Fernanda631 29/08/2023
Godsgrave: O Espetáculo Sangrento (Crônicas da Quasinoite #2)
Godsgrave: O Espetáculo Sangrento (Crônicas da Quasinoite #2) foi escrito por Jay Kristoff.
Mia agora é uma Lâmina da Nossa Senhora do Bendito Assassinato e sai em missões para exercer o seu papel – assassinar pessoas. Além disso, ela precisa enfrentar a desconfiança daqueles que não a veem como merecedora de seu posto e também lidar com a ânsia de por os seus planos de vingança em prática. Em meio a mistérios e suspeitas, Mia se coloca contra a Igreja Vermelha de forma sigilosa, para se vingar de Scaeva e Duomo de uma só vez.
Diferente do que ela esperava, entretanto, Mia não é alocada em Godsgrave, mas sim em uma cidade menor, onde recebe ordens da igreja. Entre um assassinato e outro, ela não perde seu objetivo de vista, que é o de matar aqueles que mataram sua família. Mas concluir a tarefa de uma vida não será nada fácil.
O autor intercala o passado e o presente de Mia para nos contar a história, então nós vamos e voltamos no passado breve da protagonista para entender como ela chegou à uma estrada empoeirada, onde será vendida como escrava. Existe um motivo para que ela faça isso e tudo vai se explicando conforme a leitura avança. Achei uma acertada decisão do autor de seguir nesse ritmo por um tempo até que a gente compreenda a razão de tal movimento ousado.
Mia vai parar em uma arena de gladiadores.
Ela se infiltrou entre os escravos afim de ser vendida a um collegium de gladiatiis para ter a chance de lutar no grande Magni e ficar frente a frente com seus inimigos.
A ideia de Mia é muito simples: é pela escola de gladiatii que ela conseguirá chegar mais perto daqueles que aniquilaram sua família. E nessa escola ela viverá um dilema sobre continuar sua missão ou se apegar e fazer amigos. Há uma discussão em determinado momento sobre os escravos que eram "parte da família", mas sempre lembrados de seu lugar quando convinha, algo absolutamente real quando se fala das empregadas domésticas.
Jay Kristoff possui uma fórmula que é sempre muito bem-vinda: inserir algum tipo de competição dentro de suas histórias. Se no primeiro livro nos deparamos com uma escola para assassinos mortalmente competitiva, agora temos disputas ainda mais difíceis. Reforçando a inspiração de seu universo com a Roma Antiga, o autor introduziu outro elemento bastante característico deste período, as lutas de gladiadores em arenas.
A maior parte dos espetáculos sangrentos acontecem quando acompanhamos os combates brutais dos escravos lutadores, tudo para entreter espectadores sedentos por sangue e morte. Com isso, minhas partes favoritas se resumiram a cada competição. Mia tem seus motivos para ter que ousar e se destacar em meio a um cenário absolutamente letal, mas ela é muito boa nisso.
Aliás, nosso pequeno Corvo tem um desenvolvimento surpreendente. Por mais que Mia tente não se apegar ou não criar laços, essa tarefa se mostra impossível quando ela se vê convivendo com outras pessoas numa situação difícil. Ou quando ela necessita confiar para atingir os seus objetivos.
Com isso, surge o seu maior impasse: é possível deixar tudo de lado para considerar apenas a vingança? Porque afinal, tudo é apenas um meio para o fim. Certo? O mais interessante é que ela, mesmo tendo todos os motivos do mundo para ser fria, possui um grande coração, então acompanhar suas lutas internas, além de nos causar aflição, se torna uma das melhores coisas do livro.
Ainda assim, o mais surpreendente fica a cargo das inúmeras descobertas que temos. Não que o livro responda todas as nossas dúvidas, pelo contrário, ele formula ainda mais, mas as principais revelações são de coisas que a gente mal poderia imaginar. De uma coisa eu não tenho dúvidas, Jay Kristoff criou um mundo complexo habitado por personagens maculados e cinzas.