Camis Domi 28/03/2020
Fascinante
Eu não tenho palavras para descrever todas as emoções que esse livro me causou. Maior camalhaço que já li e não foi fácil, demorei quase 3 meses para concluir a leitura, tamanha a profundidade e complexidade da história que exigem concentração, dedicação e constantes reflexões. Um dos livros mais fascinantes que já li e estou até um pouco deprê achando que nenhum outro que eu lerei daqui pra frente vai conseguir superar essa obra-prima. Neste livro, Tolstói relata os acontecimentos que antecederam e sucederam à invasão de Napoleão à Rússia em 1812, criticando, principalmente, os historiadores que contam a história sem tê-la vivido e, portanto, de maneira irreal. Aqui vemos uma Rússia imponente, magistral e humana. Napoleão, por sua vez, é descrito como um homem sem nome, sem convicções, sem tradições, sem hábitos, que nutria uma profunda admiração por si mesmo e mentia com sinceridade e que, a despeito de tudo isso, alcançou a glória e uma posição de proeminência por força de estranhos acasos, além de sua genialidade, reconhecida por Tolstói. Porém, a genialidade de antes se transformou em tolice e infâmia após uma sucessão de acasos adversos que o levaram ao declínio e fracasso totais. Em meio ao caos e às batalhas, ainda somos introduzidos à singeleza do amor e à beleza de se encontrar a felicidade em outra pessoa. Somos apresentados aos mais variados tipos de personagens desde presunçosos, cruéis, oportunistas até aqueles de alma pura e bondosa, virtuosos, fortes, divertidos, corajosos e, por fim, apaixonantes. Também há a busca por redenção, por um sentido na vida que, depois de muito procurar, é encontrado bem perto, mas que muitas vezes não encontramos porque estamos olhando para outros lugares ao invés de olharmos bem à nossa frente. Um romance magistral, encantador, forte, profundo, atemporal, fascinante e real! Tolstói era simplesmente genial e digno de toda a aclamação em torno dele, sem dúvida um dos maiores escritores que a humanidade já viu. Acho que posso dividir minha vida literária em antes e depois de Guerra e Paz. Estou feliz por ter lido neste momento porque talvez antes eu não tivesse a maturidade necessária para entendê-lo e dar a importância e valor que ele merece. Pretendo ler de novo em outra fase da vida.
"Nikolai Rostóv afastou-se e, como se estivesse procurando alguma coisa, pôs-se a olhar ao longe, para a água do Danúbio, para o céu, para o sol. Como o céu estava bonito, como estava azul, sereno e profundo! Como o sol que se punha estava claro e solene! Como a água do Danúbio, ao longe, brilhava amena e lustrosa! E mais bonitas ainda eram as montanhas azuladas e distantes, para além do Danúbio, o convento, os desfiladeiros misteriosos, a floresta inundada até os cumes pela neblina... lá, havia calma, felicidade... "Nada, nada, eu não desejaria mais nada, não desejaria mais nada, se eu estivesse lá", pensou Rostóv. "Só em mim e neste sol há tanta felicidade, enquanto aqui... gemidos, sofrimentos, horrores, e este tumulto, esta correria... Agora estão gritando de novo alguma coisa, e de novo todos correram para algum lugar lá atrás, e eu estou correndo junto com eles, e aí está ela, ela, a morte, sobre mim, à minha volta... Num instante, nunca mais verei este sol, esta água, aquele desfiladeiro..."