lorestairs 13/06/2021
.
Gostei MUITO do livro, a escrita do autor é boa e o universo criado é ótimo. Entretanto, tenho umas críticas a fazer, começando mais superficialmente pela quantidade de personagens desperdiçados durante a história. O Jay Kristoff criou um mundo mágico bem rico, são citados vários lugares interessantes durante a história, muitos personagens que "renderiam" um bom caldo. Basicamente, há muito o que explorar, e uma carga enorme de personagens que poderiam ficar responsáveis por mostrar esse outro lado, mas a narração é totalmente focada na Mia e todos os outros personagens são mortos assim que começam a brilhar. Entendo que o contexto da história pede isso, mas eu não sacrificaria uma visão mais geral e rica da história - que é algo tão importante.
No primeiro livro conhecemos personagens que prometiam, prometiam e prometiam. No final de Nevernight metade deles foram mortos, e em Godsgrave foram acrescentado outros e boa parte deles também foram mortos. Eu nem vou comentar da pobreza que foi a morte da Jessamine, a irrelevância que um personagem tão interessante quanto o Shiu teve durante esse livro (espero que isso seja corrigido no terceiro), a falta de informações sobre o Mercurio e os outros shahids, a falta de flashbacks dos pais da Mia. O autor criou uma série de personagens, citou seus nomes e suas origens, deu a ele um pouco de personalidade e depois os matou. E sinceramente, isso para mim foi um tiro no pé porque eles poderiam ser usados para abrir mais a narração e dá uma qualidade bem melhor e mais aberta a narração.
Minha outra crítica casa com a anterior. Apesar da escrita rica e bem desenvolvida, ela é muito fechada por conta da narração... e também da protagonista. Sim, da protagonista. EU AMO MUITO A MIA. Mas ela tem pouquíssimo desenvolvimento emocional, entendo que isso é porque ela tem uma demônio sugando um sentimento que é super importante para nós seres humanos, então é por isso que o autor deveria ter usado melhor os personagens secundários, para mostrar o lado da Mia que ele não pôde mostrar. Durante a leitura eu sentir que estava lendo os pensamentos de uma maquina, porque ela não se cansava, ela não chorava de tristeza, ela não expressava seus sentimentos da maneira correta. Era uma luta atrás da outra, e a disposição da Mia deixava tudo tão irreal para mim.
Vou usar como exemplo uma outra série de livros famosa: Trono de Vidro da SJM. Obviamente, a escrita desse autor é mil vezes melhor que a da Sarah, e o mundo dele também é bem mais rico. Mas é inegável o quanto a Aelin - Protagonista de TOG, entregou tudo o que podia e não podia no quesito de desenvolvimento. Foi desesperador ler o terceiro livro da série e ver o quanto a garota estava cansada, o quanto ela sentia e sofria absurdamente por tudo o que tinha acontecido, e no quanto apesar do medo ela seguia em frente. Então é muito mais fácil se apegar e sofrer por uma personagem que nem a Aelin, que cai e sofre como todos nós, do que na Mia, que cai e levanta e ganha luta atrás de luta e que se recupera numa velocidade assustadora.
A Sarah fez muita porqueira nos livros dela, mas ela acertou muito nesse quesito e na quantidade de personagens que colocou, observando tudo de todos os ângulos, dando ao público mais personagens para se apegar. É algo que funcionaria muito nas crônicas da quasinoite! Não consigo parar de pensar no quanto séria maravilhoso ter mais personagens explorando outros pontas da história - nem que o autor escreva mais livro sobre o universo, como a Leigh Bardugo fez no universo dela ao criar os corvos, explorando kertterdam, cidade que não explorou na trilogia principal. E com a falta de limitação sentimental desses outros personagens - já que eles não tem nenhum demônio sugando seus medos, vai ser mais fácil sentir o desespero da situação e sofrer mais com a história.
O final desse livro foi muito bom, e o autor recuperou a chance de fazer tudo do jeito certinho, espero que o próximo seja perfeito.