spoiler visualizarMariana.Oliveira 24/05/2020
Livro a ser lido em camadas
Méritos à parte, a obra instiga a curiosidade para se debruçar sobre as obras de Thomas Mann... o que esse escritor está querendo comunicar ao mundo com suas obras? Morte em Veneza, com certeza, não deixa claro! No decorrer da leitura tive a sensação de que ele queria transmitir algo que extrapolasse o que está escrito... Não sei precisar ao certo.
Outro ponto: não pude deixar de me lembrar de Freud nos trechos em que narra os sonhos, deveras eróticos, do nosso protagonista. Interessante notar que o psicanalista é contemporâneo ao escrito alemão.
Gostei de acompanhar o desenvolvimento de Aschenbach, que, apesar de seu ofício dedicado à arte e aos sentimentos humanos, inicialmente se mostra excessivamente retilíneo, metódico e não corrompível. Nota-se, inclusive, certo ar de desdém por tudo que seja, a seu ver, reles. Um notável descompasso com o 'Poema em Linha Reta" de Fernando Pessoa. Esse dado gera certo estranhamento, pois se espera dos grandes literatos o ar questionador do vanguardismo literário.
Enfim, impulsionado por uma vontade iminente de viajar causada por uma provável crise da meia idade, ele se dirige à bela e pútrida Veneza e lá se vê completamente apaixonado por um tenro garoto, que lhe representa a personificação do belo, do perfeito. Trata-se de um evidente amor platônico. Inclusive, o fato do velho nunca sequer se dirigir ao menino nos fornece substrato a crer-se que o amor nutrido pelo escritor nunca se pretendeu corromper pela realidade, mantendo-se no mundo ideal e incorrompível de sua imaginação. O que não me ficou clara foi a motivação que levou o escritor a se manter na inércia... Seria um medo de materializar um desejo tão abjeto como o amor pedófilo? Ou seria somente um ponto filosófico estratégico da obra?
Nota para releitura: Buscar elementos nietzschianos de Mann na obra, já que segundo tenho lido trata-se de exemplar de sua influência a contraponto à influência de Schopenhauer em "A Montanha Mágica".