Debora.Vilar 19/05/2019A Sociedade e o AmorA reverência à feminilidade e o culto a estética, marcam o estilo narrativo da história entre Paulo e Lúcia. Narrada na primeira pessoa pelo apaixonado Paulo, a obra apresenta um amor servil que tudo crer, espera e suporta.
Paulo é um jovem pernambucano que chega ao Rio de Janeiro (sede do governo), aos 25 anos de idade e, a primeira imagem que vê é a da bela Lúcia, no auge de sua juventude com 19 anos.
Nada mais natural que dois jovens se apaixonarem, e ficarem juntos, no entanto muitas dificuldades impediram desse amor de se concretizar de imediato. A dificuldade é devido o a posição social distinta que os apaixonados enquadram-se. Paulo é considerado um bom homem trabalhador, sem mácula conhecida no seu caráter e, Lúcia (puta de luxo), é uma mulher que vive à margem do respeito, é endeusada pelos homens (“de bem”) mas para o restante da sociedade principalmente, para as mulheres (esposas dos homens “de bem”) é tratada com desprezo; embora ser amante nessa época é uma prática tolerável (parece inacreditável que o Rio de Janeiro tenha sido um dia assim, tão conservador nos costumes ocidentais. – entretanto o moralismo persiste e, a malícia e preconceito continuam sendo atemporais). Tais perfis são incompatíveis demais para passarem desapercebidos, e isentos de julgamentos.
Tudo que Lúcia toca é detalhado como cândido e esplêndido (embora santidade não tenha muito haver com ela). Paulo crer em tudo que a amada lhe diga, inclusive que ofereceu seu corpo pela primeira vez aos 14 anos de forma iludida e, o fez apenas por necessidade de sustentar a família adoentada, e que o seguiu fazendo por anos porque já não tinha mais espaço em casa, por ter sido expulsa pelo pai depois de descoberto a sua fonte do sustento.
Entretanto a inocência relatada contradiz, com a descrição de mulher independente e avarenta apresentada no início da história. E que no desenvolvimento da trama, embora apresentar instabilidade emocional, é calculista planejando de forma astuta seu futuro. E apenas no final ressurge a mulher tranquila, que vive em um lugar discreto e humildade, onde pode recompor-se para ser ela mesma, sem os holofotes e julgamentos da sociedade; no qual a humilhação dá lugar ao empoderamento, e a extravagância retira-se para a simplicidade.
Para finalizar, até para a época é uma história clichê porém graças ao moralismo conservador foi considerado um sucesso e, até hoje é um romance que convence pela beleza estética, mesmo sendo ultrapassado e utópico o conceito de redenção pelo amor conjugal.