Os demônios

Os demônios Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Os Demônios


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Everton Godoy 12/08/2022

Me fez raiva, muita raiva!!
A respeito da leitura, é um pouco difícil de compreender.
Me abstenho de fazer qualquer tipo de comentário a respeito desse livro.
A única coisa que vou escrever é que fiquei com muita raiva no final e principalmente com o personagem Stavróguin!!
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Orochi Fábio 24/08/2022

Antes de 1917...
Nesta obra profundamente crítica, o autor exibe os possíveis antecedentes da Revolução Socialista de 1917, descrevendo as atividades de grupos jovens a questionarem todas as bases sociais: um dos mais violentos relatos de Dostoiévski dentre sua vasta paisagem de humanidades sombrias...
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Rachel 29/08/2022

Late Bloomer
Antes de mais nada, adorei a leitura! Comparando o desenvolvimento da história, considero este livro como ?late bloomer?, pois o início é bem denso com muitos personagens e fica difícil entender o que o narrador vai contar! Mas ao longo da trama, nota-se que conhecer a personalidade de cada um permite ao leitor entender as suas atitudes nos eventos futuros. E que descarrilhamento de eventos! O último terço do livro é mais dinâmico e o leitor deve ficar atento a narrativa, uma vez que o narrador faz parte da história e tenta não dar spoiler sobre a sequência trágica de eventos. Alguns personagens tive pena, outros tive ódio e alguns achei justo o que lhes aconteceram. Recomendo esta leitura!
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tortajulia 09/10/2022

"Não há nada secreto que não se torne evidente."
"Os demônios" de Dosteiévski é um livro complexo e denso, de forma que foi uma leitura desafiadora para mim. No início, principalmente nas primeiras 200 páginas, foi difícil me localizar em relação aos personagens. Todavia, me interessei muito pela história e pelos caminhos que Fiódor Dostoiévski traça ao longo dessas 700 páginas.

Como personagem principal se faz presente Nikolai Stravrógin, rapaz de 29 anos que pode ser comparado a Hamlet da obra shakesperiana. É associado a um grupo revolucionário liderado por Piotr Stiepánotvitch, mesmo que não possua aspirações desse tipo. Durante a narrativa, podemos acompanhar as inúmeras vozes que levam os demônios de jovens engajados politicamente a remorsos e assassinatos.

Inspirado em um caso verídico, "Os demônios" é um livro marcante!
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Ale 12/10/2022

"Os Demônios existem indubitavelmente, porém a interpretação deles pode ser bem multifacetada."
Um crime espantoso ocorrido em Moscou, no ano de 1869, deixa um documento intrigante: tratasse da " Catequese do revolucionário", um texto redigido por Serguei Netchaiev, líder carismático de uma organização estudantil e principal mandante do crime em questão (Deixei um trecho da "catequese" na segunda e terceira imagem). A par desse fato, Dostoievski empreende na Criação de "Os Demônios", definitivamente, seu grande romance político e uma das grandes obras das letras cristãs.

No enredo profético de "Os Demônios", Dostoievski faz um amplo estudo da psique revolucionária; dando ênfase na nocividade de ideias niilistas e materialistas, o autor adverte para as catástrofes que poderiam resultar desse tipo de pensamento. Um personagem se destaca nesse aspecto: Piotr Stepanovitch, personagem que faz absolutamente de tudo que possa ter alguma serventia para a "causa geral", mesmo que isso signifique incentivar o svicidio de um dos seus camaradas ou cometer ,ele mesmo, um homicidi0.

Enfim... Dostoiévski fez o desenho perfeito do típico revolucionário que, ignorando completamente o excessivo elemento desordeiro presente em sua própria alma, age para que, através da transformação radical da sociedade, exista ordem plena no mundo.

