BiancaAlbuquerque 17/08/2020Um amor puroJosie teve que amadurecer muito rápido quando sua mãe faleceu. Ela era a única mulher da casa e se viu tendo que cuidar de tudo que a mãe fazia. Então, quando completou 13 anos seu corpo era mais desenvolvido que as meninas da sua idade e seu modo de pensar era muito adulto para uma menina que tinha acabado de se tornar adolescente. Assim como teve que cuidar da casa, Josie conheceu o piano quando ainda era muito nova, graças a uma nova moradora da cidade. Ela se viu encantada pelas músicas que a mulher tocava e essa mulher sugere se tornar sua professora de piano.
A cidade em que Josie nasceu e cresceu era muito pequena para poder ter uma escola, então, todos os dias um ônibus escolar ia buscar as crianças na cidade para levarem elas a escola da cidade vizinha. E foi assim que Josie conheceu Samuel. Um garoto que tinha raiva do mundo. Ele estava no último ano, mas não possuía nenhum amigo e não via a hora de acabar a escola. Josie e Samuel acabam tendo que sentar um do lado do outro no ônibus todos os dias e é dessa forma que eles começam a construir uma amizade.
Nunca vou me cansar de falar como amo o desenvolvimento da Amy em suas histórias. Ela sempre tem todo o enredo amarradinho e fico maravilhada sempre que termino um dos seus livros. Nesse ela trouxe Josie, uma garota que teve que aprender a se virar muito cedo e amadureceu muito rápido. Apesar de ter perdido alguém tão importante não se rebelou, continuou vivendo a vida da melhor forma possível. De outro lado Samuel, um mestiço que nunca soube o lugar que pertencia, porque sempre que chegava em um local as pessoas o olhavam torto. Além dos problemas familiares que passou após a morte de seu pai com um padastro abusivo e uma mãe que se tornou desleixada após a perda do primeiro marido.
Josie foi um alívio para as dores de Samuel. Os momentos em que passavam juntos Josie mostrava um mundo diferente para Samuel e trazia cores para o mundo preto e branco que ele sempre conheceu. Josie mostrou seu amor pelos livros e pela música, mesmo que Samuel tentasse mostrar que não se importava com tudo aquilo, essas coisas se tornaram seus amores também. Eles se desafiavam em questionamentos, abrindo mais e mais perguntas sobre música e livros. Eles se
encaixavam sem ao menos perceber.
Porém, Samuel se formou e foi embora para seguir o caminho que tinha escolhido para trilhar. Apesar de ter evoluído mais rápido que as outras meninas da sua idade, Josie ainda era uma criança e Samuel tinha conhecimento disso. Estando longe ele percebeu como toda aquela relação, mesmo que fosse pura, não teria como dar certo com uma garota menor de idade. Ele se afastou por anos e quando retornou tudo tinha virado do avesso.
Ao longo dos anos, Josie sofreu muito a ausência de Samuel. Ela sabia que eles jamais poderiam ter um romance, mesmo que ela desejasse muito. Então ela se entregou a outras coisas que a vida trouxe para ela. Novas perdas e novas dores resultaram em uma Josie com raiva mundo, que abandonou suas paixões pela literatura e a música. Ela ficou acomodada, perdeu suas ambições e desejos. Deixando que a vida a levasse como uma folha ao vento. Sem planos.
E então, Samuel se torna aquilo que Josie foi um dia para ele, o seu refúgio.
Quando iniciei a leitura fiquei um pouco preocupada com a idade dos protagonistas e mais uma vez Amy me mostrou que não é irresponsável ao criar uma história. Samuel e Josie começaram a se amar quando muito novos, com idades que seria problemático haver um romance, mas tudo aconteceu no tempo certo. Eles construíram um amor muito cedo, sofreram com a ausência um do outro e se envolveram no devido tempo. Foi lindo como tudo se desenrolou, um slow burn que só a Amy consegue fazer e que me conquista de forma tão profunda. É impressionante a forma sutil da autora de construir relacionamentos. Você não precisa de momentos grandiosos, apenas conversas num banco de ônibus já faz com que um amor se desenvolva e você sente como tudo é natural. Mesmo o amor nunca sendo simples, ele se forma com pequenas falas, conversas, atitudes. Foi assim que esse romance foi construído.
Vou repetir e repetir quantas vezes for necessário, Amy Harmon precisa de mais reconhecimento aqui no Brasil. Ela é uma das autoras mais conscientes e que busca trazer representatividade racial em seus livros. Além de construir enredos lindamente. Ela precisa ser lida.