Lala 13/06/2024
A mãe das histórias de aventura
Melhor herói grego. Melhor jornada. Melhor história da guerra de Tróia. Melhor epopéia. Apenas.
Que livro monumental, não tem outra forma de descrever. A narrativa do retorno de Odisseu pra casa, embora milenar, continua muito moderna. Se a Ilíada tem uma certa "barreira" de época e uma estrutura que gera algum estranhamento no leitor moderno, a Odisseia tem uma forma muito mais acessível, o que pode ser visto nos ganchos de suspense entre os capítulos e no foco mais em uma jornada individual do que em um conflito macro.
O Odisseu é um protagonista incrível. Que Agamêmnon e Aquiles o quê?!O Odisseu desbanca todo mundo com a inteligência. É claro que ele também é forte e bonitão como todo herói grego, mas a Odisseia traz uma dimensão muito humana pro personagem, já que, por mais ó do borogodó que ele seja, ele não é nada comparado com os deuses imortais e com o mar. A mortalidade humana é um tema muito debatido no livro e, inclusive, valorizado, como o discurso que Odisseu faz na ilha de Calipso, aceitando a finitude ao lado da esposa e negando a imortalidade. Odisseu sofre muitooo nas mãos da natureza, o oceano, personificado em Poseidon, é assustador e imenso, e impossível de ser enfrentado na espada, o que torna o senso de perigo muito grande.
No meio do mar, ele vai viajando pelas mais diversas ilhas e encontra de tudo: sereias, um país de gigantes, feiticeiras que transformam as pessoas em animais, deuses, Ciclopes, etc. O que eu mais gosto são as soluções criativas que Odisseu precisa bolar pra lidar com esse mundo tão maior do que ele. Eu amo de paixão a cena de Ninguém vs Polifemo, é muito genial e engraçada. Também gosto muito da passagem em que ele ganha a bolsa dos quatro ventos de Éolo e, claro, a cena emocionante dele encontrando a mãe no Hades (que cena bonita!).
Enquanto eu lia, uma série de histórias de aventura que eu cresci vendo passaram pela minha mente, percebi a grande influência da Odisseia na estrutura de histórias dos mais diferentes tipos que consistem em várias pequenas aventuras que acontecem enquanto o protagonista tenta realizar um objetivo maior. Além das influências bizarras que o livro tem no imaginário popular, como a típica imagem de se amarrar no mastro do navio quando aparecem sereias atraindo os homens para o mar com suas vozes.
Tudo é muito bem construído, a vingança contra os pretendentes tem todo um planejamento muito interessante de acompanhar e o final é satisfatório. A epopéia tem momentos muito sensíveis, como o do cachorro Argos, e a gente acaba se apegando aos personagens e a narrativa, a escrita tem vários momentos líricos e simíles muito bonitos.
Cara, é muito legal, só isso mesmo. Eu tava esperando algo massante, mas a verdade é que é uma aventurona das boas, com tudo o que tem direito e vc viaja lendo e imaginando as coisas, eu amo livros assim.