Dostoievski dispensa comentários, mas quero salientar o leque de sensações que a leitura de "Os Demônios" me causou. A narrativa me fez rir, fez meu coração bater mais forte, me fez chorar, etc... Ler Dostoievski é absolutamente singular.


site: https://www.instagram.com/leiturasdoale/
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lisa 19/12/2022

eu tinha expectativas bem grande para esse livro. sinceramente acho que é para ser uma das últimas leituras do dostoiévski, quando vc estiver acostumado com as ideias nas quais ele frequentemente desenvolve em outros livros e com o ritmo lento. esse livro é MUITO LENTO. tem MUITA informação desnecessária. é cheio de detalhe específico sobre a política da época, o que as vezes não é nem um pouco interessante ou fácil de entender. tem personagens que literalmente não são nem um pouco fascinantes.
mas o que definitivamente se destaca, rouba toda a cena e garante a nota alta que eu dei pra ele é o personagem do Pyotr Verkhovensky, que é claramente visto como uma espécie de "vilão" pro autor. ele faz tudo acontecer e não é tão difícil se sentir curioso pelo próximo movimento dele.
não gostei nada do Stavrogin, que supostamente deveria ser um personagem que chama a atenção (acho que ele só fez pose e mta m3rda). outro ponto positivo foi o Kirilov, as discussões dele eram interessantes.
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Erudito Principiante 03/01/2023

Os revolucionários na visão de Dostoiévski
Minha segunda leitura de Dostoiévski foi de difícil digestão, como eu já esperava após ler O Duplo. Mas isso não significa dizer que não gostei.

Em Os Demônios acompanhamos algumas pessoas em uma cidade provinciana tendo que lidar com suas rotinas e cotidianos sem maiores problemas, até que um grupo de revolucionários socialistas/progressistas começa a se infiltrar lentamente nessa sociedade, abalando aos poucos sua rotina. Falando dessa maneira parece muito simples, porém Dostoiévski costura a história de forma detalhada, construindo os personagens lentamente. Aliás, na minha modesta opinião acho até que a história demora bastante para desenvolver, sendo apenas na segunda metade do livro que vemos alguns sinais do que irá acontecer. O autor usa o interessante artifício de o narrador ser um dos personagens, ou seja, tudo é narrado em primeira pessoa, como se fosse um testemunho pormenorizado.

A história inicia mostrando a vida do intelectual fracassado Stepan Trofímovitch, vivendo às custas da viúva rica Varvara Petrovna na condição de preceptor. Os amigos de Stepan dão sutis sinais de fazerem parte de um grupo subversivo, mas aparentemente são inofensivos. As coisas começam a esquentar um pouco com o aparecimento de Nikolai Vsêvolodovitch Stavróguin e Piotr Stepanovitch Verkhôvenski, que acabam por serem os líderes dos subversivos.
Stavróguin é mais de ação e poucas palavras, enquanto que Verkhôvenski fala pelos cotovelos e se autodenomina o porta-voz da liderança revolucionária nacional perante o grupo local.

Os Demônios aos quais Dostoiévski se refere são justamente os revolucionários e seu total desprezo pela ordem vigente, preceitos morais, religiosidade ou qualquer outra coisa que se interponha entre seus objetivos. A história seria a versão de Dostoiévski para um assassinato que ocorreu em 1869. O jovem Ivan Ivanov foi morto por se desentender com o líder do grupo subversivo local Serguei Netcháiev. O desenrolar da investigação e posterior julgamento foi acompanhado por Dostoiévski, inspirando-o a escrever sua obra, que culminará no assassinato de um dos personagens nos moldes do crime real.

Os revolucionários da vida real, conforme previu Dostoiévski, foram ganhando força através de seu discurso sedutor de igualdade e ao mesmo tempo afirmando que a sociedade precisava ser destruída para que algo novo (e melhor, segundo eles) pudesse nascer das cinzas do caos disseminado pelos mesmos. Menos de meio século após a primeira edição de Os Demônios a Rússia caía aos pés dos bolcheviques. O resto é história?
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Cintia295 05/01/2023

Esse releitura foi muito mais proveitosa e enriquecedora, tinha alguns pontos que não tinha entendido direito e que agora ficou fechadinho.
A escrita do Dostoiévski é simplesmente magnífica, linda. O homem realmente sabia escrever e transmitir tudo nos livros, seja raiva, ranço, ódio, salvação, amizade, amor. Ou a falta dessas emoções kkkkk.
Sobre os personagens tinha esquecido como alguns era insuportável, mal, chato, possessivo um verdadeiro demônio em forma de gente sem compaixão nenhuma.
Só leiam, só leiam.
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Gabrielli 12/01/2023

Uma obra monumental
A narrativa em formato de "novelão" me surpreendeu muito, foi a leitura mais "viciante" de Dostô até agora. A forma com a qual ele apresenta para nos a Rússia pré-revolução e como surgiu e se desenvolveu o espírito revolucionário é sensacional. Tipo de livro que tem milhares de camadas e releituras são muito bem-vindas!

