LeonardoGS89 30/09/2022Humor ácido, sarcasmo e crítica social.Li esse livro no Ensino Médio, portanto, reler essa obra após anos foi uma baita alegria.
Para começar, essa edição de Brás Cubas está incrível, as ilustrações são a cereja do bolo, consegue nos fazer captar ainda mais a mensagem de cada capítulo.
Debochado, ácido, preguiçoso, melancólico, todo trabalhado em privilégios, esse é Brás Cubas que Machado nos apresenta: um ser bem mais ou menos, que se fosse hoje, estaria bradando sobre meritocracia por aí, uma pessoa que não teve êxito profissional, não casou, nem teve filhos... um homem da Corte, parceiro de Quincas (outro clássico) e com aval do Alienista (oi? outro clássico!) que dão as caras por essas memórias e alimentam os fãs da escrita de Machado.
A obra evidencia toda crueldade gerada pelo sistema escravista, que era oficializado e plenamente aceito na época, há uma passagem em que vemos o tratamento que uma criança escravizada poderia receber do Sinhozinho, o que causa bastante tristeza e repulsa ao nosso olhar atual: "Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia - algumas vezes gemendo -, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um 'Ai, nhonhô!', ao que eu retorquia: 'Cala a boca, besta'!"
Para mostrar como a escravidão era uma instituição social de trabalho compulsório complexa e de certa maneira flexível, o livro traz o exemplo de um ex-escravizado, que se tornou proprietário de escravo, o mesmo personagem Prudêncio, que tanto sofreu na infância, e tem uma passagem onde Prudencio está a chicotear o escravo e Brás Cubas cita o fato do oprimido virar o opressor.