David 06/02/2019
Uma aberração itinerante.
Senhores e senhoras, meninos e meninas, atencioso público, bem-vindos ao grande Circo Itinerante dos Binewski!
Não se engane com o título do livro, por mais que "Geek Love" possa remeter a uma história extremamente doce e suave, esse livro passa longe de possuir tal abordagem. No começo do livro, a autora explica que o "Geek" utilizado no livro não é o mesmo geek que conhecemos, a palavra era comumente utilizada para descrever circenses que roubavam todos os suspiros de seu público ao arrancarem a cabeça de galinhas vivas com os próprios dentes, disto isto, não podemos esperar nada de normal desse livro.
Geek Love é uma obra-prima, o livro aborda o grande drama da família Binewski, essa família conta com o mais variado leque de membros, indo de notas altas para notas baixas, é uma verdadeira demonstração do termo “diversificação.” Contamos com Aloysius "Al" Binewski, o pai e chefe de toda a família e circo, Crystal Lil, esposa de Al, Arturo "Arty", conhecido também como Aqua Boy / Aqua Man, o filho mais velho do casal, nasceu com nadadeiras no lugar das mãos e pés, Electra "Elly" e Iphigenia "Iphy", gêmeas siamesas, Olympia "Oly", uma anã corcunda de olhos cor-de-rosa e Fortunato "Chick" o caçula da família com poderes telecinéticos.
Geek Love possuí uma narrativa interessante, toda a história é narrada por Oly, porém essa narrativa é fragmentada em 2 espaços de tempo diferentes, em primeiro momento, Oly narra sobre o presente, comentando sobre a situação que sua vida se encontra atualmente e os problemas que surgem no desenvolvimento da história, e em segundo momento, sendo este o mais frequente no livro, Oly relata toda a história da família Binewski, narrando toda a ascensão e queda da grande família.
O tipo de escrita é simples, o livro não é dotado de termos complicados ou específicos, mas assim como sua própria história, não espere que a normalidade reine nessa horripilante obra. Geek Love pode ter uma escrita simples, mas a mesma é impregnada com palavrões, expressões grotescas e descrições extremamente bizarras em alguns momentos. Isso é um ponto interessante para se levantar sobre a leitura deste livro, ele pende em uma linha tênue sobre o "fácil de ler" e o "difícil de aceitar", a leitura pode ser fácil, mas definitivamente não é para todo mundo.
Durante a intensa narrativa de Oly sobre a família Binewski, é impossível negar um forte envolvimento com aquela história, ela te abraça e sufoca, de algum modo estranhamente bizarro, você fica fascinado por toda aquela exacerbação que é descrita em Geek Love. Uma das coisas mais interessantes é o "Orgulho Binewski", absolutamente toda a família Binewski possuí um GRANDE orgulho por ser “bizarramente especial”, principalmente os filhos (exceto Chick, mesmo sendo o mais especial), ao decorrer do livro é notório que absolutamente nenhum dos filhos trocaria sua bizarrice pela monotonia da normalidade, mas isso é ainda mais notável quando o assunto é Arty, ele é o grande ás do livro, uma pessoa extremamente manipuladora e cruel, mas acima de tudo, egocêntrica.
Arturo “Arty” é responsável por grande parte dos acontecimentos importantes em Geek Love, ele sempre possui um “dedo” de envolvimento em todos os grandes atos que ocorrem ao decorrer do livro, sendo extremamente importante na história de todos os personagens. Arty acaba por ser a ruína de Al, o algoz das gêmeas, especificamente de Elly, o ídolo de Chick e o deus de Oly, ele é uma figura extremamente importante, e sempre faz questão de deixar claro o seu grande repúdio e desprezo pelos normais, exaltando seus traços de bizarrice ao máximo, e sempre que possível, demonstra sua pseudo-soberania sobre o resto do mundo.
O desenvolvimento da história é totalmente cativante, prende seu fôlego a cada página, te envolve em um sentimento de pura euforia, você sente a necessidade de saber o que irá acontecer em seguida. Acompanhamos o amadurecimento individual de cada um dos personagens, percebendo a acidez escondida nas entranhas de alguns, e atribuindo a palavra bizarra a eles, mas não mais para sua aparência, e sim personalidade.
Sem mais, Geek Love é, sem sombra de dúvidas, uma obra incrível. É fascinante como o livro trabalhava um espectro totalmente novo do bizarro, como a visão de bizarro e normal pode ser totalmente variável, afinal, ser normal é bom? Se sim, por quê? A obra questiona absolutamente todos esses pontos, demonstrando que a normalidade nem sempre é bem aceita, tampouco a bizarrice rejeitada.
Ao terminar a leitura, me encontrei preso em um misto de sentimentos diferentes, eu não sabia se estava triste ou feliz com o final, não sabia exatamente o que sentir, mas tive a certeza de que queria mais, é isso que o livro te oferece ao término, o famoso gostinho de “quero mais”. O Fabuloso Circo Binewski é, sem sombra de dúvidas, uma bizarrice itinerante, mas totalmente cativante! Como reflexão final sobre o livro, me dei conta de que o mais bizarro de Geek Love não são as próprias aberrações que são apresentadas, nem os atos repugnantes e hediondos que ocorrem ao longo do livro, e sim a sua incrível capacidade de brincar com nossos conceitos de normal, bizarro, certo, errado e, acima de tudo, sobre o que é moralmente aceito ou não, afinal, quais os limites do ser humano, sendo ele normal ou não?
Recomendo fortemente essa leitura, se você achar que dispõem da coragem necessária para realiza-la.