Fazer essa leitura com um background da Rússia da época e das próprias ideias do autor é muito interessante, porque distancia muito da realidade política ocidental. O cristianismo ortodoxo, a visão de que a Mãe Rússia salvará o mundo, a morte de Deus, o liberalismo francês que deu início a tais ideias... Tudo é de uma riqueza profunda.
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Tiago Fachiano 14/01/2023

O homem criou Deus para evitar o suicídio
Nesse livro fantástico do Dosto ele utiliza um fato veridico na Rússia para criar uma história envolvente e que renderá inúmeras análises filosóficas.

O caso foi um grupo de amigos que tramaram um pequeno golpe e utilizaram de ações torpes como justificativa a favor de uma "causa comum".

Dosto utiliza da ausência de Deus como forma trazer a tona os riscos e perigos da vida humana. Mesmo que munidos de uma "boa intenção" o ser humano pode ser cruel para conquistar seu objetivo.

Um livro que levarei anos digerindo... Certeza q deixei passar muitas questões e com certeza irei reler (em algum momento da vida).
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Leandro190 17/01/2023

E a manada jogou-se precipício abaixo
Eu me sinto constrangido em escrever ou opinar sobre alguns autores, Dostoiévski é um deles. Tenho tentado ler ao menos um livro dele por ano, me parece necessário, mas não há dúvida de que uma única leitura de cada livro é insuficiente para devida compreensão e absorção, mesmo que parcial, de tudo aquilo que ele oferece aos leitores. A construção dos personagens é belíssima, é um trabalho feito sem pressa nenhuma cuidando de cada detalhe o que dá a estória uma densidade incrível. Se você, caro leitor, ainda não leu nada de Dostoiévski, não comece por "Os Demônios", afinal de contas demônios só se exorcizam ou com muita fé ou com muita ciência. Prepare-se e experimente. Ah, já ia esquecendo de algo que gostaria de partilhar, o pano de fundo da obra é uma tentativa de golpe político, como se vê a vida imita a arte e a arte imita a vida sempre de forma atemporal.
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Karin né? 19/01/2023

Os capirotos da vida mundana
??para abalar sistematicamente os alicerces, para decompor sistematicamente a sociedade e todos os princípios; para desencorajar todos e transformar tudo num mingau, e depois, quando a sociedade ficasse, dessa maneira, desengonçada, esmorecida e doentia, cínica e descrente, mas com alguma cede infinita de alguma ideia norteadora e de sua autopreservação, para dominá-la de supetão, hasteando a bandeira da rebelião??

Essa não é uma resenha sobre a perspectiva geral do livro, até porque eu acredito que mesmo que tentasse, não conseguiria analisar todos os pontos relevantes dessa narrativa, bem como a sua construção em si. É só um comentário sobre um ponto específico que me chamou atenção já nas últimas páginas:

Você já ouviu o ditado ?cachorro que ladra não morde?? Então, esse é um ótimo exemplo do que aconteceu aqui, ao longo da história nós percebemos a dinâmica desse grupo secreto, suas conversas e aspirações, a teor sempre foi duvidoso mas no final eles se veem na precisão de bolar algo extremo, algo que exigiria que eles saíssem do teórico e sujassem as próprias mãos. É interessante perceber que durante o encafifar da peripécia todos se mostravam dispostos, falando do futuro morto com tanta impessoalidade que parecia até que estavam falando sobre como matariam um peru de natal, mas quando acontece de fato eles perdem totalmente o fio da meada pois dão de cara com a realidade terrível do que estavam fazendo, e isso é o suficiente para enlouquece-los, ou pelo menos a maioria deles.
A verdade é que cada personagem do livro carrega um demônio dentro de sua própria história, que os engole aos poucos, matando-os por fim, tirando qualquer traço de sanidade que poderiam ter, ou qualquer vestígio de paz que poderiam desejar.

