Lina DC 20/05/2019"No jardim do ogro" é uma obra intimista e ao mesmo tempo traz uma crueza única sobre a protagonista do livro, Adèle.
Adèle é uma mulher de 35 anos de idade, jornalista, mãe de um garotinho chamado Lucien e casada com o médico Richard. Quem observa essa família, acredita que tem o retrato perfeito de uma família feliz e amorosa. Mas tudo não passa de um grande engano.
Adèle é uma mulher compulsiva, que tem a necessidade não apenas pelo sexo (apesar de poder ser chamada de ninfomaníaca), mas de uma necessidade avassaladora de ser inesquecível, importante, de ter homens aos seus pés. A protagonista não se satisfaz com a vida financeiramente tranquila e um relacionamento brando. Tudo o que Adèle deseja é ter uma vida ociosa, onde possa ser venerada. Como sua vida não consegue atingir os patamares de grandeza que ela tanto almeja, a protagonista sente esse vazio constante, que preenche com uma vida dupla repleta de sexo casual. É uma pessoa egocêntrica, que não consegue nem mesmo colocar seu filho como prioridade nas situações, muito menos o marido. Todos os enganos, encontros secretos e problemas são decorrência da necessidade de aplacar o próprio ego.
"Ela acha que não é o suficiente. Que essa vida é pequena, comezinha, sem nenhuma envergadura. O dinheiro deles cheia a trabalho, a suor e a longas noites passadas no hospital. Tem o gosto das reprimendas e do mau humor. Não os autoriza ao ócio nem à decadência." (p. 13)
O livro conta exatamente essa jornada da Adèle, os casos, os problemas e todas as mentiras que a protagonista enreda para conseguir aplacar suas necessidades. É uma obra com linguagem direta, um texto bem escrito e personagens caracterizados por suas falhas e obsessões, ou seja, personagens bem humanizados.
"Ela quer ser apenas um objeto no meio de uma horda, ser devorada, chupada, engolida inteira... Quer ser uma boneca no jardim de um ogro." (p. 07)