Jamile.Almeida 28/04/2022O limiar da inocênciaEnsaiei muito para escrever essa resenha, porque esse foi um livro que mexeu comigo, não pela história da reparação, mas pela complexidade e densidade psicológica dos seus personagens. Ian Mcwean disseca o cérebro deles, te apresenta por dentro, no mais íntimo escondido de suas mentes, com sentimentos e pensamentos que jamais seriam revelados publicamente.
Lógico que não são todos os personagens que nos são apresentados assim, mas os principais, a Briony... o que falar dela? O autor conhecia demais ela, muito mais do que os outros e fiquei me questionando o quanto a Briony era aquela menina ou um reflexo algo autobriográfico do autor do livro. Ele conhecia ela por inteiro e profundamente demais para não serem fundidos na mesma pessoas. Fiquei intrigada com isso durante toda a leitura da primeira e terceira parte... e por fim entendi o porque disso ter me chamado tanta atenção.
O livro não tem ponto sem nó... tudo que é descrito tem um porque, cada movimento dos personagens tem muito apelo visual, descobri depois que ele é roteirista de várias filmes e fez todo sentido. Como alguém consegue descrever um dia completo, de 24h de duração em metade do livro sem que você perceba que os dias não mudaram? Brilhante.
A segunda parte do livro é mais monótona, maçante.. é a guerra, não tem como ser diferente... é um purgatório injusto... penoso. E mais uma vez, para mim isso foi maestral do autor.
A terceira parte, poderia ser dividida em Briony adulta e idosa, na sua luta incessante de reparação pelo seu erro, não vou contar para vocês se ela conseguiu ou não, leia e seja perspicaz, quem ler correndo pode se perder e tirar uma conclusão errada. Quem conhece o autor sabe que ele gosta de criar crianças malvadas e macabras. Mas tenho para mim que Briony foi inocente porem inconsequente. Não acredito que o que ela fez tenha tido maldade, acredito que a transformação da vida infantil para adulta embaçou seus pensamentos e seus olhos. E quando ela notou o que fez, as consequências já eram grandes demais para conseguir voltar atrás.
O autor esbanja conhecimento literário e põe diversas referências ao longo do livro. Virou um dos meus livros preferidos da vida, bem escrito, bem amarrado, limpo, perfeito, só tenho elogios.