É um livro denso, mas isso não é novidade, no começo pode gerar desconforto pra o tipo de leitor que ainda não é habituado, mas logo você se acostuma e passa a esperar por esse exagero de detalhes, e no meu caso, foi justamente isso que me deu certa frustração em relação ao final, pois não é um final altamente descritivo, ele é suficiente para o entendimento e fechamento da história, mas nem de longe é descritivo como as partes anteriores.
Como é o meu primeiro livro do autor, não sei se é um costume dele, se é algo intencional pra trazer a tona algum sentimento? mas de todo modo, não estraga a experiência, e com certeza não tira o mérito dessa obra incrivelmente crítica e visionária.
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Johnny Blue Heart 27/01/2023

Baita livro! Baita livro! Baita livro!
Às vezes, uma ninharia chama a atenção e a absorve exclusivamente por um tempo. A maior parte do que tenho a contar sobre o jovem Stavróguin virá mais tarde. Mas observo agora, com curiosidade, que de todas as impressões que a estada em nossa cidade lhe causou, a mais nítida em sua memória foi a figura feia e quase abjeta do pequeno funcionário provinciano, a família grosseira e ciumenta. Déspota, o mesquinho agiota que recolhia as velas e os restos que sobraram do jantar e, ao mesmo tempo, era um crente apaixonado em alguma ?harmonia social? futura visionária, que à noite se regozijava em êxtase com imagens fantásticas de um futuro falanstério, em cuja realização se aproximava, na Rússia e em nossa província, ele acreditava tão firmemente quanto em sua própria existência. E que no próprio lugar onde havia economizado para comprar uma ?casinha?, onde se casara pela segunda vez, recebendo um dote com a noiva, onde talvez, por cem milhas ao redor, não havia um homem, ele mesmo incluído, que era o que menos se parecia com um futuro membro ?da república humana universal e da harmonia social?.

Um belo resumo da mente revolucionária. Obrigado por essa obra-prima, Dostoiévski!
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Wanderley 11/02/2023

Os porcos da intolerância
Em 1872, Fiódor Dostoiévski publicou Os Demônios, romance de características, a meu ver, premonitórias (a percepção de que os sentimentos do presente gestavam uma realidade futura sombria e próxima), escrito a partir de um caso real: o assassinato do estudante Ivan Ivanov por seguidores de Serguei Nietcháiev, um dos autores de O Catecismo Revolucionário (1869), livreto que defende, em nome de um novo mundo, o terror e o assassinato como métodos políticos.

O enredo de Os Demônios narra o início e o desenvolvimento das atividades de um grupo de jovens niilistas sem perspectivas, uma espécie de célula política com função desestabilizadora. Sua motivação é a raiva. No começo, parecem patéticos, pois são poucos e às vezes deliram. Mas eles sabem que existem outras células (que não se conectam diretamente para em caso de prisão, não conseguirem delatar as demais). Seus membros se imiscuem em vários órgãos do Estado e sua missão é criar problemas, de forma a excitar o descontentamento geral e preparar uma revolta que é, sobretudo, um desejo de vingança. A distância entre o deslumbre dos salões nobres e a miséria dos camponeses na Rússia, entre o luxo dos poderosos e as necessidades dos cidadãos comuns, alimenta um ressentimento social pronto para ser manipulado por fanatismos religiosos e políticos.

Uma das difculdades do livro é a grande quantidade de personagens. Mesmo assim, de modo brilhante, quase sobrenatural, Dostoiévski expõe aos seus contemporâneos, as bases de um processo de degradação social que terminaria, quase cinco décadas depois, na Revolução Russa e seu legado de horror: 30 milhões de vítimas. Mais do que isso, ele desnuda a gênese de qualquer movimento radical que pregue a destruição como método, no que eles têm em comum: o ódio ao contraditório.

Li Os Demônios em 2014 e desde logo fui obrigado a concordar com Albert Camus, para quem Dostoiévski – e não Karl Marx – é o grande profeta do Século XIX. De fato, 45 anos antes do totalitarismo Russo, seguido depois pelo Alemão e tantos outros, de diversas fontes ideológicas, Dostoiévski captou logo no início a essência daquelas manifestações que mudaram a Rùssia e o mundo.

