andre_limafr 18/11/2024
Em busca dias melhores
O primeiro capítulo de vidas seca é brutal, a dura realidade do retirante, que sai com uma mão na frente e outra atrás fugindo da seca em busca e um lugar melhor para viver é retratada de maneira visceral e muito real por Graciliano Ramos, é impossível esquecer as primeiras páginas, mesmo quando estamos de frente com as últimas.
Por uma questão de gosto pessoal, este não é meu tipo de livro favorito, mas é uma leitura necessária, enriquecedora, retrata uma das muitas cicatrizes que permeiam alojadas na história do nosso país, o medo constante da seca e a necessidade de fugir da própria terra não é uma realidade distante. Diversos temas são pontualmente abordados além da seca, como a desigualdade social, a exploração do trabalhador rural, a corrupção de instituições que deveriam dar exemplo por serem autoridades, a deficiência educacional e outros.
Uma das coisas que mais me chamou atenção na obra é como Fabiano e sua família mal conseguem se comunicar em palavras, se comunicam por grunhidos, gestos e mais palavras, possuem um comportamento por vezes animalesco, sem jeito uns com os outros, muitas vezes recorrem a agressão, o próprio Fabiano se identifica como um bicho, sente-se inferior as demais pessoas razoavelmente mais bem educadas, espantosamente quando analisamos a figura de Baleia, que ilustra figura da cadelinha da família, notamos que o autor teve todo um cuidado em humaniza-la, trazendo a ela sentimentos e desejos complexos; neste ponto temos um ponto de convergência entre o animal humanizado e o humano desumanizado devido a sua condição.
Outro fator que merece destaque, já mencionado, é como Fabiano e sua família sentem-se deslocados do restante da sociedade, do mundo, possuem apego a terra, mas sabem que não lhes pertence, querem integrar a comunidade da cidade mas não de encaixam, sofrem abusos e exploração de seu patrão, sentem vergonha, medo e hesitação ao sonhar com uma perspectiva melhor, por mais simples que seja.