Magda14 07/01/2023
"Úrsula" é sobre o amor entre a personagem título do livro e seu amado, Tancredo, e que sofre perseguição por parte do comendador Fernando P., tio da moça e um homem extremamente bruto e mau-caráter.
O centro da narrativa é claro que é o romance e a perseguição sofrida pelo jovem casal, mas o ponto que mais chama a atenção na história é a importância que a autora, Maria Firmina dos Reis, deu para a situação dos negros durante o período escravocrata. Penso que uma das passagens mais emblemáticas da narrativa, apesar de estar em um dos capítulos mais curtos, é a da narração de mãe Susana, africana, sobre a captura, transporte e venda dos escravizados. Reis não dá muitos detalhes sobre como isso se deu, fazendo uma narração bastante curta até (apenas 6 parágrafos), mas que podem ser considerados como um ato bastante corajoso se formos considerar que "Úrsula" é visto como o primeiro romance abolicionista da nossa literatura. Dar vez e voz aos negros em uma época em que eles eram silenciados é, sim, um ato de bravura, especialmente vindo de uma mulher, e mulher negra.
Apesar de romances românticos não serem muito do meu gosto, Maria Firmina conseguiu colocar na sua obra o gosto da época, que era meio sensacionalista (no sentido de busca por sensações emotivas). Quando estava lendo, por diversas vezes eu pensei: "nossa, parece que estou lendo 'Os mistérios de Udolfo' (Ann Radcliffe) de novo'". Isso porque a autora não diminui a mão nos termos relacionados às emoções. Era tanto açúcar, que, se eu demorasse um pouco mais na leitura, ficaria diabética! Isso, para mim, é um ponto negativo.
Então, esse livro é para quem gosta de histórias mais melosas, beeeem românticas, mas que também se interessam por temáticas revolucionárias. Isso porque nele estão contidos trechos de amizade e lealdade quase cegas, a ponto de levar um dos amigos à morte; mulheres que sofrem nas mãos de homens tirânicos; um romance jovial daqueles bem dramáticos, quase no estilo "Romeu e Julieta"; além, é claro, do ponto de vista dos excluídos (o que pra mim foi um fator positivo). Apesar de não ser meu tipo de narrativa preferido, não posso dizer que não gostei da história. Os aspectos negativos, para mim, são pequenos se comparados aos positivos (ainda que eles sejam relevantes).
Penso que Reis conseguiu atingir o seu objetivo, que era trazer um romance bem ao gosto da época, mas também colocando os negros num papel importante, e não como meros observadores ou como 'parte da mobília', como acontecia em algumas narrativas.
Enfim, recomendo a leitura desse livro maravilhoso.