Logo no início de Os Demônios há uma passagem bíblica, o Evangelho de Lucas (8, 32-36), que dá título ao livro: "Uma grande manada de porcos estava pastando naquela colina. Os demônios imploraram a Jesus que lhes permitisse entrar neles, e Jesus lhes deu permissão. Saindo do homem, os demônios entraram nos porcos, e toda a manada atirou-se precipício abaixo em direção ao lago e se afogou. Vendo o que acontecera, os que cuidavam dos porcos fugiram e contaram esses fatos, na cidade e nos campos, e o povo foi ver o que havia acontecido. Quando se aproximaram de Jesus, viram que o homem de quem haviam saído os demônios estava assentado aos pés de Jesus, vestido e em perfeito juízo, e ficaram com medo. Os que o tinham visto contaram ao povo como o endemoninhado fora curado".

É uma imagem poderosa, pois o mundo parece ainda parece bem agitado por demônios que habitam os porcos da intolerância, à procura de um abismo.
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Nathan0 06/03/2023

Os Demônios Revolucionários
Muitos menos aclamado pela mídia do que "Crime e Castigo" e "Os Irmãos Karamazov", Os Demônios é uma das grandes obras de Dostoiévski, um esplêndido romance político, relatando nele a história de uma sociedade secreta, um grupo de pessoas revolucionárias, socialistas e subversivas que começam a se infiltrar lentamente em uma pequena cidade provinciana, uma cidade totalmente desgovernada e despreparada para enfrentar qualquer revolta de ordem social, política e econômica.

Esta obra, atemporal e profética, talvez seja o romance em que o realismo trágico de Dostoiévski mais se aproximou dos fatos históricos. Anteviu tempos obscuros da humanidade, a título de exemplo, enxergamos o terrorismo político no Império russo, a sangrenta ascensão dos bolcheviques, a guerra cívil e o fanatismo de Hitler e Stalin.

O livro também apresenta para o leitor diversos personagens interessantíssimos, tal como Piotr Stepânovitch, vilão, assassino, terrorista, e líder do grupo revolucionário. Mentindo amiudadamente, distorce os fatos para manipular a realidade e as pessoas em sua volta. É tomado por muitos, o próprio diabo. Temos támbem Nikolai Stavroguin, niilista, ateu e membro do grupo revolucionário. Dominado por um enfadonho em seu íntimo, sempre está em busca de sensações e prazeres. Há do mesmo modo Kirilov, engenheiro, niilista, suicida e membro revolucionário, possui a filosofia que, somente quando o ser humano for capaz de controlar e dominar o medo da morte é que ele é capaz de tornar-se Deus. Apreciamos também de Stepan Trofimovitch, o teor cômico da obra, um professor intelectual vaidoso e bastante fracassado, sendo sustentado por sua amiga viúva que constantemente o trata como uma criança ou até mesmo por seu filho. Há de mencionar Yulia Mikháilovna, esposa do governador da cidade em que o grupo revolucionário se infiltra. Ambiciosa e leviana por natureza, tinha o desejo de alavancar sua carreira política e ter uma corte própria. Por fim, Varvara Petrovna, viuva, muito rica, orgulhosa e magnânima, possui um certo controle sobre Stepan Trofimovitch.

Finalmente, é o romance mais político de Dostoiévski, abordando diversos assuntos, citando como exemplo, a própria mãe Rússia, o cristianismo, ateísmo, socialismo, liberalismo, suicídio, filosofia, Deus, eslavofila e etc. É, sem dúvida alguma, uma obra maravilhosa e, na minha opinião, tão bom quanto o aclamado Crime e Castigo pela crítica. É um livro bastante lento no começo e que apresenta muitos personagens, de forma calma e detalhada, isso talvez possa vir a causar tédio em alguns leitores, o que não aconteceu comigo. É uma leitura que precisa de atenção e paciência e, quem passar por algumas boas páginas, irar usufruir de uma grande obra, escrita por um dos maiores escritores da humanidade.
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