Coruja 11/12/2018Esse livro me chamou a atenção pelo título e pela referência a 'autora russa escrevendo contos de fadas que foram censurados'. O que nessa frase não me chamaria a atenção, não é verdade? Parece que foi feito sob medida para mim. Terminei ganhando ele de presente de dia das bruxas (obrigada, Tatá!) e, como era um livrinho curto, comecei a lê-lo quase de imediato.
O engraçado é que esses contos russos me passaram uma enorme impressão de nostalgia. O estilo narrativo da Petruchévskaia, sua mistura de dolorosamente prosaico com o assombroso, a superstição, a astúcia, tudo isso me lembrou as histórias de trancoso que eu ouvi quando criança no pé da vizinha da minha avó. Há algo de universal nas experiências humanas que surgem nesses contos - histórias de sacrifício, de amor, de família, de medo e reparação, de morte - e, por isso, eu as ouvi no sotaque sertanejo que embalou minhas primeiras experiências com contadores de histórias.
É engraçado, porque você vai lendo, vai lendo, e as coisas parecem tão comuns e ordinárias... que quando o fantástico aparece, é como se você levasse um susto, como se caísse de paraquedas. Mas, mesmo diante do inesperado, esses vislumbres de um Outro Mundo não parecem deslocados, não são artificiais. São uma faceta a mais do universo com que estamos acostumados. Uma faceta que, sutilmente, entrega a realidade do que foi o regime soviético - e daí você entende o motivo de ela ter sido censurada. Porque essas assombrações, esses mortos que rondam seus crimes nos contos que vão se sucedendo são consequência dessa História, de um regime francamente esquizofrênico, que prometia justiça social e entregava prisões, fome e guerra.
Levando tudo isso em consideração... que melhor maneira que contar essa história, senão com contos de fadas em sua forma mais crua?
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