata contrapontos - o que chamaríamos atualmente de ponto de vista - ambientando e ambientado dentro da cosmovisão inglesa pós primeira guerra mundial. Havendo quase um maniqueísmo entre as personagens sobre temáticas políticas e religiosa (cristão mais precisamente). Os diálogos são banhados por estrangeirismos (mesmo para os ingleses) e por referências eruditas de artes. É um bom livro no aspecto cultural, ambiental e linguístico, entretanto, extremamente exaustivo quanto as estórias e personagens. Não é um livro que recomendaria para lazer. Foi realmente entediante toda a leitura.
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mila 01/08/2012

Visionário!
Primeiro livro que li do Aldous Huxley e posso dizer que fiquei fascinada. Logo no começo fiquei surpresa com a forma que ele descrevera as situações e percebi que não havia um enredo a seguir e sim o seu objetivo foi a de desmascarar e evidenciar as várias facetas humanas em uma época e sociedade em busca de novos rumos e sensações. Uma das personagens mais interessantes para mim foi a Lucy Tantamount, uma mulher inteligente, culta e hedonista. Huxley enxergou o poder que as mulheres tinham em mão e que a independência destas estava apenas começando, para ilustrar isto, anotei este trecho: "Lucy, insistia, quando se achava com homens, em pagar o máximo possível. Pagando, ela era independente, podia agir como entendia."[pg170].

É um livro muito rico tanto de ideias como diálogos e o vocabulário então, anotei umas trinta palavras, na qual eu desconhecia. Uma obra fascinante e mais do que tudo Huxley fora um visionário!

Tirei uns trechos que foram para mim, foram um dos mais extraordinários do livro:

"A poesia pode ser demasiadamente verdadeira. Pura como agua destilada. Quando a verdade não é nada senão a verdade, ela é antinatural; uma abstração que com nada se parece do mundo real. Na natureza há sempre tantas coisas estranhas misturadas à verdade essencial! Eis por que a arte nos comove - precisamente porque está depurada de todas as impurezas da vida real." [pg16]

"Às vezes lemos todo um livro sem achar uma simples frase de que nos possamos lembrar para fazer uma citação. Para que servem livros assim, eu lhe pergunto?" [pg82]

"O coração é uma espécie curiosa de monturo; a imundície, e o grande encanto do vício reside em sua estupidez e baixeza."[pg311]]

P.S: Comprei este livro na Feira do Livro da minha cidade, em Sao Luis, talvez fora um dos maiores investimentos que eu fiz em um livro e um dos mais em conta possível, digo que tive muita sorte pois custou apenas R$10,00 e ainda comprei-o totalmente novo, o que se é muito raro de encontrar na Feira do Livro em minha cidade que geralmente são mais elevados os preços de livros de tal porte.
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Wellington Ferreira 16/03/2013

Começo cansativo...
Abandonei, pois achei o começo e descrição dos personagens e situações extremamente cansativos.
Não que seja um mal livro, pelo contrário... quem sabe em outra época, com mais calma, eu retome esta leitura e o termine.
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Marcelle 02/01/2014

Contraponto - A Humanidade Despida
Depois de tanto tempo sem escrever, não poderia fazer a minha volta com um escritor não menos que sensacional, o inglês Aldous Huxley. Do contrário do que muitos já devem estar pensando, não vou falar sobre Admirável Mundo Novo, grande clássico desse autor, mas sobre Contraponto, um livro igualmente genial. Publicado em 1928, figura na lista dos 100 melhores romances do século XX, publicada pela Modern Library.
Seu mérito já começa na própria estrutura do romance, apenas por ser um romance de ideias, no qual cada personagem representa algo. O próprio autor, através do intelectual personagem Philip Quarles, exprime sua intenção:

“O romance de ideias. O caráter de cada uma das personagens deve-se achar, tanto quanto possível, indicado nas ideias das quais ela é porta-voz. Na medida em que as teorias são a racionalização de sentimentos, de instintos, de estados de alma, isto é praticável. O defeito capital do romance de ideias é que somos obrigados a por em cena pessoas que tem ideias a exprimir, o que exclui mais ou menos a totalidade da raça humana – à parte apenas 0,01 por cento. Aqui a razão pela qual os romancistas verdadeiros, os romancistas natos não escrevem tais livros. Mas, ora! Eu nunca pretendi ser um romancista nato.”

