Reccanello 19/01/2023Um gosto amargo.Sou obrigado a confessar um certo desconforto com este livro, porque, pela primeira vez, uma obra de Umberto Eco - um de meus autores favoritos - não me agradou.
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Apesar de militante de esquerda, isso nunca impediu Umberto Eco de ter uma visão crítica e límpida, de olhos abertos e atentos, para o jogo da política mundial, sempre apontando e denunciando abusos de ambos os lados do espectro político. Entretanto, neste livro, ao tentar dar uma definição atemporal do que seria Fascismo, acabou por lhe trazer características que podem ser utilizadas para identificar qualquer governo mais autoritário ou totalitário como fascista - desde o reinado de Gengis Khan, passando por Vlad Tepes, focando no Duce Mussolini e terminando no atual e patético ocupante da presidência de nosso país. As características que aponta são tão genéricas e tão amplas que é possível reconhecê-las em Stalin, Getúlio, Salazar, no prefeito da cidade vizinha, em minha mãe, ou em qualquer outro governante que, por antipatia ou interesse, a oposição deseje desqualificar. Assim fazendo, não apenas reforçou o hábito tão comum na esquerda de abusar da definição de Fascismo (utilizada para identificar tanto policiais violentos como comerciantes que elevam os preços dos combustíveis em momentos de escassez) como, principalmente, destacou o conceito como nada mais que um clichê, um chavão incoerente cuja única serventia é substituir palavrões mais chulos em atos públicos ou mesmo privados.