Laís Binek 12/08/2024
A escrita de Katherine Dunn é crua e poética, criando um equilíbrio perfeito entre o grotesco e o belo, entre a repulsa e a empatia.
"Geek Love", de Katherine Dunn, é uma obra fascinante e perturbadora que mergulha o leitor em um universo grotesco e excêntrico, onde a deformidade física se mistura a complexidades psicológicas de maneira visceral. O livro conta a história da família Binewski, um grupo de artistas circenses que, em um ato deliberado de perversão e amor, decide criar seus próprios "monstros" através de experimentos genéticos, usando drogas e outras substâncias durante a gravidez.
Al e Lil Binewski, os pais, são proprietários de um circo itinerante e, na tentativa de garantir o sucesso do espetáculo, decidem manipular a genética de seus filhos para que nasçam com deformidades. O resultado é uma prole bizarra e fascinante: Arty, o garoto com nadadeiras que se torna um líder carismático; Elly e Iphy, as gêmeas siamesas; Chick, o telecinético; e Oly, a anã albina que narra a história com uma voz cheia de amargura e lealdade.
Dunn explora com maestria temas como identidade, poder, manipulação e o conceito de normalidade. "Geek Love" não é apenas uma história de aberrações físicas, mas uma reflexão profunda sobre as aberrações emocionais e psicológicas que todos carregamos. A narrativa é imbuída de um humor negro e uma sensibilidade trágica que tornam a leitura ao mesmo tempo desconfortável e impossível de largar.
A escrita de Katherine Dunn é crua e poética, criando um equilíbrio perfeito entre o grotesco e o belo, entre a repulsa e a empatia. A relação entre os irmãos Binewski, marcada por amor, rivalidade e um senso distorcido de família, é o coração pulsante do livro, tornando-o uma leitura emocionalmente intensa e perturbadora.
"Geek Love" é uma obra que desafia as convenções literárias, forçando o leitor a confrontar seus próprios preconceitos e limites. É uma leitura que provoca e desafia, deixando uma marca indelével na mente de quem ousa embarcar nessa jornada pelos recantos mais sombrios e maravilhosos da condição humana.