E todos esses personagens vão estar em perfeita harmonia, em um arranjo que lembra o contraponto musical ao qual o título faz referência, à exceção de que não se trata de uma composição em polifonia.Em lugar de múltiplas melodias tocadas simultaneamente, temos sentimentos humanos. Os personagens são pouco a pouco despidos em seu íntimo e podemos saborear cada personalidade, analisar cada diálogo ou nos identificarmos com cada emoção. À medida que enredo se desenvolve, sabemos mais sobre a história de vida de cada personagem, cada sentimento é detalhadamente descrito, assim como cada motivação e idiossincrasia, Huxley os deixa nus para os analisarmos por nós mesmos. Em uma simetria perfeita, aquilo em falta em um personagem, sobra em outro, um tema de uma passagem é revisitado na seguinte e esse contraste de personalidades torna quase impossível não se identificar com algumas.

“(...) – Eu me sinto de tal maneira feliz, desde que estou aqui com a senhora! – anunciou ela, apenas oito dias depois de sua chegada.
– É porque tu não te esforças por ser feliz, e porque não perguntas a ti mesma porque te tornastes infeliz, porque cessaste de pensar nas coisas sob o ponto de vista da felicidade e da infelicidade. É a tolice enormíssima dos jovens desta geração – continuou Mrs. Quarles –; eles não pensam nunca na vida senão relacionando tudo com a felicidade... 'Que farei para me divertir?' Eis a pergunta que eles se fazem a si mesmos, ou então se queixam: 'Por que minha vida não é divertida?' Mas nós estamos num mundo em que 'os bons momentos', na acepção vulgar desta palavra, ou talvez em todas as suas acepções, não podem durar continuamente nem pertencer a toda gente. E, mesmo que a mocidade tivesse esses 'bons momentos', ela havia de ficar inevitavelmente decepcionada porque a sua imaginação é sempre mais bela do que a realidade. E, depois que gozamos um pouco esses momentos, eles se tornam aborrecidos. Cada um se esforça para obter a felicidade e o resultado é que ninguém é feliz.”

Bem, e tudo isso está intimamente relacionado ao contexto histórico pós Primeira Guerra Mundial. O fim da Belle Époque, a ascensão do comunismo e da luta de classes, o avanço da indústria e da mecanização, presidentes governando, as mulheres ganhando espaço no meio social, tudo fazendo parte desse romance, sob pontos de vistas únicos, no que pode ser considerado um ensaio sobre o mundo moderno.

“Se vocês acreditam nos negócios, como no serviço e na santidade do trabalho, vocês se transformarão simplesmente em idiotas mecanizados durante vinte e quatro horas, das vinte e quatro que tem um dia. Reconheçam que é um trabalho infecto, tapem o nariz, dediquem-se a ele durante oito horas e depois concentrem-se em si mesmos para ser, nas horas de folga, entes humanos verdadeiros. Seres humanos verdadeiros e completos. Não leitores de jornais, nem amadores de jazz, nem maníacos da radiofonia. Os industriais que fornecem às massas divertimentos padronizados e fabricados em serie fazem o possível para torná-los, nas horas de lazer, os mesmo imbecis mecânicos que vocês são durante as horas de trabalho. Mas não permitam isso. É preciso fazer o esforço necessário para ser humano.”

E os personagens são tão diversos quanto poderiam: o cínico Burlap, o revolucionário e insignificante Ildidge, o demasiadamente humanoRampion, a atormentada Marjorie dentre vários outros. Sendo meus preferidos a inteligente e hedonista Lucy, em diálogo a seguir com o angustiado Walter Bidlake:

