Jardim de histórias 26/10/2023
Um monumento! Um livro pra ser lido antes de morrer.
Um romance histórico robusto, feito para todos. Um brilhante trabalho de inquirição histórica realizado por Tolstoi. A riqueza da escrita é tamanha, que não é difícil se ambientar e se sentir na Rússia do século XIX, principalmente no período pré-invasão, quando Napoleão ordenou a invasão da Rússia. Esse clima de incerteza aristocrático, é perfeitamente retratado em uma trama repleta de personagens fascinantes e inesquecíveis, que auxiliam na criação do maior diamante da história literária, colocando para sempre este livro icônico no topo dos grandes clássicos da literatura mundial. Tolstoi, acertou de forma espetacular ao descrever o comportamento humano no anteceder e durante o período de guerra. Podemos facilmente perceber, os traços dramáticos, às paixões, a dor física e sentimental que cada personagem proporciona e auxiliam a compor quase que de forma ilustrativa em nosso imaginário. Alguns críticos literários da Rússia, na época, enxergaram a obra de Tolstoi, como uma passada de pano aos ideais anti-eslavófilos, ao descrever a cultura francesa no ambiente aristocrático russo. O que, na verdade, a obra, retrata o oposto. Graças a um brilhante trabalho de pesquisa, que, na verdade, retratou o vazio aristocrático russo, conforme a visão de Tolstoi, e a tentativa de preencher esse vazio aristocrático e suas impressões do modernismo ocidental. Trazendo linearmente o desequilíbrio social entre senhores e servos, totalmente normalizado na época, que gerou tamanha angústia e indignação, sendo um retrato da futilidade, insensibilidade e indiferença do olhar burguês referente a escravização dos servos. Tornando esse comportamento, um abismo social, que distância de forma catastrófica os camponeses (mujiques) da aristocracia, sendo essa, parte fundamental do fio condutor que futuramente irá compor ideologicamente a revolução de 1917. Onde, esse comportamento, foi associado a exploração da burguesia contra os servos. Mas, isso é assunto para outra resenha. Referente a associação da cultura francesa em território russo, o que é muito retratado no livro, para melhor entendimento, será necessário voltar em 1717, no início século VIII, durante o império de Pedro o Grande, que em suas viagens a França, iniciou-se, o período de reforma modernista, com uma grande introjeção da cultura francesa nos costumes russos. No ciclo aristocrático, o francês, era tido como a língua principal, devido à sensação de sofisticação e requintes de nobreza, essa ideia persistiu durante o império de Catarina II. Catarina, estimulava a contratação de preceptores franceses para facilitar a supremacia francesa nas gerações futuras. Somente em meados do século XIX, com o movimento Eslavófilo, organizado por intelectuais que eram contrárias as influências ocidentais que suplantaram os valores tradicionais, que começou ideologicamente o combate contra esse comportamento. O livro tem uma certa fluidez, porém, necessariamente denso, que requer total concentração e dedicação. Conhecimento de história, principalmente a que se refere a guerras napoleônicas, auxiliará muito na compreensão histórica da obra, que utiliza como pano de fundo a contraofensiva mais extraordinária da história das guerras. Outro ponto, para quem conhece mais a fundo a história de Tolstoi, tanto por meio de biografias ou por acompanhar suas riquezas literárias, percebe de forma bem diluída, um pouco das características do autor na criação dos personagens, tudo isso, muito bem elaborado, tornando essa influência, muito bem entrelaçada com às características extremamente criativas dos personagens. Outra característica importante, são a riqueza de detalhes contidas na obra, acrescentando e muito na robustez da história. Simplesmente um livro primoroso que ficará eternizado em nossa memória literária, um verdadeiro instrumento histórico, apaixonante e eterno!