Bruna 29/08/2024
Como se sabe, esta é a obra mais famosa de Liev Tolstói (LT), grande escritor russo do século 19, um dos mais importantes da literatura universal.
Anna Kariênina (AK) é um drama com fortes e definitivas cores trágicas.
Através dele, LT discute várias questões cruciais do seu tempo: o vasto e profundo drama existencial da pessoa humana em seu ?ser de natureza?; a dinâmica ensandecida e enlouquecida da paixão; a hipocrisia de uma falsa burguesia que havia na Rússia do seu tempo na bipolaridade espacial Moscou - São Petersburgo, sobretudo nesta última; as profundas e inapeláveis contradições do império tsarista, manifestas sobretudo no gigantismo da burocracia estatal, na superficialidade dos nobres em seus casamentos de fachada, enlouquecidos pelas ?demoiselles?, moçoilas virgens e castas, sendo preparadas para a estupidez do aprisionamento através dos casamentos por interesse dos pais e familiares, na perspectiva exclusiva da ?mulher, objeto de cama e mesa?; o imenso fosso social que se dava nestes espaços urbanos em rápido processo de transformação; a onipresença da língua francesa nas camadas privilegiadas da sociedade russa de castas, língua universal dos oitocentos (uma pessoa relativamente bem instruída daquela época que não lesse e falasse fluentemente o francês era considerada ignorante, um ser de terceira categoria - este fenômeno fazia-se presente em todas as cortes europeias da época, inclusive no Rio de Janeiro tropiniquim); o anacrônico modo de produção feudal / servil em toda a imensa área rural da Rússia (maior país do mundo, atualmente com 17 milhões de km2), assim por diante.
Anna, a principal personagem do romance, possui uma personalidade extremamente complexa, profundamente frustrada em seu casamento com o alto funcionário público Aleksei, encontrando no conde Vrónski o grande amor da sua vida. Separando-se do marido e fugindo com o conde, paga um preço caríssimo por sua ousadia: nas duas cidades mencionadas, especialmente em Moscou, uma ?dama? separada naquela época era praticamente considerada uma prostituta, muito "mal falada" e malvista. Entretanto, tudo isso era pura hipocrisia, pois o objetivo principal de um belo rapaz, nobre russo do tempo de Tolstói, era exatamente casar-se por conveniência e apenas por isso; mas o segredo da felicidade mesmo era conquistar uma bela dama balzaquiana da sociedade, admirada e desejada por todos, mas que fosse casada - leia-se: que tinha experiência nos segredos e mistérios do amor. Em síntese, AK ousou desafiar esta lógica absurda, ridícula e hipócrita, e, por isso, pagou caríssimo por sua ousadia.
Os importantes personagens (casal) Liévin e Kitty representam o próprio autor e sua esposa; nesta relação, LT projeta seus dilemas e angústias existenciais de um homem que vivia aos ?tapas e beijos? com sua companheira de vida - com ela casou-se quando a jovem ainda era uma adolescente de apenas 17 anos e... tiveram 12 filhos.