spoiler visualizarCarol 04/12/2021
"women are so hard to read"
eu fiquei totalmente enviesada depois de saber que José de Alencar simplesmente era escravocrata, e talvez esteja meio atrasada no rolê né kkkkk acredito que tanto Senhora como Lucíola retratam a mulher de uma maneira socialmente construída, a de que é um anjo caído, sempre prestes a encaminhar o homem para a perdição e à loucura
apesar de reconhecer que o relacionamento de Lúcia com Paulo ultrapassa e muito os padrões da época, era uma relação extremamente tóxica para ambos
em trechos como esse, cheguei a assustar-me tendo isso em vista:
"É verdade, tinha frenesi de matar essa mulher; porém matá-la devorando-lhe as carnes, sofucando-a nos meus braços, gozando-a uma última vez, deixando-a já cadáver e mutilada para que depois de mim ninguém mais a possuísse"
quase na parte final, quando Lúcia vai morar com Paulo e a irmã numa casa mais afastada e assume um papel mais "puritano" e "recatado", e coloca nas mãos do Paulo o encargo de cuidar da fortuna dela, pensei o quanto isso seria o retrato de uma utopia masculina... viver com a mulher em que ele deposita desejos sexuais, e que está assumindo uma identidade de "virgem indefesa" - aos olhos leigos -, foi o ápice de felicidade para Paulo, e vamos combinar que no fundo ele sentiu-se tão satisfeito justamente porque ela estava sob seu controle, seu alcance
para além disto, e pelas infelizes trajetórias que noto o autor traçar, tenho que tirar o meu chapéu para essa edição da Editora Moderna apresenta ao final uma breve biografia do autor, e aponta que o mesmo era uma pessoa considerada "difícil"... segundo D. Pedro II, um "homenzinho teimoso". típico incel do século XIX kkkkkkk
ademais, Lúcia é uma personagem interessantíssima, embora sob um ponto de vista masculino, que demonstra a ponta do iceberg
mas se melhor desenvolvida, com certeza seria uma das mais icônicas personagens da literatura brasileira - se não o é