“- Romântico, romântico! – escarneou ela. – Tens uma maneira tão absurdamente antiquada de pensar nas coisas. Matar e tripudiar sobre cadáveres e amar e o mais que segue. É ridículo. Por que não andas logo de fraque e plastrão?… Procura ser um pouco mais moderno.
- Prefiro ser humano.
- Viver modernamente é viver rapidamente – continuou ela. – Não podes carregar um vagão cheio de idéias e romantismo nestes tempos. Quando viajamos de avião, devemos deixar para trás as bagagens pesadas. A velha alma de antanho sentava muito bem quando se vivia vagarosamente. Mas é pesada demais para os nossos dias. Não há lugar para ela no avião…
- Nem mesmo para um coração? – perguntou Walter. – Não me preocupa muito a alma. – Já uma vez se preocupara com ela. Mas agora que a sua vida não consistia em ler filósofos, ele estava um pouco menos interessado nela. – mas o coração – ajuntou -, o coração…
Lucy sacudiu a cabeça.
- Talvez seja uma pena – concedeu ela. – mas tudo tem o seu preço. Se gostamos da velocidade, se queremos ganhar terreno, não podemos levar bagagem. Trata-se de saber o que queremos, e de estarmos prontos a pagar o preço devido. Eu sei exatamente o que quero; assim, sacrifico a bagagem. Se te agrada viajar num caminhão de mudanças, viaja. Mas não esperes que eu te acompanhe, ó meu suavíssimo Walter. Não esperes que eu leve o teu piano de cauda no meu monoplano de dois lugares.”

E o pessimista sem objetivos ou credos,Spandrell. Eles vão levantar os debates e as ideias mais interessantes.

“- É jovem ainda. - Foi assim que Spandrell comentou a noite. Jovem e um pouco insípida. As noites são como seres humanos: só começam a interessar depois que ficam adultas. Lá pela meia-noite elas atingem a puberdade. Um pouco depois da 1 hora chegam à maioridade. A sua plenitude esta entre duas e duas e meia. Uma hora mais tarde elas vão ficando cada vez mais desesperadas, como essas mulheres devoradoras de homens e esses homens maduros em declínio que andam por aí a saltitar num pé só mais violentamente do que nunca, na esperança de se convencerem a si mesmos de que não são velhos. Depois das quatro horas, as noites entram em plena decomposição. E a sua morte é horrível. Verdadeiramente horrível, ao nascer do sol, quando as garrafas estão vazias, as pessoas têm um aspecto de cadáveres e o desejo se desfaz em desgosto. Tenho um fraco pelas cenas de leito de morte, confesso – ajuntou Spandrell.”

Antes de finalizar essa resenha, aproveito, pois, para justificar a nota que se segue. Por ser tão denso, é também por vezes cansativo. Além disso, nem todos personagens são tão interessantes assim. O próprio autor, ainda na voz de Quarles exprimiu isso:
“O grande defeito do romance de ideias é que ele é uma coisa artificial, arranjada. Necessariamente; porque as pessoas capazes de desenvolver teses formuladas de maneira adequada não são bem reais; são levemente monstruosas. Torna-se um tanto cansativo, com o andar do tempo, viver com monstros.”

Mas nada que tire seu mérito. Contraponto é daqueles livros que te deixam inquieto, que precisam ser relidos, uma vez que toda sua significação depende de como interage com o leitor. É um livro de múltiplas camadas para se ler entre pausas e respiradas. Se de acordo com Huxley a única generalização que podemos arriscar é que as maiores obras de arte tem tido grandes assuntos, essa é uma obra de arte das mais elevadas.
Nota: 9/ 10



site: Confira mais sobre esse e outros livros no Sagaranando: http://sagaranando.blogspot.com.br/2013/12/contraponto-humanidade-despida.html
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Leonardo 07/02/2016

Colcha de retalhos
Este livro não tem começo, meio e muito menos fim. Talvez o melhor nome para o livro não seja Contraponto, e sim, Dissonância! O melhor de Aldous Huxley é o livro Admirável Mundo Novo, com certeza. Contraponto retrata indivíduos ociosos que vivem uma vida longe de um sentido maior... são abastados que se apegam a frivolidades como forma de exercitar a sua vaidade e anaptidão para o que é mais importante na vida. Encontramos no livro reflexões sobre a arte, a vida e Deus... mas tudo de uma forma desiludida, como se estivéssemos diante de um burguês saturado de vícios, mas que, a despeito disso, continua a não viver sem eles - embora, por vaidade (sempre ela), não se furte de criticá-los como se estivesse acima deles.
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