spoiler visualizarLucas 24/12/2023
Our life as we knew it now belongs to yesterday ?
Comecei o livro sem muitas expectativas, mas logo fui arrebatado por essa história. apesar de ser fortemente inspirado em O Conto da Aia, a autora constrói para sua própria história um universo novo, mas que faz o leitor lembrar claramente de certos trechos da obra de Margaret Atwood.
a protagonista, a neurolinguista Jean McClellan, vive atualmente sob o regime do Movimento Puro, um movimento ultraconservador que pouco a pouco encontrou seu lugar na sociedade e simplesmente silenciou as mulheres dos Estados Unidos. agora, as mulheres não podiam mais trabalhar e suas palavras estavam limitadas a 100 palavras por dia: um contador em seus pulsos fazia o trabalho de limitação, desferindo choques que aumentavam de intensidade conforme a mulher continuasse falando após chegar na sua cota.
mais uma vez, uma obra onde os direitos e liberdades da mulher são cassados lança um alerta a respeito do que pode acontecer caso os movimentos ultraconservadores sigam crescendo exponencialmente mundo afora. desse modo, não apenas as mulheres são prejudicadas, mas toda a sua rede, inclusive os homens que vivem com elas. vale a pena ressaltar que a autora faz questão de deixar explícito no livro que sempre há sinais. por menor que sejam, eles estão presentes. foi possível observar isso aqui no Brasil.
além de lidar com esse movimento, Jean precisa lidar com a simpatia do filho pelo movimento que a enclausurou em casa, sem trabalho e possibilidade de falar. Steven por vezes foi um personagem odioso, que eu queria que passasse por algum tipo de situação que o fizesse cair na real e enxergar o quão nocivo era a realidade em que vivia.
apesar da realidade horrenda em que vive, Jean ainda encontra motivos para sorrir, sendo o principal a sua filha Sonia, e ser engraçada. por vezes eu tive que gargalhar porque a narração de Jean é muito boa. suas tiradas são muito, muito certeiras.
no entanto, a despeito de tudo de bom que eu falei até agora, uma coisa me incomodou: na reta final do livro a autora incluiu algumas cenas dentro do laboratório onde Jean foi recrutada para trabalhar que, na minha opinião, ficaram bastante confusas. não consegui entender o motivo daquelas cenas (a chimpanzé agarrando Jean pelos cabelos, as conversas com Lorenzo, o roubo dos frascos de soro, Lorenzo como refém de Morgan? tudo isso está na minha cabeça sem saber o porquê). além disso, tudo se resolveu muito facilmente no final. achei raso para a complexidade criada pela autora. ficamos sabendo o desfecho através da narração de Jean. ou seja, a autora nos contou através de sua protagonista em vez de nos mostrar. apesar disso, a experiência não foi comprometida por causa do fina fácil. não é um livro ruim, muito pelo contrário, eu amei esse universo e todas as sensações que a autora conseguiu me causar.