jonasbrother16 18/01/2024
Escrevo esta resenha no primeiro dia do Oitavário pela Unidade dos Cristãos, deixo aqui os meus votos para que as diferenças religiosas, que causam tanta divisão e que em muitos casos arruinaram completamente a fé de muitas pessoas, sejam pacificadas.
Esse livro é bastante recomendado como material apologético para protestantes que se interessam pela fé católica, entretanto é preciso esclarecer uma coisa, que percebi em outras resenhas: o livro não é um compêndio de argumentos, nem um tratado teológico profundo. É simplesmente uma história. Argumentos e tratados mostram possibilidades de pensamento, interpretação, exegese bíblica. Uma história mostra uma possibilidade humana. Portanto o efeito deste livro é muito menos de convencimento do intelecto, e muito mais de mostrar uma narrativa possível. O livro tem argumentos, mas a propaganda faz mal em dizer que se trata de um livro que vai resolver questões teológicas que são às vezes extremamente profundas entre protestantes e católicos.
Este ano pretendo ler muitos relatos de conversões, e quero entender o que realmente acontece numa conversão, justamente nesse sentido de possibilidade humana, já que ao contrário do que queria entender Descartes, nós não somos "pensamento ambulante". Algumas conversões são como a de Scott Hahn, onde o comprometimento radical com uma coisa leva uma pessoa para lugares inesperados. Outras são muito diferentes, como a de Kimberly, que é desafiada a mudar a forma de pensar e crer. Outras ainda, como a de Peter Kreeft (que não está no livro, mas que ele narra numa palestra que está no youtube) são um punhado de dúvidas perenes e centrais, que só são resolvidas quando a pessoa conhece aquela religião. Em nenhum dos casos a pessoa está obrigada a resolver toda a Teologia sistematicamente, mas só é obrigada a resolver suas próprias questões.
É por isso que, sabiamente, Scott diz na introdução que este livro só trataria dos temas que eles mesmos tiveram quando passaram pelo processo de conversão. Ora, se toda pessoa fosse obrigada a entender toda a teologia de uma religião, para só aí poder se converter, ninguém jamais teria uma religião. É óbvio que, quando uma pessoa se converte, as questões que se resolveram foram só algumas: as mais importantes para ela. É por isso que me admira ver pessoas de várias religiões (entre católicos, protestantes, muçulmanos, e mundo afora) deslegitimando conversões por causa dos buracos teológicos que encontram no entendimento do convertido. A novidade, entretanto, é que TODO convertido tem buracos na sua teologia. Todo convertido é apenas um iniciante, alguém que "ouviu uma voz que clama no deserto", é preciso ter isso em mente. Além disso, se vamos mesmo deslegitimar uma conversão porque ela não resolveu todas as questões teológicas que estão implicadas na conversão, então vamos poder contar nos dedos quais são as conversões realmente verdadeiras. Por fim, ninguém usa desse mesmo argumento para criticar um convertido à sua própria religião, e todos costumam ser bastante indulgentes com este convertido. Então fica a lição: não critique ou despreze a religião do vizinho com um argumento que pode ser usado contra a sua própria religião. É um dos motivos pelos quais tantos se tornaram ateus ou secularistas "new age".
Mas falei mais do que pensava enquanto lia, do que do livro em si. É uma boa história, e de fato eu já vi muitas coisas parecidas acontecerem, nada ali me pareceu fictício. O processo também levou anos, o que amplia a gama de experiências que o casal vai encontrando no caminho e tornam a leitura muito interessante. O fato de ser uma coisa um tanto inusitada para a época ("líderes presbiterianos convictos se rendem à fé católica" seria uma ótima manchete de jornal) é claramente o "selling point", mas o livro também muitas vezes é inspirador, não parece querer criar animosidade entre os lados da questão, mas simplesmente contar uma história, o que também contribui para a sua popularidade. Muitos convertidos também caem no pecado de se converterem e depois ficarem falando mal da antiga religião. Falar mal de ex o tempo todo sempre é uma red flag, para usar o vocabulário da moçada mais jovem.
É uma leitura indicada para aqueles que acham que é inimaginável um protestante se tornar um católico. E este livro não conta o único caso.