Amélia Mel 24/07/2022
A casa está à ruína, só o facho do farol entra nos quartos
Li o livro porque estava disponível na casa que passei minhas férias e sabia que é considerado um grande clássico da literatura.
De início levei um susto pelo ritmo lento e nada objetivo do livro. O capítulo I ?A janela? passa vagarosamente durante um dia na casa de férias dos Ramsey, uma família com 8 filhos e alguns convidados. Ninguém é apresentado na história de forma convencional, parece que tudo ocorre conforme o fluxo de pensamento dos personagens, e, a partir daí, vai se formando o enredo. Uma atenção especial é dada ao casal, em especial, a sra. Ramsey, que parece ser o pilar da família, uma mulher agregadora que as pessoas gostam de ter por perto e que se regozija de ser enxergada dessa maneira. Ela sustenta emocionalmente o marido, um intelectual vaidoso e inseguro, por quem parece ter muita admiração. Interessante que uma das características mais marcantes da sra. Ramsey é a sua beleza, mesmo tendo 50 anos, 8 filhos e uma vida dedicada à família. O clima, apesar de ser uma casa de férias com convidados, é austero, formal e melancólico. Outra característica dos relacionamento é o papel bem estabelecido entre homens e mulheres, embora, nem sempre bem aceito.
No capitulo II, ?o tempo passa?, alguns personagens falecem sem muita explicação. A narrativa é focada principalmente em elaborar o vazio e arruinamento da casa de férias devido as fatalidades ocorridas na vidas dos Ramsey.
O último capítulo ?o farol? a família Ramsey retorna à casa depois de 10 anos, com alguns convidados do primeiro capítulo. Dessa vez, o sr. Ramsey irá ao farol, fato que não aconteceu no capítulo I devido ao mal tempo. A relação com os filhos é um tanto desgastada, acredito principalmente que por um choque geracional, uma vez que os filhos não suportam o jeito autoritário do pai, tendo o caçula uma ojeriza silenciosa e corrosiva direcionada ao mesmo.
Virginia Woolf me lembrou Clarice Lispector por esmiuçar cada pensamento e até a alegria ter um ?quê? de tristeza. O livro me despertou melancolia, nostalgia e um vazio que não queria que tivessem acompanhado as minhas férias. Mas acredito que esse foi o objetivo da autora, e esta o fez de forma primorosa, original e com uma certa dose de chatice.